Cat and Mouse

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O mapa já estava nas mãos de Luke, e apesar do mau desenho de Louis, era possível identificar o local da festa sem problemas. Dava para ir de ônibus, o problema era só a volta... Realmente precisava tirar sua carteira de motorista...
Diferente de como havia pensado, Michael não o procurara na faculdade o dia todo, nem mesmo no refeitório. Seu celular não tinha nenhuma mensagem nem ligação perdida... Afinal o que estava esperando? Um pedido de desculpas dele? Ah! Esperaria até cansar por isso.
O sinal da última aula tocou, liberando as turmas. Na porta da sala, Louis o parou antes de sair:
- Então, vai mesmo hoje á noite, né?
- Vou sim, pode deixar. Mas não vou ficar até tarde.
- Ah! Isso você decide só depois de chegar na festa. É só me procurar por lá, a casa dele não é muito grande mesmo.
- E todo mundo te conhece?
- A maioria, eu te garanto.
- Tem certeza que entrou na faculdade esse ano, né?
- A questão não é tempo, mas sim o quanto você consegue falar com as pessoas... Falando nisso se quiser pode levar alguém hoje á noite.
A imagem de Michael chegou a passar na sua mente, mas balançou a cabeça em seguida esquecendo-se disso. Se fosse com alguém, seria com um de seus amigos. Talvez Ash ou Arzaylea. Calum não parecia do tipo que curtia festas de faculdade.
- Vou pensar em alguém.
- Beleza, até de noite então.
Despedindo-se do novo amigo, Luke passou a caminhar pelos corredores com a mochila pendurada em um de seus ombros. Olhava a sua volta mesmo relutante, e ainda assim não vira Michael nem por um segundo sequer; alguma coisa estava errada. Ou ele não viera à faculdade, ou teve algum imprevisto muito grande para não vê-lo.
Na sua sala de aula, Michael batia o lápis na mesa inquieto, pensando quanto tempo mais levaria para suas aulas acabarem. Já estava cansado da ladainha desse professor velho e desmemoriado. Além disso, precisava falar com Luke, saber quem era aquele cara moreno andando com ele. Quanto mais pensava nisso, mais sua testa franzia, até fechar a mão com força partindo o lápis em dois.
O sinal tocou, por fim, e apressado, jogou suas coisas dentro da mochila correndo para a porta. Os olhos atentos procuravam pelos cabelos loiros e Luke, e chegou a vê-los próximo a saída. Apertando o passo, chegou a poucos metros dele, mas parou no instante seguinte, dando meia volta e se escondendo atrás de uma das pilastras do prédio. Ao longe avistava um dos caras que o haviam prensado nos fundos da faculdade anteontem. Se ele estava ali, não era para fazer uma visita amigável: analisava o local e as pessoas para preparar uma vingança; já conhecia o tipo, e se ficasse perto de Luke agora, o garoto seria envolvido no meio dessa palhaçada. Merda! Precisava falar com ele, mas ainda assim não podia colocá-lo no meio do fogo cruzado. Rangendo os dentes e cerrando os punhos, Michael nada pode fazer a não ser esperar pela saída de todos, e quem sabe, conversar com o loiro mais tarde.
Enquanto espreitava-se pelas pilastras, um de seus amigos de sala veio até ele:
- Michael pediram para te convidar a uma festa hoje a noite.
- Não to no clima.
- Quem morreu?
- Porra Zayn, eu não to a fim de sair hoje.
- Repito a pergunta: quem morreu?
Antes de desferir um soco contra ele, lembrou-se daquele homem rondando a faculdade, e talvez fosse mais prudente ficar longe de Luke por um ou dois dias, ao menos até desistirem desse assunto.
- Me dá o endereço dessa merda. – falou bufando em seguida, vendo a multidão de alunos terminarem de sair pela entrada. Luke já não estava mais lá.
No ponto Luke esperava o ônibus, como sempre, com seus fones de ouvido no máximo, até sentir leves cutucadas em seu ombro:
- Olá Luke!
- Lea, oi, tudo bem?
- Estou sim, e você?
- Tranquilo. Na verdade Arzaylea tem uma festa hoje a noite da faculdade, você quer vir comigo?
