King Of My Heart

9º

SPEAK NOW

  Ainda não consigo acreditar direito no que aconteceu, fico deitada na cama pensando um pouco, abro os braços e fito o teto do quarto do hotel, é muita coisa para minha cabeça.
— Então vocês estão namorando agora?
— Não, Júlia.
— Estão saindo?
— Não.
— Se relacionando?
— Não.
— Estão o que então?
— Nada. Não tem nada acontecendo.
— Nem você acredita nas próprias palavras.
   Não interessa. Isso não pode acontecer, minha nossa, nem sei onde estou me metendo, nem o que estou fazendo, isso não pode ser verdade.
— Preciso pensar.
   Júlia bufa.
— Você pensa demais, e sempre que pensa faz a coisa errada, deixa o medo dominar.
— Isso não é verdade.
— É sim.
   Viro de barriga para baixo e enfio a cabeça debaixo do travesseiro.
— Eu só quero aproveitar minhas férias de um jeito normal.
— Mas você nem é normal, Theresa.
   Tiro a cabeça e olho irritada para Júlia.
— Não pode dizer uma coisa positiva?
— Seu cabelo está legal - ela sorri e eu reviro os olhos.

Eu não sou o tipo de garota que sai com gente famosa, passo o dia estudando, depois assisto vídeos de texturização no YouTube e estudo mais uma vez, e aí na única vez que tenho uma chance de me divertir me meto em uma dessas, conhecer um príncipe em um museu e achar que ele é um ladrão e depois sair com ele e por fim, ser beijada. Isso definitivamente não estava no meu itinerário ou em qualquer cronograma que montei.
Júlia da discussão para Ava para minha mente avoada durante o dia, falo com meus pais de noite e me sento para assistir televisão corredor com sofá que chamam de sala, ignoro a tagarela da Ju e assisto o jornal local.

— Hoje avistamos o cobiçado príncipe Benjamin com uma pretendente!

Cuspo o suco de laranja que estava bebendo e Júlia cai da ponta do sofá. Meu peito esta pulsando tão forte que vai sair do corpo, mas o que acontece em seguida quase me faz derrubar o copo.

— Quem não conhece a duquesa de FlowerTown? - a comentarista diz sorridente - esses dois já estão juntos a muito tempo, não é segredo que estão prestes a ficar noivos. Quanto tempo até o casamento?

Engulo seco.
Não sou eu na tela da televisão. Não. É uma mulher alta e bonita, tão elegante quando uma europeia pode ser, e olhando daqui os dois parecem perfeitos um para o outro, nasceram um para o outro.

— Tê...

Sorrio. Júlia está com cara de pena para mim.

— Está tudo bem - falo - eu disse que não era nada.

— Theresa - Júlia se senta ao meu lado - não precisa ser durona sempre.

— Não estou sendo durona, estou sendo realista.

Devo ficar aliviada. Agora acabou a palhaçada, acabou os palácios e as fugidas noturnas com um desconhecido e mentiroso. Cansei das mentiras também. Cansei!
   Me levanto e começo a andar para as camas.

— Vamos acordar cedo amanhã, vamos logo dormir.

   Tomo um banho e visto meu pijama, apago as luzes e deixo a janela aberta para a luz da lua entrar, Ju já está no décimo sono mas eu não consigo dormir, só consigo sentir um misto de sentimentos indesejados, só consigo lembrar do beijo, da tarde e então do jornal, um no fica na garganta mas me recuso a derramar uma lágrima, quem chora por homens sempre pareceu fraca no meu ponto de vista, deixar seu coração à mercê de alguém que pode destroça-lo e deixá-lo lá sangrando, expor seus sentimentos a esse ponto...não é junto com ninguém. Se apaixonar não parece justo com ninguém. Por isso não vou cometer tal injustiça comigo mesma.

   No dia seguinte recebo muitas mensagens e telefonemas do Benjamin mas recuso e ignoro todas, saio para comprar o almoço e quando volto o encontro sentado na minha cama, vendo os slides da tela do meu laptop, olho para Ju que está ao meu lado com cara de alguém que pede misericórdia.

— Ele ligou e conversou comigo - se explica - você deveria ouvir também.

   Faço cara feia para ela, depois olho para Benjamin que levante e ajeita a postura.

— O que quer? - vou direto ao ponto.

— Podemos conversar?

— O que acha que estamos fazendo? - sou rude mesmo, não estou nem aí.

   Benjamin engole seco, acho que as pessoas não consumam ser rude com ele, sua face se contorce em uma expressão de intriga e surpresa. É, ninguém é rude com ele.

— Não é o que está pensando - começa e eu cruzo os braços -, nem sabia porque não atendia minhas ligações, aí liguei para Júlia e ela me contou o que viu, mas não pode acreditar naquilo.

— Por que não?

— Não beijo uma mulher e noivo com outra - diz ofendido.

— Não te conheço, não sei do que é capaz.

   Isso parece afeta-lo. Benjamin fica calado, olha para o chão, parece magoado, mas quem devia estar magoada aqui era eu, e estou.

— Você me conhece sim. Sabe disso - parece uma criança falando isso. 

   Meu corpo relaxa um pouco, e meu coração amolece, sinto vontade de abraçá-lo e depois fico com raiva de mim por me deixar levar por um simples olhar.

— Não estou noivo - declara - nunca estive. Estou com você, Tessa.

    Minha armadura cai. Ninguém nunca soou tão frágil e dependente assim, meus ombros caem e eu suspiro.

— Não entendo - falo e Ben me encara -, por que?

— O que?

— Por que de todas as pessoas no mundo, você gosta de mim?

— Queria ter uma reposta lógica e rápida, mas não tenho. Ainda está brava?

    Abro um sorriso.

— Não.

— Que ótimo, porque quero te levar em um lugar.

— Onde?

— Surpresa.