Uma noite louca

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Fui gay a minha vida toda. Desde que me entendo por gente. Sempre gostei de homens. Parece que eles me entendem melhor que as mulheres. Essa facilidade de comunicação sempre me ajudou a conseguir namorados. Sempre fui muito namorador. Afinal, eu gosto de variar.

Acreditava que ninguém poderia me prender a atenção, até conhecer Alec. Já estamos namorando há dois anos, e ele consegue me manter interessado nele até hoje. Sempre gostei de caras inteligentes, e confesso que foi isso que me atraiu em Alec. O jeito sério dele de encarar as coisas, eu o admiro muito. Ele parece meio mandão, mas é muito meigo quando estamos juntos.

Já ela... Bem, ela é diferente de qualquer pessoa que já conheci. Talvez por isso eu não consiga me ver sem ela. Nossa amizade começou na faculdade. Cursamos juntos o curso de moda. Somos dois apaixonados pela alta costura. Gostamos de nos vestir bem, não posso negar. Heidi é a única mulher com quem posso ser eu mesmo, sem restrições. Sempre nos entendemos muito bem. E Alec não tem ciúmes dela. Afinal ele não precisava se preocupar com isso. Bem, até a noite de ontem.

Foi tudo muito louco. Eu estava muito louco. Já havia tomado várias doses de vodka, e o som alto da boate deixava a minha cabeça em órbita. Estávamos dançando ao som daquela batida lenta. Heidi e eu. Hoje era a noite dos amigos, assim como várias outras. Todas as semanas eu tirava um dia para sair com Heidi. Alec entendia. Ele sempre entendeu, e sempre me deu espaço. Nunca foi ciumento, muito menos com Heidi. Eu sempre a considerei como uma irmã. Temos somente um ano de diferença, e eu sempre banco o irmão mais velho com ela. Tenho uma necessidade instintiva de protege-la.

Mas eu não sei dizer ao certo quando isso mudou. Ou melhor, que horas mudou. Só sei que agora, olhando para Heidi, enquanto ela se balança ao ritmo da música, eu me sinto diferente. Parece que estou vendo-a pela primeira vez. O jeito como ela mexe o corpo, movendo seus quadris, é sensual demais. É muito sensual. Seus olhos estão fechados, e ela parece tão despreocupada. Meu corpo começa a ter vida própria, e como um imã, me vejo indo de encontro à ela. Talvez seja culpa da bebida. Mas eu não consigo controlar os meus instintos. Heidi abre os olhos e sorri para mim, fazendo o meu coração pular uma batida. Coloco a mão no peito, tentando controlar estas novas emoções que tenho a olhar para Heidi. Como não percebi antes que ela é a coisa mais linda que já vi? Claro que sei que ela é linda, sempre soube. Mas agora, aquela mulher parada na minha frente mais parecia uma deusa. E ela estava me chamando pelo nome.

"Tom...vem dançar bebê..." ela me chamou sedutoramente, me olhando com aqueles olhos castanhos.

Assenti com a cabeça afirmativamente, enquanto me aproximava mais dela. Ao encostar em sua mão, senti uma corrente elétrica por todo o meu corpo. Eu não fazia ideia do que estava acontecendo. Por que estava sentindo todas aquelas coisas por ela. Eram emoções novas, que eu nunca tinha sentido. Pelo menos não por uma mulher. Aquela era Heidi, minha melhor amiga. Eu não deveria estar sentindo essas coisas por ela. Esse desejo louco de toca-la. Estávamos tão perto naquele momento. Comecei a ter dificuldade de respirar. Meu peito subia e descia, e eu não entendia o que estava acontecendo comigo.