- Uma festa no meio da semana? Mas e as aulas? Luke você geralmente não faz esse tipo de coisas.
-É eu sei... – coçou a cabeça meio sem graça desviando o olhar da amiga – Mas um “amigo” insistiu muito, e como é só a primeira semana.
- Entendi. Mas hoje eu não posso, o time da Crystal vai ficar por duas semanas na cidade, e eu a chamei para ficar lá em casa.
- A Crystal parece ter se dado bem no mundo dos esportes, não?
- Ela disse que se conseguir se destacar no time pode ser chamada para a competição nacional.
- Nossa quem diria.
A conversa amigável continuou até o ônibus chegar. Subiram juntos e sentaram-se no fundo dele, aproveitando um pouco mais a companhia um do outro; fazia tempo não saíam juntos.
- Luke, posso te fazer uma pergunta? – indagou a menina com a voz gentil e inocente.
- Pode.
- Você tem ficado um pouco distante esses últimos dias, aconteceu alguma coisa?
Sim acontecera: Michael. O homem estranho que entrou na sua vida sem mais nem menos, e que agora ficava quase todo o tempo na sua cabeça. Era difícil admitir, mas sentia falta dele, das provocações, da fala mansa, das investidas... Até Arzaylea havia percebido sua mudança. Mas ainda era cedo demais para contar qualquer coisa a ela...
- Só... Ainda me acostumando com a faculdade, nada de mais.
- Se precisar, sabe que pode conversar comigo, ou com o Ash e o Calum.
Sorrindo para a amiga, ele se levantou ao chegar perto de casa, descendo do ônibus e caminhando pensativo. Chegou em seu quarto, sem nem perceber quando, jogando a mochila sobre a cama, espreguiçando-se. Tinha de procurar uma roupa para a tal festa.
Foi até seu armário, pegou uma blusa azul qualquer, calça jeans preta, e um casaco comum. Tomou um banho rápido, comendo alguma coisa que o irmão havia feito, avisando que chegaria tarde. Esperou pelo horário marcado, até finalmente sair de casa; ficar sem ter o que fazer mofando parecia ser a pior coisa do mundo. Enfiou o tênis colocando o mapa de Louis no bolso, tornando a esperar de pé no ponto de ônibus.
No meio do caminho ainda pegou seu celular para ver alguma mensagem perdida, mas nada. Procurando em sua agenda, parou sobre o nome de Michael fechando o aparelho em seguida; tinha de parar de ser tão dependente dele.
Longe dali, no templo, Michael estava jogado sobre o sofá da sala, usando apenas sua calça comprida, com um livro sobre o rosto; dormindo. Ouviu o celular tocando, e desligou o aparelho de imediato, tentando cochilar um pouco mais. Cinco minutos depois o despertador soou de novo, e dessa vez, sem paciência, o arremessou no chão para longe.
- Michael. – a voz de Ian o fez virar o corpo para dentro do sofá, ignorando-o.
O homem com olhos de raposa chegou mais perto dele, tornando a falar:
- Michael, já é noite.
- Me deixa em paz!
- Mas o senhor disse que tinha uma festa hoje a noite.
- Me acorda de noite então, cacete!
- Isso que estou tentando dizer: já é noite.
Um súbito silencio fez-se no cômodo, até o grito de Michael ecoar pela casa:
- MERDAA!!
Correndo para seu quarto, teve tempo para pegar uma muda de roupa qualquer, tomar uma rápida ducha, pegar suas chaves, e ir até o carro. Ligou o motor, procurando no celular o endereço da festa. Passou pelo número de Luke, e por alguns minutos, fitou a tela com seu nome. Mordeu os lábios segurando a vontade enorme de ligar para ele. Tinham ficado com o assunto mal resolvido, e isso estava o deixando louco. Mas agora não podia se preocupar com isso; por mais que quisesse o melhor era se afastar dele. Rodou a chave no painel pisando no acelerador e arrancando com o carro.
Já na tão falada casa, mal o horário da festa tinha começado, a música já estava alta, e as luzes animadas. Luke chegou à porta vendo-a aberta, aparentemente qualquer um podia entrar. Perguntou a um ou outro sobre Louis, e surpreendeu-se como realmente quase todos sabiam quem ele era. O encontrou na sala, depois de se perder em tantos cômodos diferentes.
