Michael já estava nos corredores da faculdade esboçando o sorriso vitorioso na face. Sabia que Luke não era fácil de lidar, apesar do pouco tempo que o conhecia, mas ainda sim ficava contente quando conseguia dobrar o garoto e ver o quanto ele também queria essas coisas. Não estava andando tão rápido quanto de costume; há essa hora já teriam no mínimo, dormido juntos umas três vezes, mas tinha que ter paciência afinal ele era inexperiente em relacionamentos com outros homens. Relacionamento? Ah! Fala sério! Só tinham se pegado algumas vezes, aquilo era um passatempo; precisava de algo para fazer no seu tempo livre e Luke era diferente dos outros; era um desafio.
Puxando um maço de cigarros do bolso ele se pôs do lado de fora do prédio já vazio devido ás aulas que recomeçavam. Ascendeu um deles admirado com seus próprios feitos. Tragou a fumaça algumas vezes deixando-a sair pelas narinas. Ardia um pouco, mas era uma sensação gostosa. Baixou a cabeça passando a se lembrar de alguns afazeres inconvenientes. Teria de voltar ao templo para realizar a cerimônia... Isso era um saco! Detestava quando tinha de assumir essas responsabilidades inúteis. Se pudesse já teria passado o cargo para outro.
Deixou a metade do cigarro cair no chão pisando com o pé em cima dela logo em seguida apagando a brasa. Pôs as mãos no bolso da jaqueta e estava prestes a retornar para a tediante aula, quando uma sombra parou na sua frente encarando-o.
- Há quanto tempo, Michael. – falou o homem estranho e careca á ele. Segurava um bastão de beisebol e logo ás suas costas podia-se ver mais quatro juntando-se á ele.
- O que um merdinha como você faz aqui? – implicou Michael com o sorriso sarcástico na boca.
- Esse merdinha veio te ensinar a não se meter na vida dos outros.
- Desculpe, mas eu nem me lembro direito de você, pode ser mais específico?
- Não se lembra?! – esbravejou descendo o taco de beisebol para a lateral de seu corpo – Você, seu filho da puta, sacaneou com o nosso trabalho, e acabou com o comércio que fazíamos! E ainda por cima transou com a minha irmã!
- Bom vamos ser sinceros aqui: em primeiro lugar seu negócio já estava falido antes mesmo de eu me meter, porque, venhamos e convenhamos, tráfico de informações do nível que você vendia era simplesmente uma piada, se parar para pensar eu te fiz um favor, e sem segundo lugar, sua irmã não foi a melhor das coisas que aconteceu na minha vida, foi outra a quem eu também prestei um grande favor afinal ninguém queria comer ela mesmo. Então se parar para contar, você está em dívida comigo. – sorriu.
Sem pensar duas vezes o homem ergueu o bastão partindo na direção de Michael enquanto os demais acompanhantes dele ajeitavam-se á sua volta fazendo um círculo e o encurralando.
Quando sentiu a movimentação Michael, primeiro, desviou do golpe já desferindo uma cotovelada no pescoço do atacante devido a posição desfavorecida na qual se encontrou depois da investida frustrada. Caiu segurando a garganta e com falta de ar.
Nisso os demais foram juntos para cima dele. Dentre um soco e outro Michael recebia alguns golpes, porém ainda estava na vantagem. Há! Ironia: tinha agora de agradecer as aulas de luta que recebera no templo desde pequeno.
O líder do grupo continuava estirado no chão, mas aos poucos foi se levantando. Segurou com força no bastão esperando por uma oportunidade. O desgraçado era rápido e esguio como um felino, mas uma hora deveria baixar sua guarda. Os outros quatro tinham problemas em acertá-lo e quando o faziam ele apenas ria como se gostasse de apanhar, ou ainda: como se sentisse prazer dentro de uma luta. Queria a todo custo arrancar aquele sorriso de seu rosto.
Num momento rápido viu a oportunidade: quando ele segurou os punhos de dois de seus companheiros suas costas estavam livres para um novo assalto. Ergueu novamente o bastão carregando-o com todas as suas forças e num rápido movimento golpeou suas costas fazendo-o soltar uma longa tosse conforme caía no chão sendo amparado pelas mãos e evitando assim uma queda mais brusca.
