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ENCHANTED

Estou deitada na cama mandando as fotos para meus pais, e Júlia está terminando de editar seu vlog para postar no seu canal do YouTube quando ligam para o nosso quarto, uma das funcionárias diz que tem alguém lá em baixo dizendo que tem algo que é meu, aviso que já vou e aviso para Júlia que estou descendo rapidinho.
Nem preciso chegar na recepção, o cara do museu está me esperando no corredor do primeiro andar.
— Esqueceu isso - diz erguendo minha agenda.
— Obrigada.
Pego a agenda e fabrico um sorriso simpático.
— Eu não roubei ela.
— Não pensei que tinha roubado, de qualquer maneira.
Fica um silêncio constrangedor.
— Já foi na feira cultural de rua daqui?
Nego com a cabeça.
— Não.
— Bom, se quiser, posso te levar.
Tem mesmo um gringo estranho me chamando para sair?
— Obrigado mesmo pela agenda - mudo o assunto.
Não que ele realmente pareça estranho, não, pelo contrário, parece peculiar, mas de um jeito bom, arrumado, alto, ombro largo, nada mau, porém, entretanto, todavia... eu nunca vi o cara em toda a minha vida.
— Tem tanto medo de mim assim? - coloca as mãos nos bolsos.
Insistente.
O encaro tentando decifrar se ele é um psicopata. Pele clara, cabelo loiro por baixo do boné, olhos meio escondidos com a aba...
— Não tenho medo de você.
Mentira, tenho sim.
Ele sorri.
— Nós aqui em Aurora confiamos uns nos outros.
— Nós no Brasil não.
— Você é diferente do que pensei de uma brasileira.
— Vou levar isso como um elogio.
— Tudo bem, vou aceitar seu não como sinal de medo e desaprovação. Adeus, Theresa.
Ele está mesmo pedindo que eu confie nele? Não estou acostumada com isso. Mas em compensação nunca um estrangeiro me convidou para ir em algum lugar, disse que eu era diferente, ou falou comigo, e a taxa de psicopatas em Aurora é pequena.
Antes de eu ir viajar meu pai me disse que era para eu me divertir e aproveitar para me aventurar, afinal, trabalhei duro para guardar dinheiro para viagem e tive muita sorte em ser sorteada, sem a revista, não viria para Aurora tão cedo.
Não acredito que estou fazendo isso.
— Tá. Te deixo me levar nessa feira. Minha amiga vai notar se eu desaparecer, de qualquer forma.