- Sabia que você é famoso? – comentou ao chegar do lado dele.
- Foi como eu disse: é o jeito que você fala. – respondeu sorrindo.
- Então, essa festa é para comemorar o que mesmo?
- Nada, é só para todo mundo encher a cara mesmo! – rindo, Louis encheu seu copo de novo, tornando a falar com Luke – Então, trouxe alguém?
- Minha amiga não pode vir.
- Só amiga? – sorriu, batendo com o braço no ombro dele.
- É só amiga. Desde o colégio.
- Ah entendo. Nesse caso aproveita: o que não falta aqui é mulher solteira... Até as comprometidas também dependendo do caso.
- Bem, obrigado pela dica, mas eu não estou no clima pra isso.
- Só veio pela bebida então?
- Eu não gosto de beber.
- Como você viveu até hoje mesmo?
Rindo, Luke ficou a maior parte da festa conversando com Louis, e vendo como ele era requisitado pelos outros, apesar de não perceber em como grande parte da atenção da festa voltava-se para ele, e sua roupa um tanto quanto apertada; gostava desse feitio de roupas, não era como se quisesse ser notado. Volta e meia uma das tais mulheres que Louis falara o puxava do nada para dançar um pouco, e sem tempo para recusar, apenas seguia o ritmo, tendo um ou outro beijo roubado por elas, e nada além disso. Chegou a tomar um drink ou outro, mas nada muito forte. Olhou em seu relógio; ainda eram nove e meia. Daria mais um tempo até se despedir de Louis e ir embora. Essas festas da faculdade sem motivo algum pareciam ser entediantes... Talvez não o fosse tanto, se estivesse com alguém. Ah! Michael não saía mesmo de sua cabeça. Queria falar com ele, resolver de uma vez por todas aquela briga; quem sabe fazê-lo entender o que achava dessa situação toda. Perdido em seus pensamentos, sentiu uma mão tocando seu ombro.
- Ta tudo bem? – perguntou Louis vendo-o se assustar um pouco com ele.
- Eu to sim... Só um pouco cansado, acho eu.
- Não se animou nem com as suas diversas dançarinas querendo te levar pra um dos quartos daqui?
- Não que eu não goste dessa atenção toda, mas eu nem conheço elas.
- Ah saquei, você é do tipo romântico, né?
Dando de ombros Luke olhou em seu relógio mais uma vez. Não é como se estivesse evitando outras pessoas de se aproximarem dele, mas realmente, não gostava desses encontros relâmpagos. E Michael... Bom, ele era uma espécie de exceção... Estava gostando dele, mas ainda assim não tinham nada definitivo; era como se de certa forma estivessem tendo seu “primeiro encontro” até agora.
- Vem – falou Louis puxando-o pelo ombro – você precisa de ar, vamos até a varanda, lá não fica quase ninguém.
Acompanhando-o, Luke passou por mais um ou dois cômodos gigantes; aquela casa quase parecia uma mansão; até chegar em uma varanda pequena, na lateral da casa, próximo ao jardim sendo usado de estacionamento.
- Cara posso ser sincero com você? – perguntou Louis, deixando o outro confuso.
- Hã... Acho que sim... Pode.
- Ou você não sabe como se divertir, ou tem mais alguma coisa por trás desse seu rosto de mosca morta.
Sem graça, Luke virou o rosto apoiando-se na grade de ferro. Franziu o cenho, virando o olhar rapidamente para Louis; ele era um completo desconhecido, bom, pelo menos não era muito próximo dele, e era bem mais fácil se abrir com alguém que quase não se tem intimidade às vezes. Sentou-se na grade enfiando as mãos no casaco.
- Louis, posso te fazer uma pergunta meio... Pessoal?
Tomando um gole da cerveja, o outro o encarou respondendo em seguida:
- Manda.
- Bem, é que... Tem uma pessoa que eu não consigo nem por um decreto tirar da cabeça...
- Já se pegou com ela?
- Que?! – com o rosto vermelho, baixou sua cabeça, fazendo que sim em seguida.
- Só isso, ou já chegaram a transar?