Michael havia se descuidado por um momento. Nem percebeu quando o outro já se levantava. Pensou que tivesse desmaiado. Ah! Aquilo ia doer de manhã, pois suas costas já apreciam estar pegando fogo. Que saco! Tinha de dar o troco neles. Mas ainda assim o ar lhe faltava para conseguir fazê-lo e foi quando recebeu um chute na costela, sendo arremessado um pouco para longe e caindo de vez.
- Me chame de merdinha agora, seu bosta! – gritou o homem cuspindo perto dele.
- Merdinha... – falou Michael rindo apesar da dor e recebendo outro chute. Aquele tinha doído.
- Você é um desgraçado, filho da puta! Como consegue rir desse jeito depois de apanhar tanto?! É masoquista por acaso?!
- Meu humor... Fala mais alto nessas horas... Merdinha.
Michael sentiu outro bico em sua costela encolhendo um pouco o corpo. Merda. Tinha de se levantar e bater, mas muito naquele cara.
- Nesse caso... – o careca falou pegando o bastão e o colocando no ombro – Se você não se afeta pelo físico vamos ver como se sente quando mexemos com outras coisas.
Ele fez sinal para que outros dois se aproximassem deixando Michael intrigado e continuou.
- Tragam até aqui aquele garoto loirinho que estava com ele mais cedo.
Num baque Michael arregalou os olhos. O sorriso sarcástico murchou junto com aquela frase. Pôs as mãos no solo erguendo-se depressa e num pulo já estava segurando a gola da blusa do careca levantando seus pés um pouco do chão. O homem assustado tentou golpeá-lo com o bastão, mas Michael segurou a madeira e a lançou para o outro lado. Pedir ajuda desesperado e quando um de seus companheiros se aproximou Michael empurrou-o colocando a palma da mão em seu rosto o fazendo se afastar.
Voltou o olhar agora amedrontador para o homem fazendo um intenso frio caminhar por toda sua espinha. Deixou a voz rouca sair assustando-o mais ainda:
- Nunca, em hipótese alguma, pense em encostar um dedo sequer nele... Ou eu quebro cada parte da sua patética existência até virar farelo.
Estalando os dedos Michael cerrou o punho dando um único e preciso soco em seu rosto, vendo o sangue voar e alguns dentes caírem ao lado do corpo inerte e estirado no chão. Rodou o tronco para encarar os demais os vendo recuarem. Um deles pegou o líder e então correram dali o mais rápido que puderam empurrando-se como ratos acuados.
Quando os perdeu de vista Michael deixou os músculos tensos e doídos relaxarem, sentando-se rente ao tronco de uma árvore. Pousou a mão no local onde havia sido chutado sentindo um espasmo dilacerante percorrer seu interior. Ainda assim as costas reclamavam mais ainda. Aquilo deixaria marcas por um bom tempo.
Tentou puxar o maço de cigarros do bolso e depois da sexta tentativa em que soltou um urro de dor ao erguer o braço, desistiu deixando a mão apoiada na perna.
Eles o estavam perseguindo desde cedo; provavelmente desde a hora em que saiu do templo. E o desgraçado o tinha visto com Luke, merda! Precisava tomar mais cuidado de agora em diante. Parou por um segundo para por em ordem seus pensamentos. Porque tinha agido dessa forma? Afinal não era costume seu importar-se tanto assim com alguém. Ta estavam saindo e tudo mais, porém ainda assim, se tivesse dado cabo daqueles idiotas, ou nem se importado com a frase dele, teria saído dessa situação sem causar nenhum dano a Luke ou a ele. Mas... Quando pensou em vê-lo metido em toda essa confusão, algo em seu peito ferveu, mesmo sem saber ao certo o que. Merda! Queria ver o garoto agora, mas sabia que ele protestaria por estar no período de aula, e também não queria aparecer na frente dele arrebentado como estava. Bufou sentindo outra onda de agonia e com esforço se levantou e pode finalmente sair dali.
A aula daquela tarde estava entediante. Já era quase três horas e o intervalo parecia não chegar nunca. Fala sério, aprender a usar as funções básicas dos programas de edição Luke já sabia de cor e salteado. Espreguiçou-se um pouco olhando para a janela em seguida. Parou no meio do caminho ao ver um bando de desconhecidos correndo para fora da faculdade carregando alguém no colo deixando-o curioso. Tornou a voltar sua atenção para o professor de fala mansa. Era quase como se suas explicações fossem canções de ninar.
