Capítulo 21 - A melhor parte de Nova Iorque

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– Me desculpa, Finn. A culpa é minha – Ela soluçou, e eu não respondi nada. Não porque eu realmente achava que a culpa era dela, mas porque não sabia o que dizer. – Eu só queria passar um dia sem os remédios. Pensei que não faria tão mal, fui tão estúpida...

 Ela parecia estar conversando com sua própria consciência, como se estivesse dando uma bronca mental nela mesma. Então olhou para mim. 

– Você deve estar querendo me matar agora.

Eu balancei a cabeça, negando, e a soltei, embora sua mão continuasse segurando na minha por cima do lençol branco. Eu apertei seus dedos, entrelaçados nos meus, sem olhar para ela. 

– Você estava tentando se matar, então acho que não precisa de mim para fazer isso.

 Houve alguns segundos de silêncio. Ela respirou fundo. 

– Você ainda está com raiva de mim, não é?

 Olhei para ela por um instante e pensei na resposta. Eu estava? Acho que não. Com certeza tinha muitas coisas passando pela minha cabeça naquele momento, mas raiva não era uma delas, então neguei, balançando a cabeça. 

– Não. Só fiquei tremendo até o cérebro com medo que você não acordasse. 

 Ela riu, culpada, olhando para o lado e mordendo o lábio inferior, balançando a cabeça. 

– Que romântico.

– Eu que o diga. O que sua mãe disse?

– Ah, ela quer me matar. A sua também, aparentemente. Pelo menos nós vamos ser mortos juntos.

 Mesmo sabendo que a minha mãe queria me matar depois de tudo aquilo, o pensamento me fazia sorrir. Eu sentia falta das broncas da minha mãe, e sinceramente, levar uma bronca por fugir de casa no meio da noite por dias é muito, muito melhor do que qualquer outra coisa que podia ter acontecido. Eu não conseguia parar de sentir que Marjorie tinha escapado por um fio, e talvez fosse porque aquela era a primeira vez que eu observava de tão perto uma coisa daquelas. Marjorie provavelmente estava acostumada a escapar por um fio: aquela era sua vida desde os 12 anos. E agora era a minha, também, de certo modo. 

 – Podemos ter funerais em conjunto, então. Isso seria legal – Tentei, e ela semicerrou os olhos, como se estivesse pensando na ideia seriamente.

– A gente podia ser enterrado com roupas combinando, tipo uma dupla country, sabe?

– Quer me ver enterrado com uma roupa de cowboy só porque sou de Ohio, garota da cidade? 

 Ela riu e tentou me empurrar, mas seus dedos estavam tão leves no meu ombro que eu mal senti o toque.   

–  Que apelação, Johnston. Sabe que é um garoto da cidade agora, né? 

 Eu olhei para ela e balancei a cabeça, sorrindo. Então ela parou de rir e sua feição mudou completamente.

– Nosso funeral country em Ohio vai ser legal, mas primeiro temos que voltar para casa, e eu ainda não sei como – Marjorie admitiu, o olhar perigoso em seus olhos tão forte quanto antes.

 Lembrei do que tinha que contar a ela e uma onda de animação me fez sentar na cama junto com ela, enquanto eu balançava as mãos como uma garota fangirl de 12 anos. Marjorie me olhou com os olhos arregalados como se aquilo fosse mais assustador do que quase morrer. 

– Como é que eu esqueci de dizer? Nós conhecemos The Plain Stalkers!– Eu contei, e ela arregalou os olhos ainda mais, sua boca aberta em total surpresa. – Sim, eu sei, foi incrível! Eu vou te contar, Marjorie Summers, não gosto muito de garotos mas Blake Winston... aquele cara é tão bonito na vida real quanto naqueles seus pôsteres idiotas.

Marjorie e os 12 PorquêsWhere stories live. Discover now