- T-t-t-transar?! – suas bochechas ardiam ao lembrar-se das palavras de Michael naquele dia, e em como se imaginara na cama com ele – Não, é claro que não!
- Hmm. Entendo... E você ta a fim dela, ou algo do tipo?
- O detalhe, não é esse... – remexendo as mãos no bolso do casaco, visivelmente nervoso, ele juntou as palavras antes de poder dizê-las a ele – Essa pessoa, ela... É outro homem...
- Ah, entendi, você é gay?
- É claro que não! – esbravejou arqueando as sobrancelhas para ele- Eu já saí com outras garotas, já namorei uma vez... Mas ele se aproximou de mim e... Foi do nada, sabe? Continuou querendo ficar comigo, e mesmo ele sendo um homem eu não consegui afastá-lo, mas pelo contrário... Cada vez mais que penso nisso, só fico me perguntando o que eu sou para ele, e em como eu gostaria de saber como ele se sente...
- Você ta gostando dele, ué.
Luke o encarou, ainda perplexo com a calma que ele falava sobre o assunto. Parou para admirar as tábuas de madeira do chão como se elas fossem o objeto mais importante do cenário, pensando, ainda tentando relutar com esse sentimento... Mas até mesmo Louis havia percebido isso... Estava realmente gostando tanto assim de Michael?
- Mesmo que eu esteja gostando dele... – falou depois de um tempo com o olhar distante – Ele parece não se importar com isso, ou ainda: eu não sei o que se passa na cabeça dele...
Olhando-o por um tempo, Louis caminhou até seu lado, apoiando os cotovelos na grade, ficando virado ao lado oposto de Luke, olhando para os carros do estacionamento. Terminou de beber sua cerveja jogando a garrafa na lixeira próxima a eles, falando sem encará-lo.
- Eu sei como você se sente...
- Como?... – fechou seu casaco, tornando a por as mãos no bolso dele, baixando sua cabeça.
- Eu gosto da mesma pessoa há mais ou menos uns dez anos.
- Dez anos?! – repetiu surpreso, voltando-se para ele, que ainda olhava para o nada.
- Sei que é muito tempo, mas eu sofro do mesmo problema que o seu: não sei o que ele pensa sobre mim.
- Mas você parece sempre tão... Despreocupado, se divertindo nessas festas, saindo com diversas pessoas.
- Eu sou apaixonado, mas isso não quer dizer que eu não vou viver.
O silêncio pairou entre eles durante algum tempo. A música alta retumbava nos ouvidos deles, e mesmo assim, Luke sentia-se mais leve, como se tivesse tirado um grande peso das costas. Ouviu uma rápida risada de Louis, voltando a cabeça para ele.
- O que foi? - perguntou curioso.
- Nada. Só pensei que de certa forma a gente se completa.
- Hã?
- Sabe, eu gosto de uma pessoa que nem sabe que eu existo, e você ta saindo com um cara que nunca te disse se gosta de você... Acho que nós deveríamos criar um clube...
Os dois riram, conversando por mais algum tempo. Afinal, havia encontrado um bom amigo, alguém com quem pode desabafar sem medo. Tinha ficado um pouco curioso sobre essa tal pessoa que ele gostava, mas ainda não era hora de perguntar isso à ele.
Na entrada do bairro, Michael tentava achar o número da casa; mas com tudo mal iluminado daquele jeito era impossível de enxergar a distancia. Ouviu uma música mais alta ao longe, e viu uma casa mais ativa, deduzindo ser aquela; se não fosse, pelo menos aproveitaria um pouco. Procurou um lugar para estacionar e avistou outros carros entrando numa garagem na lateral da casa. Virou o volante seguindo-os procurando por uma vaga. Ajeitou o carro com cautela para não bater em nenhum outro devido ao pouco espaço, e finalmente desligou o motor.
- Luke! – gritou Louis jogando uma garrafa fechada para ele, ainda na varanda – Prontinho, estamos reabastecidos.
- Valeu. Não vai voltar lá para dentro?
- A conversa ta mais divertida aqui, além do mais, já saí com metade da festa, ia pegar mal o pessoal se espancando por minha causa.
- Você se acha de mais às vezes, sabia?
- É por que eu posso. – sorriu batendo de leve no ombro de Luke, fazendo-o descer da grade.