Enfim a hora tão esperada chegou. Cada aluno recolheu seus pertences indo em direção a saída. O primeiro dia tinha acabado sem nenhum problema, quer dizer, teve uma pequena distração quando se encontrou com Michael no banheiro, mas aquele não era um lugar para se ficar pensando nisso.
Desceu as escadas com a mochila pendendo em um dos ombros e a outra mão enfiada no bolso. Nenhum de seus amigos estava por perto, então resolveu ir para casa, pois tinha ficado cansado. Parou por um segundo olhando á sua volta. Procurava por alguém, quem era mesmo? Ah! Michael. Merda! O rosto de Luke ficou vermelho de imediato e envergonhado saiu dali o mais depressa possível. Tinha mesmo feito isso? Parado na frente da faculdade como se fosse uma colegial esperando pelo namorado?
Hmm. Os dois não tinham uma relação assim. Era uma coisa mais, sei lá, física. Ao menos da parte de Michael. “Ei espera.” Pensou o loirinho “Mas se é só da parte dele isso quer dizer que eu...”
Ah isso não! Era impossível! Conhecia o cara a menos de um mês, não poderia estar gostando dele, e mesmo que estivesse, sabia que Michael não era desse tipo, afinal, seu ego jamais o deixaria agir dessa forma, como um besta apaixonado por ele. Seria melhor acabar com essa ilusão.
- Ah! Mas eu não gosto dele! – falou para si bagunçando o cabelo.
- Não gosta de quem? – Luke virou-se no susto vendo um homem de cabelos castanhos atrás dele. Tinha uma boa quantidade de gel em seu cabelo, mantendo-o para trás e o mais estranho ainda as tatuagens em seus braços.
- N-nada não, com licença. – falou tornando a caminhar.
- Ei espera garoto! – ele segurou seu braço fazendo Luke parar – Você estuda na mesma sala que eu né?
- Estudo? – parando para pensar agora ele se lembrava de um cara esquisito feito ele sentado na frente da turma – É acho que sim...
- Ótimo! Eu tava precisando me enturmar com alguém, meu nome é Louis. – soltou-o esticando a mão para ele.
- Prazer Luke. – respondeu apertando sua mão.
- Beleza Luke, qual é seu telefone?
- Hã? – assim de repente? Ele era outro impulsivo.
- Pra eu poder falar com você se tiver alguma dúvida, você não faz isso não?
- Ah! Sim claro! Aqui.
- Valeu. Eu preciso ir agora, me chamaram pra uma festa, a propósito não gostaria de vir não? Vai ser divertido.
- Valeu, mas estou cansado.
- Fique tranquilo, a primeira semana é assim mesmo, mas se você só ficar estudando vai fritar o cérebro. Além disso, essas festas são ótimas pra conhecer pessoas.
- Sério, vou deixar para a próxima.
- Okay, você quem sabe, afinal festa por aqui tem de sobra. Até amanhã.
Despedindo-se do “novo amigo” Luke decidiu por andar até sua casa. Estava com vontade de caminhar e pensar um pouco na vida, ou melhor, em Michael.
Era estranho se ver numa situação dessas. Poderia dar conselhos se fosse outra pessoa, mas como se faz para tirar as dúvidas de algo assim? Não é como se pudesse falar sobre isso com qualquer um. Queria um amigo no qual pudesse confiar a esse ponto; não que Arzaylea, Ash ou Calum não o fossem, mas tinha medo de como eles reagiriam.
Além das dúvidas de como se portar queria saber o que se passava na cabeça de Michael, ou melhor, se ele também pensava tanto assim nele.
Nem percebeu quando chegou na porta de casa. Falou com Ben alguma coisa na cozinha enquanto pegava um lanche rápido, mas logo foi para o quarto. Queria espairecer um pouco, talvez jogasse algo no computador e depois, cama.
Longe dali Michael entrava em um grande templo numa parte mais afastada da cidade. Os arcos brancos na entrada tinham mais de dez metros de altura. Os muros chegavam a sua metade, com estátuas adornando-os de cada lado. Sua parte externa era repleta de árvores e flores, adornando o local. Na parte dos fundos uma imensa casa escondia-se atrás de um portão onde Michael agora atravessava. As portas de papel dela eram bem desenhadas e bonitas. A madeira imitava um aspecto antigo, porém sofisticado. Ao retirar os sapatos na entrada viu uma figura para diante dele.
