II

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Eu observava pela janela com grades da minha cela o lindo jardim que existia do outro lado da cerca. Venho o observando durante anos e ele sempre foi maravilhoso, as vezes algumas crianças brincavam lá, mas hoje ele estava completamente vazio, o que de alguma forma estranha me trazia paz.

O tal Doutor Dun viria me ver novamente hoje. Eu escutei os guardas dizendo que ele viria todos os dias, o que de certa forma, me deixava feliz, já que eu não podia conversar com ninguém na prisão.

Os guardas estavam se aproximando novamente, suas botas pisando duro no chão e as chaves balançando em seus bolsos. Logo, um deles abre a minha cela e novamente, coloca uma cadeira em minha frente.

O doutor se aproxima. Hoje ele estava com outro terno, desta vez, uma gravata borboleta estava em seu pescoço. Seus sapatos impecáveis igualmente seu cabelo, que estava puxado para trás, deixando seu rosto mais evidente.

- Bom dia, Tyler - ele me cumprimentou, sentando-se na cadeira. Os guardas saíram, quando ele fez um sinal com as mãos.

Dei de ombros, terminando de forrar o lençol em minha cama.

- Você gosta de arrumar a sua cama? - ele perguntou, tirando de sua mala um bloco de notas - Percebi que ontem ela também estava arrumada.

Finalmente, sento-me no colchão duro que ali na cama existia. Cruzo as pernas, encarando o doutor.

- Não existe muito o que fazer aqui, senhor. - falei, o observando.

- Por favor, Tyler, não precisamos usar tanta formalidade. Me chame de Joshua.

- Tudo bem, Joshua. - respondi e o vi sorrindo, se ajeitando novamente na cadeira.

- Então, o que você acha de camas? - perguntou, tirando uma caneta de seu bolso.

- Por que quer saber o que eu acho de camas? - o respondi, arqueando as sobrancelhas.

- Quero saber mais sobre você.

Fiquei fitando-o por alguns segundos, até que dei de ombros e respondi:

- Acho camas perigosas.

- E por que acha isso? - ele perguntou, anotando.

- Bem, nós muitas vezes nascemos em uma cama. Nossa cama é onde deitamos para dormir todos os dias, onde temos sonhos e muitas vezes pesadelos, também, é onde homens e mulheres fazem sexo e normalmente, a cama é o lugar onde ficamos quando adoecemos e então, inúmeras vezes, é onde morremos. - dei de ombros, o observando anotar - As camas fazem parte do nosso clico de vida.

Joshua coçou a garganta, terminando de escrever e me encarando.

- Pode ter algo a ver com o seu passado? - não entendi ao certo a pergunta - Digo, coisas ruins podem ter acontecido em alguma cama?

E então, me lembrei.

Me lembrei de seu corpo suado, da respiração pesada, dos gemidos abafados. Tudo aquilo me fazia querer vomitar.

- Não vejo porque meu passado iria te interessar.

- Tudo que você tem a contar me interessa, Tyler.

Continuei em silêncio, ainda o observando.

- Não tem nada a me contar?

- O que eu poderia contar? Já disse tudo que tinha a dizer no tribunal, nas entrevistas, já contei a minha história tantas vezes para inúmeros médicos... Não vejo porque tem de ser diferente com você.

O doutor, então, fechou seu bloco de notas e guardou sua caneta, se aproximando e me encarando no fundo dos olhos.

- Eu li tudo sobre você, Tyler, vi todas as notícias a seu respeito, ouvi inúmeras vezes a sua confissão e... simplesmente não bate. Não vejo como você pode ter sido acusado de inúmeros assassinatos, incluindo o assassinato do seu pai.

- Bem, eu confessei, não confessei? - perguntei, arqueando as sobrancelhas e me ajeitando na cama.

- Confessou, mas...

- Mesmo se eu contasse o que realmente aconteceu, você não acreditaria em mim, Dr.Dun. - o interrompi, encarando seus olhos.

- Experimente me contar. - ele retrucou, me encarando de volta.

Fiquei em silêncio por alguns instantes, pensei inúmeras vezes em realmente contar-lhe o que havia acontecido. Mas eu não podia abrir o jogo sem conhecer o jogador.

- Talvez outro dia. - falei por fim e o vi sorrindo, enquanto levantava-se.

- Talvez. - pegou sua pequena mala. aproximando-se - Até amanhã, Tyler.

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⏰ Última atualização: Nov 16, 2017 ⏰

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