Eles riam agora um do lado do outro, olhando para a mesma direção, bebendo a cerveja, apesar das caras de desgosto de Luke pela bebida.
Saindo de seu carro, Michael terminou de fechar as portas, caminhando para a casa. Ajeitou o casaco, sentindo a noite mais fria, e chegando mais perto da varanda, pensou ter visto alguém familiar nela. Forçou a vista, podendo ver com mais clareza o cabelo chamativo de Luke, e sua face risonha junto da de outra pessoa: era ele, o cara com ele conversava de manhã na faculdade. Estavam juntos, naquela festa?! Porque Luke não o chamara?! Havia marcado de sair com ele?! Era sobre isso que falavam tão alegremente mais cedo?!
Cerrando os punhos, Michael apertou o passo, indo na direção de Louis. Quando o viu ao longe, Luke se surpreendeu ao encontrá-lo ali, mas não teve tempo de dizer nada: apenas viu o corpo de Louis ir ao chão com o soco vindo de Michael. Antes de cair, porém, segurou a gola de sua blusa colocando-o de frente para ele:
- O Luke é meu! – falou rangendo os dentes, jogando-o para o lado em seguida.
Arregalando os olhos, Luke pode entrar na frente dele antes que partisse para outro ataque. Ergueu o cotovelo até a altura de seu peito, empurrando Michael para trás até fazer suas costas baterem numa das pilastras finas de madeira da varanda.
- Você ta maluco?! – esbravejou encarando-o com as feições sérias.
- Esse cara tava na maior graça com você e eu que estou maluco?! – respondeu em seguida.
Louis no chão colocava a mão na frente da boca sentindo o gosto de ferro, cuspiu um pouco de sangue, limpando as laterais do lábio, sentando-se no piso de madeira, vendo os dois gritando, e agradecendo a música alta que evitava o escândalo.
- Você me vê conversando com um amigo, e parte pra cima dele desse jeito?!
- Vocês pareciam bem mais que amigos na faculdade mais cedo; ele tava quase te abraçando.
- Nós estávamos CONVERSANDO! Olha o que você fez com ele por causa disso!
Soltando-o, Luke foi até Louis, ajudando-o a se levantar, o que enfureceu Michael mais ainda.
- Vai ficar do lado dele?!
- O que você tem a ver com isso?! – falou erguendo a voz mais do que a dele, assustando-o um pouco – Eu também tenho meus amigos! Tenho o direito de falar com quem eu quiser! E que história é essa de “eu ser seu”?! Você não é meu dono! Nem teve a decência de me procurar antes de agora! Se estava tão preocupado, porque não me ligou?! Não precisava sair dando um soco na cara dele por nada!
- Por nada?! Você acha que foi por nada?! Ta foi mal se eu fiquei com ciúmes, não sabia que era proibido!
Antes de respondê-lo Luke parou com a boca aberta, analisando bem suas palavras. Qual foi a última mesmo? “Ciúme”?! Ele estava com ciúmes dele... Com Louis? Impossível!
- Luke... – falou Louis já de pé, sentindo o olhar desafiador de Michael chegando até ele nessa hora – Vai falar com ele. Vocês precisam conversar.
- Mas Louis, seu rosto...
- Eu to de boa, já levei surras piores, e eu sei que o grandão ali não fez por mal, né? – apesar de querer sorrir a dor o impediu, e mesmo que o fizesse Michael continuava a encará-lo com as feições sérias – Não foi nada pessoal, e se me derem licença, eu vou me limpar no banheiro.
Entrando na casa, e deixando os dois sozinhos, Louis subiu as escadas o mais rápido que pode, vendo o estrago no espelho; aquilo deixaria uma marca de manhã...
Na varanda os dois ficaram calados por mais algum tempo, apenas vendo os olhares de desaprovação um do outro.
- Ciúme? – indagou Luke voltando-se para ele.
Cruzando os braços Michael encolheu-se entre eles, tentando desviar seu olhar. Tinha falado mesmo isso? Foi por impulso, não era sua real intenção...
- Algum problema com isso? – rebateu tentando ver suas expressões de canto de olho, já que a situação havia chegado a esse ponto, não tinha nem como negar agora.