- Aconteceu alguma coisa Michael?
- Nada de mais Ian. – respondeu.
- Mas e essas feridas? – o homem de cabelos pretos e olhos azuis permanecia com a mesma expressão em seu rosto, era de certa forma amedrontador.
- Uma briga nada de mais, para de me encher com perguntas.
- Simon está na sala e gostaria de falar com você.
Michael bufou esfregando o cabelo. Sem se importar com a sua aparência nem um pouco apresentável atravessou o grande corredor chegando a sala de recepções. Viu Simon sentado no sofá lendo alguma coisa enquanto ajeitava seus óculos.
- Michael eu... – disse ao vê-lo, porém parando no meio da frase quando encarou seu estado – Entrou em outra briga, não foi?
- Não eu fiquei com vontade de me mutilar pra passar o tempo. – respondeu sorrindo.
- Deveria tomar mais cuidado. Como herdeiro do clã você tem de se preservar.
- Como seu eu não soubesse. – ao se sentar no sofá Michael fez uma rápida cara de dor devido ao movimento brusco – Desembucha, porque veio aqui?
- Porque é minha responsabilidade cuidar de sua segurança e dos seus afazeres desde que seus pais se foram.
- Oh, sério? – ironizou vendo Simon bufar.
- Michael, falo sério. Suas ações recentemente têm causados problemas para o clã e nossa empresa.
- Eu não fiz nada de mais, só cuidei das pessoas que queriam estragar os negócios.
- Admito que eles realmente mereciam isso, afinal estavam roubando de nós, mas ainda sim, criar inimigos não é saudável.
- Se o sermão já acabou eu vou tomar um banho e me deitar.
- Michael, por favor, tenha mais cuidado da próxima vez.
Ignorando-o Michael chegou até o chuveiro deixando a água quente aplacar a dor de suas feridas. Tentava se mexer o menos possível até resolver afundar na banheira. Já mais relaxado passou a entreter sua mente com pensamentos de Luke. Devia admitir reservar bastante tempo para isso. E gostava quando o fazia. Lembrar das reações dele quando o tocava, das suas feições quando se envergonhava, de prazer. Tudo era novo, pois jamais tinha dedicado tanta paciência a uma só pessoa; e era esse ponto a parte mais sensível dele.
Aproximar-se tanto de Luke e querer tanto ficar perto do rapaz era de fato um sentimento novo e assustador. Sua cabeça ficava tonta ao seu lado, o cheiro dele o inebriava, além do corpo. Mas de certa forma era algo, além disso, mais do que sua forma física. Talvez se fosse qualquer outro já teria deixado de lado há muito tempo.
Deixando a água bater em sua testa Michael afundou mais na banheira esquecendo-se de tudo por alguns minutos. Ao sair enrolou uma toalha na cintura sentando-se na cama de seu quarto. Puxou uma calça qualquer reclamando dos roxos que agora apareciam sobre a pele. Deitou com uma bolsa de gelo nas costas. Estava sem vontade de ir a um médico, queria apenas se esquecer desse dia, e do quão idiota tinha sido naquela briga.
Quando abriu os olhos já era de manhã. Ergueu o tronco sentindo a fisgada nas laterais do corpo e o resto, bom, estava todo doído. No espelho do banheiro Michael via com mais clareza os cortes no rosto. Colocou alguns bandaids sobre eles, pois não eram muitos, e enfaixou as outras feridas passando uma pomada antes. Tomou alguns analgésicos e partiu para a faculdade assim mesmo.
Dessa vez Luke tinha acordado mais cedo. Chegou à sala de aula vinte minutos antes já se sentando perto da janela no fundo, como de costume, desde o ensino médio. Apoiou a mão no rosto bocejando; tinha de se acostumar com esse novo horário.
Chegou a ver Louis entrando na sala com olheiras enormes, mas preferiu não falar com ele, pois pela sua cara não prestaria muita atenção mesmo. A festa deveria ter sido boa.
Já no intervalo o loiro pode conversar melhor com Arzaylea e os demais. A amiga parecia estar gostando muito da faculdade, divertindo-se nas aulas. Ash dizia ser difícil, mas estava se esforçando e para Calum, como sempre, parecia ser a coisa mais fácil do mundo.