Não sei como devo me arrumar para sair com alguém, então tento pegar só a melhor roupa que trouxe e que seja confortável e saio, claro, antes digo para Júlia que vou dar uma volta e ela desconfia mas ignora. Não estou escondendo nada, só tentando adiar o ataque de drama da minha melhor amiga, quando eu disser que uma pessoa de outro país me convidou para sair.
Nesses meus dezoito anos de vida, não sai muito com pessoas do sexo oposto sozinha, acho que foram só dois garotos, um da escola, outro do acampamento de carnaval. Então quando saio do ônibus e dou de cara com um calçadão cheio de barracas com mini lojas, além de que assim que eu chego perto um homem de patins e guitarra já passa por mim cantando Gun's N Roses, me sinto intimidada.
Ben está de boné e óculos escuros, ele sorri e diz:
— Bem-vinda à feira cultural de JoinVille!
Olho ao redor admirada com tanta coisa diferente.
— Isso é...uau.
— Uau deveria significar que ..?
— Que eu gostei.
— Isso porque ainda não comeu o sorvete daqui.
— Sorvete, não é só...sorvete?
— O da barraca amarela é especial, feito em casa, com pedaços de frutas, de brownies, chocolate, caramelo...
— Agora estou ficando com fome - coloco a mão na barriga.
— Vem.
Acompanho Ben enquanto ele explica várias coisas da cidade, em uma barraca religiosa ele diz que existe uma santa que de acordo com a igreja católica proteje a cidade.
— Dizem que foi uma freira que morreu tentando salvar pessoas durante uma das batalhas do rei Henrique I - Ben pega um colar com a santa - ela morreu pelo povo que amava.
— Interessante, e muito triste. Deve ser difícil ter que colocar os outros acima de si próprio.
— É, é sim.
Continuamos a ver as barracas, olho para cima para ver se está tão sol assim para um óculos tão escuro quanto o do Ben.
— Está com conjuntivite?
— Não - ele segura a risada.
— Ah. É porque o sol nem está tão forte assim, na verdade, acho que vai chover.
— São óculos escuros com grau, perdi o meu.
— Usa óculos?
— Uso.
— Nossa, você não tem cara de quem usa óculos.
— Vou tentar levar isso como uma coisa boa.
— Gosto de pessoas com óculos, parece que são inteligentes.
— Sou muito inteligente.
— E muito confiante, aparentemente.
Paramos numa barraca de bijuterias, observou os colares feitos artesanalmente.
— Esse combina com você - Ben pega um colar com uma pedra pequena que parece ter uma galáxia branca dentro.
— É lindo - falo pegando da mão dele para ver.
— Agora - paga para a moça - é seu.
  Olho para ele.
— Obrigada.
  É a primeira vez que ganho um presente de algum cara que não seja meu pai ou meus primos.
   Estou olhando para Ben e ele para mim quando do nada começa a tocar uma música, olho para o lado e vejo que uma banda está do outro lado do calçadão começando uma apresentação.
— Vamos lá ver - falo já indo na direção.
This Town está sendo cantada por um homem ruivo de barba grande, a voz dele é muito bonita e as pessoas estão começando a fazer uma pequena plateia, olho para Ben e ele está com as mãos nos bolsos e parece estar prestando atenção na música, pego meu celular e gravo uma parte, aproveito para mandar para a Júlia e para meus pais.
A música está quase no fim quando Ben me chama.
— Muito bom né? - comento.
— Sim, mas precisamos sair daqui.
O encaro.
— O que? Por que?
Ben olha para os lados e depois para mim.
— Preciso que confie em mim - ergue a mão na minha direção, ela fica lá parada por um tempo enquanto penso no assunto.
— Não me faça me arrepender - seguro sua mão.
    Tenho que me esforçar para acompanhar o passo do Ben, ele é rápido e ter pernas longas, entramos em uma rua e depois em outra, viramos para um lado e depois para o outro, estou quase achando que estamos ficando perdidos quando Ben para de frente para uma porta e a abre.
— Entra.
— O que?
   Ele me puxa e faz sinal para eu ficar quieta, se agacha e começa a andar, quando percebo onde estamos o fito admirada, ele nos trouxe para um cinema, um daqueles antigos, tem um filme preto e branco passando e as pessoas nem percebem nossa presença, nos sentamos em duas poltronas e eu sussurro:
— Como fez isso?
— Segredo - tira o óculos.
   Sorrio e me viro para frente, para assistir o filme. No meio do filme acho que Ben vai segurar minha mão, mas em vez disso ele compra pipoca com um garotinho que está passando no corredor e me oferece, acho que já era querer demais que tudo fosse como nos filmes da sessão da tarde.
   Ficamos para assistir o outro filme também, é uma comédia antiga e eu dou risada toda hora e o Ben está relaxado na poltrona prestando atenção no filme, é quase como se ele tivesse ali pela primeira vez, chega a ser fofo.
   Depois de assistir os filmes vamos embora pelos fundos também, do lado de fora um carro preto nos espera.
— Chamei um Uber - Ben explica quando o olho confusa.
— Ah.
  Entro no carro e ele diz para onde ir, fico sem falar muito no caminho, estou pensando em tudo que aconteceu hoje, mas conversar dentro do ônibus, dar risada, ouvir histórias me fez feliz, por mais que não conheça Ben direito. Meus dedos tocam o colar, seguro a pedra e encosto a cabeça no vidro.
— Pensando na vida?
— Em você, na verdade - confesso e o olho -, obrigada pelo dia, foi muito legal.
— Achei legal também - ele sorri -, obrigado por tem confiado em mim, Theresa.
— Tenho tendência em fazer loucuras - brinco.
— Todos nós temos, Tessa.
Tessa? - arqueio uma sobrancelha.
—  É um apelido para seu nome. Não que seu nome seja ruim, mas...
— Eu gostei - falo antes que ele morra de vergonha - Tessa - repito -, daora.
   Olho para frente e noto que o motorista está usando palito, penso em perguntar algo para o Ben mas ele está digitando algo no celular e eu prefiro ficar quieta, talvez aqui precise de uniforme para trabalhar com Uber.
   O carro para na frente do hotel e eu tiro o cinto.
— Chegamos - falo.
— É.
— Obrigada de novo.
— Foi um prazer ter sua companhia.
   Sorrio e abro a porta, desço e olho para ele de novo, Ben é muito bonito.
— Tchau, Ben.
— Tchau, Tessa.

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   Estamos todas bobas com esse Ben, hein!    Eu já shippo, e vocês?

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   Estamos todas bobas com esse Ben, hein!
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