- Você sente ciúme... De mim? – perguntou ainda incrédulo disso.
- Eu já te disse, não foi? Eu to saindo com você porque to a fim; então isso é normal!
- Bater na cara dos outros por nada não é normal para mim!
Michael pensava em mil respostas possíveis para dar a Luke, mas antes de se atropelar nelas, lembrou-se que ainda estava em dívida com o garoto: tinham discutido ontem na sua casa por quase serem pegos, e hoje de manhã por ter “invadido” seu quarto. Apesar de tentar evitá-lo, ainda queria resolver tudo isso com ele, e mesmo querendo sair de cabeça erguida agora, sabia que adicionar outra briga só pioraria as coisas entre eles. Ah! Que droga de sentimentos confusos! Porque esse garoto tinha de ser tão complicado?!
- Ta eu já entendi, foi mal!
- “Foi mal?” – repetiu suas palavras, como se aquilo não fosse o bastante.
- É Luke, foi mal! Foi mal ter socado a cara do seu amiguinho... Foi mal por ter entrado no seu quarto ontem a noite sem você saber... Da próxima vez eu te faço um pedido por escrito... E foi mal por quase termos sido pegos por seu irmão... Se você não quiser fazer esse tipo de coisa na sua casa, eu fico na minha, ta bom assim pra você, ou precisa de um relatório mais detalhado?!
“Volta à fita... Espera um pouco...”Pensou Luke “Ele ta realmente se desculpando? Okay, tirando metade das piadas sarcásticas... Ele tinha se desculpado, não só por agora, mas pelo resto das discussões também?! Ele ta bêbado?...”
Apesar de não ser bem a resolução que Luke esperava, só de ouvi-lo admitindo isso, de vê-lo querendo concertar as coisas com ele, deixou-o extremamente feliz. Mas não iria contar á ele.
- Vê se da próxima vez pergunta antes de bater...
Michael bufou jogando o cabelo para trás concordando com ele.
- E também vai se desculpar com o Louis. – completou.
- Hã?! – exclamou o outro – Ta brincando, né?
- Ta vendo sangue em volta da minha boca? Acho que não, né. Amanhã você fala com ele, e pelo menos pede desculpa.
Levando as mãos até a cabeça, e bagunçando os cabelos, com sua paciência sendo testada até o limite, respondeu:
- Se eu fizer isso você promete que cala a boca e para com toda essa palhaçada?
“Gentileza zero...” Pensou o loiro, mas ainda assim sabia que havia ganhado alguns pontos naquela noite, poderia deixá-lo passar com essa. Concordou com a cabeça, vendo-o soltar os braços do lado do corpo, balançando-os no ar. Não demorou muito para chegar mais perto dele, quase o prensando na grade de ferro da varanda.
- Estamos bem, então? – perguntou só pata ter certeza.
- É... Acho que sim... – falou tentando desviar o olhar dele, já sentindo as bochechas começarem a arder, sabendo onde aquela conversa daria.
No minuto seguinte, a mão de Michael segurou seu queixo, erguendo-o até a altura dele, aproximando sua boca devagar, até finalmente, beijar-lhe os lábios, deixando a língua aproveitar o sabor dele. Foi chegando seu corpo mais perto, até sentir a mão de Luke no meio de seu peito o afastando, antes de aprofundar mais a carícia.
- Tem muitas pessoas aqui... – falou o garoto, já com a voz mais baixa, envergonhado.
- Meu carro ta no estacionamento. – comentou com o sorriso de sempre, deixando o outro sem jeito.
Luke engoliu seco, mas também sem retrucar a ideia dele. Olhou para o jardim procurando por seu carro; não estava longe. Respirou fundo, acenando que sim com a cabeça para ele em seguida.
Puxando-o pela mão os dois foram caminhando pelo gramado. Podia ver o ar de satisfação rodeando Michael naquele momento, como se tivesse saído vitorioso, por fim. Ele havia mesmo se desculpado com ele... Não era uma solução definitiva para suas perguntas, nem ao menos conseguia sanar suas dúvidas com isso. Mas saber que ele tinha ciúmes, saber que se importava mesmo que só um pouco com ele, era o bastante naquele momento...

Lucky Cat • Muke • LarryWhere stories live. Discover now