Estranhou, porém quando não viu Michael em nenhum momento. Será que tinha acontecido alguma coisa com ele?
Passou o resto do dia um tanto quanto avoado, e mais ainda preocupado. Da última vez que Michael tinha sumido assim fora por causa de “problemas particulares”. Talvez fosse isso, ou então ele simplesmente não quis vir à aula.
Seu último professor acabou por faltar e sua turma foi liberada mais cedo. Arrumou suas coisas dentro da mochila e já estava no corredor quando sentiu um braço envolvendo seu pescoço.
- Sentiu minha falta, Luke?
O loiro chegou a soltar um rápido suspiro de alívio pela presença de Michael e já ia responder-lhe e tirar sua mão de seu ombro, quando reparou nos machucados em seu rosto.
- Michael, o que aconteceu?! – exclamou preocupado e sem perceber passando a mão de leve sobre os machucados.
- Nada de mais eu to bem.
- Como assim “nada de mais”? Como isso aconteceu?!
- Já disse que não foi nada, foi só uma briga.
- Briga? Por quê? O que você fez?!
- Eu?! – esbravejou pondo uma das mãos em seu peito – Só porque teve uma briga não quer dizer que eu comecei ela!
- Então me conta o que houve!
- Porra Luke! Para de se meter nisso!
O loiro arregalou os olhos depois de sua última explosão dele. Baixou a cabeça depois de alguns segundos virando um pouco o rosto para o lado.
- Tem razão... – disse quase sussurrando – Isso não é da minha conta, desculpa.
Virando seu tronco rapidamente Luke caminhou de costas para Michael o mais apressado possível. Suas dúvidas tinham sido sanadas: os dois não tinham nenhuma relação nem nada, e seu direito de saber algo era nulo.
“Ah! Merda!” Pensou Michael depois do que tinha dito. Se contasse alguma coisa para Luke ele o ficaria enchendo de mais perguntas, não que quisesse esconder algo dele, mas precisava de mais tempo para explicar melhor as coisas. Nem queria ter explodido desse jeito, mas e agora?! Se o deixasse ir embora seria pior!
Trincando os dentes Michael só pode pensar em agarrar o braço de Luke e o puxar para longe dali. Cheio de reclamações e apertando o pulso do maior tentando fazê-lo parar - sem sucesso - o loiro o acompanhou, forçadamente, até uma sala pequena e vazia. Antes de qualquer protesto foi prensado na parede pelas fortes mãos de Michael e logo tinha seus lábios juntos do dele. Tentou empurrá-lo e até mesmo fechar a boca fazendo os dentes se baterem, mas o maior não o deixava, segurando seus pulsos e sendo forçado para trás por sua cintura. Depois de algumas investidas deixou finalmente o beijo ser completo.
De início Michael tinha sido um tanto quanto violento, mas depois suas mãos foram o soltando e ao invés de prensá-lo com mais afinco, seus dedos acariciavam sua cintura, sem descer nem subir muito enquanto a outra mão tocou de leve seu rosto fazendo um sutil carinho nele; era a primeira vez que se beijavam assim, de forma tão romântica e sincera.
Ao soltá-lo Michael pousou sua testa na dele e a mão no rosto segurou seu queixo.
- Seu eu não quero falar é porque não quero que você se preocupe com meus problemas. – disse encarando-o nos olhos.
Um pouco envergonhado Luke virou as íris para o outro lado. Nunca tinha sido tratado assim por ele, nem tinha visto toda essa sua honestidade. Sorriu no segundo seguinte deixando Michael intrigado. Era engraçado como o maior não sabia expressar direito como se sentia e ao mesmo tempo o fazia sem perceber.
- Que foi? – perguntou Michael curioso arqueando uma sobrancelha.
- Nada... Só pensei que você sabe ser, sei lá... Fofo às vezes.
- F-fofo?! – indagou o outro com as maçãs do rosto avermelhadas, e fazendo Luke gargalhar de novo. Era bom o provocar de vez em quando.
- Se não quiser falar tudo bem. Só tenta ficar longe dessas confusões.
Michael bufou ainda com a testa junta da dele, mas agora segurando sua cintura com ambas as mãos.
- Eu fico, mas elas insistem em me perseguir... Esses caras... Queriam porque queriam brigar, e me encurralaram, não dava pra simplesmente “fugir” e eu nem gosto disso.
