Capítulo Único

34 1 0
                                    

Daniela nunca esteve tão perdida em seus pensamentos. Com olhar vago na passagem dos carros, ela esperava que o trem desse partida, ou melhor, chegasse ao seu destino. Com trapos de uma mísera camareira, ela escondia suas voluptuosas pernas com uma longa saia, além de botões até o pescoço. Muito distinta.

Iria encontrar Robson, seu grande amigo.
O sinal de desembarque fora acionado e ela, muito ansiosa desceu a plataforma de madeira. Era uma cidade simples, embalada pela constante névoa em meio aos chapéis escuros e sombrios.

Daniela não se importava com isso, seguiu seu caminho. Saindo do tumultuado andar de sapateados, ela parou num banco de madeira na frente de uma igreja. Muitos diriam que era uma santa que rezava ali.

Retirou através de um botão descasado, do meio dos seios um pequeno papel, amarelado e repleto de grafia rústica e grosseira com nanquim. Abriu cuidadosamente, como se fosse um doce e leu novamente. Ela já não esboçava o mesmo sorriso e ele já não era o truque perfeito em seu coração. Sabia o segredo, não importava.

Pegou o mesmo papel e guardou na bolsa. Levantou-se pomposa, levando o olhar arrastado de um rapazote viril.

Entrou por uma viela comprida e charmosa com barrocos e artes em gesso.

Ao longe, o avistou. Um homem de porte fino em trajes medianos. Mas o que a encantava era sua firmeza, no andar, no ser e delicadeza ao falar com ela.

Robson não media esforços para tal. Ele simplesmente agia assim.

Estava fumando lentamente. Percebeu que ela se aproximava e lançou um olhar para a moça, que ria por dentro. Uma confusão de sensações borboleteavam o interior dela. Daniela se aproximou de Robson e não cessando o olhar sobre ele, o fez mirar em seus olhos.

Ela não tirou sua visão de sobre aqueles olhos castanhos que buscavam algo nela, mas não sabia o quê.

- Mr. Robson.

Semblante sério, mas com voz macia, estendeu a mão para ela, que pondo a sua sobre tal, sentiu um beijo de lábios frios em pele.

- Obrigado por vir. Srta Daniela Marones.

Voltou seu olhar a ela, mas logo desviou. Daniela sorriu rapidamente e disse-lhe:

- Parabéns pelo seu noivado. - Disse, a medida que um sorriso sutil surgia no rosto de pele macia.

Robson quase engasgou com a fumaça, mas não expressava a notícia com alegria. Ele realmente estava disposto a não casar com alguém sem ter amor, porém o manufaturamento era um bom negócio.

- Obrigado. - Respondeu após se recompor.

Alguns pássaros haviam se juntado próximo aos dois, comendo alguns pedaços de pães que uma senhora jogava.

Robson fitou a donzela e disse:

- Porquê não me responde mais as cartas?

Daniela deu uma voltinha, observando e formulando uma resposta mais agradável.

- Desde que fiquei sabendo do seu noivado, percebi que fui tola em acreditar em tuas júrias de amor. Não passo de uma diversão.

Ele ajustou o chapéu na cabeça.

- Então não sabes quais são minhas intenções com Srta. Marluce Rachior.

A camareira negou.

- Srta. Rachior será meu investimento. - Robson completou.

Daniele olhou bastante surpresa.

- És mesmo um oportunista e mesquino! - Tamanha indignação se mostrava viva dentro dela.

Mr. Robson começava a transparecer um certo nervosismo pela forma como acendia o seu fumo.

- Creio que está errada sobre mim. - Tentou falar calmamente. - Não amo Srta. Marluce.

Daniele começou a mover os braços de forma irritadiça.

- Eis aí o que estou a dizer! Tu amas o dinheiro e estás prestes a casar com ele.

O cavalheiro deu um suspiro e se aproximou da donzela. Daniele continuava com uma expressão tensa e firme nos pássaros próximos dali. Libertou-se dos devaneios quando ele segurou levemente seu pulso esquerdo. Instintivamente levou o olhar para aquele semblante cheio de compreensão e calma.

- Eu a amo.

A camareira perguntou repetidas vezes dentro a si mesma se aquilo era um sonho. Mas Robson estava ali, à sua frente como tantas outras vezes.

Suas pernas vacilaram um pouco e ele a segurou firme, penetrando o olhar em seu rosto.

Ela queria evitá-lo, precisava ser forte. Não queria expor a outra ao ridículo. Sabia perfeitamente como Marluce se sentiria caso o plano operasse.

Mr. Robson não distraiu-se de forma alguma, o caminho lento só lhe indicava um destino: pousar os lábios nos de Srta. Daniele, e ela, ofegante parecia nervosa, o que o fez parar a centímetros do rosto da camareira.

- Não.

Não soube decifrar o que via no semblante dela. Medo, irritação talvez?

Uma palavra fez todo o corpo do homem estremecer. Srta Daniele virou o rosto em contrapartida ao momento que ele tanto desejava.

Foram os dez segundos mais confusos que ele vivera.

Foram os dez segundos mais angustiantes para ela.

O mesmo silêncio que venera os mortos, que acompanha as lágrimas, que se junta às madrugadas e que reina no devanear da imaginação, imperou sua deixa.

Deixando que o solitário dominasse as palavras não ditas, Mr Robson não disse nada, apenas sentiu. E como sentia! O calor dentro de seu peito, se endurecia como um vaso de barro em um forno, e o que apenas lhe resultava por final, fora a dor da rejeição.

Aos poucos uma muralha de ar cresceu entre os dois e quando ela, finalmente sentiu o vento gelado soprando em seu corpo, virou o rosto para vê-lo uma última vez partir, e nunca mais voltar.

- - -

Obrigada por ler até aqui!

¡Ay! Esta imagen no sigue nuestras pautas de contenido. Para continuar la publicación, intente quitarla o subir otra.

Obrigada por ler até aqui!

Fico grata por compartilhar mais um conto, espero que tenham amado ler, assim como amei escrever "A Outra".

Um beijo no coração de vocês, até a próxima aventura (ou desventura)!

A OutraDonde viven las historias. Descúbrelo ahora