1. A dor

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Eu morava bem ali naquele prédio da rua Becker. Sim, morava, no passado. Não moro mais.

Aliás, meu nome é Ana Luiza e eu tinha apenas 17 anos.

Acabei de chegar à conclusão de que viver é algo grandioso, talvez grandioso não seja a palavra certa, mas, digamos que eu esteja chocada demais para achar uma palavra que expresse a imensidão que sinto pela vida. Pena que só me toquei disso tarde demais.

Acho que estou fazendo tudo parecer muito confuso, não me leve a mal, eu nunca estive tão confusa como estou neste momento.

Há anos venho me auto sabotando; escondendo a depressão que no início era como um pequeno monstrinho dentro de mim. Acontece que o tempo foi se passando, eu fui crescendo e esse monstrinho cresceu junto comigo, tanto que eu não aguentava mais carrega-lo.

Se me perguntarem quais fatores me levaram a fazer o que fiz, não vou saber ao certo explicar. Mas não foi a falta de amor... tenho certeza que não.

Antes de sair para escola hoje cedo, minha mãe me abraçou e disse o quanto me amava, avisou também que traria material para fazermos um bolo. Meu namorado deixou uma mensagem, disse que viria de noite para assistirmos a um filme. Seria de ação pelo que ele me disse, odeio esse gênero. Mas o ator principal era o Vin Diesel, a única coisa que faria valer apena assistir. Infelizmente, não deu para esperar.

Não teve bolo.

Muito menos filme.

A depressão me levou até o fundo do poço e, junto com ela, vieram outros milhares de pensamentos e atitudes negativas. Para fugir desse tormento que ela me causava eu tentava dormir. Só tentava mesmo, porque conseguir, de fato, não rolava.

Falta de ar, tremedeira, insônia, medo e, muitas das vezes, ânsia de vômito. A depressão tem uma prima, sabiam? A ansiedade. Apesar de ser uma prima distante a depressão a chamou para uma festa, e pasmem... a festa era dentro de mim.

Cheguei em casa, faltavam algumas horas para que minha mãe chegasse do trabalho e para que meu namorado viesse. Eu estava mal, muito mal.

Maldita crise existencial!

Eu não sabia o que estava sentindo, nem se estava sentido. É algo confuso, sabe? Ah, claro que não sabem. Nada para mim fazia mais sentido, nenhuma emoção profunda me tocava. Digo, eu sabia do amor que nutria por minha mãe e pelo Math, mas nem isso me fez parar. Tinha uma dor dentro de mim, e ela ocultava qualquer outro sentimento que eu viesse a sentir.

Era ruim. Era mau. E doía. Todos os dias doía.

Eu só queria chorar ou gritar, mas não conseguia.

Fui até a dispensa, achei no meio dos materiais de limpeza e dos inseticidas um remédio. Veneno, na verdade. Apareceu um rato enorme aqui em casa há um tempo atrás, por isso minha mãe comprou. Ironia ou não, não foi apenas o rato que o veneno matou.

Coloquei àquilo na mão. Joguei na boca. Engoli em seco mesmo. Chorei. Engraçado, né? A dor só me deixou chorar no momento em que ela estava conseguindo o que tanto queria. Ou seja, me fazer desistir.

Desculpa, não conseguiOnde as histórias ganham vida. Descobre agora