Olhando-o assim de perto Luke pode se lembrar das brigas na escola. Era quase a mesma coisa: ele mesmo nunca tinha procurado por uma luta, mas sempre acabava metido nelas por conta de sua aparência e sua atitude mal encarada. É, talvez fosse errado mesmo julgar Michael de forma tão precipitada.
Afastando-se um pouco de Michael ele o encarou melhor deixando seus corpos um de frente para o outro.
- Me deixa ver? – perguntou Luke segurando a barra de sua blusa.
- Sério Luke, já chega desse assunto eu estou bem.
- Você foi ao médico por acaso? - engrossou a voz.
O silêncio foi sua resposta definitiva e bufando o loiro viu as faixas mal colocadas tampando quase nada dos pequenos cortes e das marcas arroxeadas em seu peito. Não chegou a notar muito bem suas costas - também porque Michael o impedia disso, sem saber o porque. Mas isso era sem importância agora.
- Michael isso ta feio, você tem de ir ao médico pra ver se não teve nenhum problema.
Bufando o maior respondeu.
- Ta, ta bom, eu sei disso, só tava cansado ontem.
- Vem comigo então.
- Você não precisa ser minha babá Luke, eu sei andar até o hospital.
- Idiota, meu pai é médico. Eu vou te levar a até ele.
- Nossa que conveniente! – sorriu, já mudando o humor – Quer dizer que eu posso ser tratado por seu pai e depois, você pode cuidar de mim, né?
Michael tentou chegar Luke para mais perto, porém o menor tampou seu rosto com a palma de sua mão empurrando-o, deixando uma sutíl veia de raiva pulsar na testa dele.
- Sem gracinhas. Agora vamos.
- Ainda tenho aula hoje.
- Porque estava no corredor da minha sala então?
- Fui ao banheiro, ué.
- E nos encontramos por acaso?
- Acontece! – ao rir Michael chegou a colocar uma mão na lateral do corpo fazendo uma expressão de dor em seguida, preocupando Luke.
Os dois foram até a sala de Michael para pegar suas coisas e enfim saíram.
- Vamos. – falou o loiro segurando sua mão ao abrir a porta, um impulso involuntário de quando carregava seus irmãos ao cuidar delas - Perder uma aula não vai matar você, mas ficar andando por aí desse jeito vai.
Por um instante Michael tinha deixado a expressão de seu rosto mais calma, apesar de Luke, por estar na frente dele e de costas, não ter visto. Pensou em puxar sua mão quando saíram, mas era uma sensação boa ser mimado dessa forma por ele, e segurar sua mão assim, em público, deixou-o... Como dizer? Feliz? Sim: caminhar ao lado de Luke daquela forma despreocupada e inocente tinha feito uma explosão de alegria dentro dele. Por impulso apertou seus dedos fazendo o outro se voltar para trás.
- Que foi? – perguntou Luke com a cabeça virada para ele.
- Nada. Vamos indo.
Michael parou ao seu lado e ainda de mãos dadas os dois foram caminhando para fora da faculdade sem perceber os olhares os encarando.
- Michael... – comentou Luke com o rosto um pouco vermelho.
- Sim?
- As pessoas estão olhando... – falou já puxando a mão, porém Michael a segurou com mais vontade sorrindo para o garoto.
- Deixa... Só mais um pouco?
A expressão serena e acima de tudo sincera na face Michael deixou Luke sem resposta nenhuma. Aquele cara ou era um ator muito bom, ou só sabia demonstrar como se sentia falando as coisas sem pensar. A segunda opção era a mais válida.
- Só... Só mais um pouco... – respondeu extremamente corado vendo o sorriso de Michael se espalhar pelo rosto.
Apertaram o passo para saírem logo da faculdade. Por sorte as pessoas por ali eram poucas já que estavam no meio do período de aulas.
“Você é um cara muito complexo, Michael...” Pensava enquanto ainda andavam de mãos juntas. “Gostaria de saber... Eu quero saber o que mais você esconde.”
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Lucky Cat • Muke • Larry
FanfictionEra fim da noite, Luke chegava em casa como de costume, preparando-se para um novo ano na faculdade. Até encontrar em meio a sujeira da cidade um gato branco perdido... °•○* Esta fanfic não me pertence *○•°