Tirei uma mecha de cabelo de Heidi de seu rosto, colocando atrás de sua orelha. Não consegui controlar minha mão, que começou a acariciar o seu rosto. Heidi me olhou intensamente naquele momento, tentando entender o que eu estava fazendo. Mas nem eu mesmo sabia o que estava acontecendo comigo. Eu simplesmente fiz. Fitei aquela boca pequena e rosada, e passei a língua em meus lábios, sentindo uma súbita vontade de beija-la. Sinceramente não sei o que estava acontecendo, mas não podia negar que estava atraído pela boca de Heidi.

Ela mordeu o lábio inferior, parecendo nervosa. Nenhuma palavra precisava ser dita naquele instante. Eu a conhecia bem demais para saber que ela estava se segurando. Só não sei por que. Olhei por um instante para seus olhos castanhos, que brilhavam intensamente, talvez pela iluminação do lugar. E algo dentro de mim acendeu. Fechei o espaço que existia entre nós, roçando meu nariz no dela. Com os olhos fechados, eu tentava acalmar as batidas do meu coração. Era tudo tão confuso. E a minha única certeza era de que se eu não provasse o gosto daquela boca agora, eu morreria.

"Tom...o que está fazendo?"

"Eu não sei Heidi...mas eu preciso fazer uma coisa."

"O quê?" ela sussurrou como uma oração.

"Isso." não deixei ela falar. A envolvi em um abraço apertado, e selei meus lábios com os dela. Era uma sensação incrível. Diferente de tudo o que já provei. Não tinha ideia que os labios de uma mulher poderiam ser tão deliciosos. Que os labios de Heidi eram. Tão macios e saborosos, como chocolate. Intensifiquei o beijo, sugando aquela boca, minha língua pedindo passagem. Heidi parecia me acompanhar muito bem, enroscando-se em meu corpo, beijando-me de volta com a mesma intensidade. Senti sua língua na minha, e suguei-a, entorpecido naquela sensação maravilhosa.

E como em um passe de mágica, o encanto se quebrou. Precisamos nos separar em busca de ar. Logo que abri meus olhos, visualizei Heidi me encarando, com aqueles lábios inchados, como se pedisse uma explicação.

"O que foi isso Tom? Por que me beijou?" ela sussurrava baixinho, me fitando com aqueles olhos brilhantes.

O que eu diria a ela? Eu não sabia ao certo o motivo de te-la beijado. Não entendia ainda aquela súbita necessidade que sentia dela. Como explicar a Heidi algo que nem eu mesmo sabia? Então me lembrei de Alec. O que eu fiz?

"Eu preciso ir...Alec está me esperando..." despejei as palavras em cima dela e saí praticamente correndo da boate.

Não olhei para trás, mas ouvi ela me chamando. Eu estava confuso demais para conseguir encara-la. Enquanto o taxi que peguei fazia seu trajeto até minha casa, deitei a cabeça para trás no banco, e fechei meus olhos. Cometi uma loucura, é isso. Só posso estar enlouquecendo. Heidi... Era como uma irmã para mim, e eu simplesmente a agarrei como um homem das cavernas. Praticamente suguei a coitada, como se fosse um vampiro. Passei as mãos por meus lábios, que ainda estavam inchados do beijo. Eu podia sentir o gosto dela ainda na minha boca. Deve ter sido a bebida. Eu estou muito bêbado. Amanhã tudo vai voltar ao normal, e eu vou me desculpar com Heidi pelo meu comportamento inapropriado. Onde eu estava com a cabeça?

Hoje à noite, eu beijei uma garota. E por mais que eu queira esquecer que isso aconteceu, eu gostei. Gostei muito mais do que pensei que gostaria. Mas isso não pode nunca mais se repetir. Eu tenho namorado. Preciso ser fiel à Alec. Mesmo amando Alec, eu sinto que dentro de mim algo mudou. Esse beijo mudou alguma coisa. Mas não vou fazer nada a respeito. Preciso esquecer o beijo. Afinal, gays não saem por aí beijando mulheres. E eu sou gay, muito gay. Não tenho dúvidas disso. Ou será que agora tenho?

Eu beijei uma garota [DEGUSTAÇÃO]Where stories live. Discover now