Parte IV

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Cansado de esperar pelo amigo Duque, Bidu sentou-se ao lado de uma pedra e repousou. Tanto havia feito naquela manhã! Cheirara cada tronco da rua, acuara para os gatos, dispersando a marcha promovida por Mingau que visava direitos iguais para cães e gatos. Duque estivera ausente, hoje era dia de banho no petshop. Parecia que todos os cachorros do bairro andavam sumidos. Talvez estivessem preparando uma festa surpresa para ele. Tratou de especular com a pedra.

- Cara pedra, por acaso soubeste de alguma festa surpresa que andam preparando?

- Ora, ora, quem resolveu puxar assunto. Pensei que ficaria o dia todo ao meu lado em silêncio. Eu, orgulhosa que sou, não diria uma palavra até que você se manifestasse.

- Corta essa! Hoje não estou para o seu sarcasmo. Já percorri todas as ruas e praças e não vi nenhum outro cachorro.

- Talvez estejam se escondendo de você. Ou de alguma outra criatura ainda mais assombrosa. Já pensou?

- Do que a senhora está falando? Sabe que não gosto de enigmas, os roteiristas reservam eles para as historinhas do Mister B. Se pudesse me ajudar, eu seria muito que grato!

- Até poderia, mas estou cansada! Tenho coisas de pedra a fazer. Tenha um bom dia!

Bidu usou do seu focinho para farejar algum conhecido, chegou a uma moita, ou seria o corpo de Floquinho? Já não mais sabia, nem mesmo seu faro apurado era capaz de definir a espécie daquele animal. Tentou puxar conversa, quando percebeu que latia para uma planta, Floquinho já estava longe dali. Decidiu, então, recorrer a um suporte técnico.

- Muito bem, Manfredo. Apareça, sei que você está com o roteiro em mãos. Pode me dar um spoiler e dizer o que se passa? Cadê os outros personagens? Nossa categoria entrou de greve e não me avisaram? Estão sem grana para pagar o cachê dos demais cães?

- Nada disso! Segundo o roteiro, esta história não é sobre você. E sim sobre a Dona Morte...

- Como? Me dá aqui esse roteiro, deixe-me ver. Você me contaria se estivessem planejando a minha morte, não é? Manfredo eu confio na nossa amizade.

- Não se preocupe, a Turma do Penadinho não está aceitando novas contratações, gasta-se muito com maquiagem e efeitos especiais por lá. Se você morresse não teria para onde ir. E acredito que seria quebra de contrato, você precisa checar com o seu agente.

- Farei isto! E fico mais tranquilo, até onde puder ler, vejo que volto para a casa do Franjinha. Nada de mal há de me ocorrer por lá. Agora trate de voltar para detrás dos quadrinhos! Não se pode dar confiança para estes ajudantes que eles já se acham estrelas...

Franjinha apareceu, como previsto no roteiro, e carregou Bidu de volta para o seu laboratório. O garoto passara a manhã perseguindo os cachorros dos vizinhos. Monicão, Duque, Radar, Zé Esquecido, todos tinham escapado. Restara ao jovem cientista uma terrível decisão. Teria de usar seu próprio animal de estimação como cobaia em seu mais revolucionário experimento. Tudo pela ciência, dizia para si. 

Fuga da MorteOù les histoires vivent. Découvrez maintenant