PRÓLOGO

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Sei que já prometi isso antes, mas dessa vez é oficial. Nunca mais vou beber!

Chega de cachaça, cerveja, catuaba, vodka e por aí vai. Talvez beba uma dose de tequila vez ou outra, mas isso é socialmente... e durante emergências.

Enfim, quero que acredite, a promessa dessa vez é pra valer!

Minha cabeça está latejando e juro por Deus, se me concentrar o bastante, - O que não é fácil.- consigo ouvir uma gralha cantando Evidências.

- Porra Becca! - ouvi a voz da Alice e abri um olho só pra ver ela de bunda pra cima, do meu lado. Felizmente estava tudo coberto, então a noite não tinha sido assim tão louca. - Desliga esse despertador.

- Como você veio parar aqui?- perguntei grogue, não me lembrando patavinas de nada do que tinha acontecido na noite passada. Deus, eu nem sabia se já tinha amanhecido!

- Briguei com o boy, você evitou o seu.... - Sua voz estava abafada pelo travesseiro. - Compramos sorvete, mas aquilo não estava fazendo efeito, então usamos a cachaça que seu avô mandou na semana passada.

- A artesanal?- Fiz uma careta quando o som da gralha cantora ficou mais alto.

- É, é - resmungou colocando outro travesseiro em cima da cabeça. - Agora desliga essa merda!

Me virei de lado, só pra constatar que lá fora ainda estava escuro e que gralhas não cantam. O último pensamento é meio idiota, mas me dá um desconto? Acabei de acordar e estava com uma ressaca filha da puta.

- Isso não é meu despertador - Estendi a mão para tatear o criado mudo, em busca do meu celular. - São três e vinte da manhã!

A cantoria chegou em um ponto crítico, que me fez encolher enquanto Alice levantava a cabeça assustada.

- Tem alguém morrendo? - perguntou horrorizada, enquanto eu tentava pensar no número da emergência. 191, 193, 190?

Droga, eu não fazia a mínima ideia de qual era o número do SAMU, vergonhoso eu sei, mas é a verdade. Na hora do aperto, os números se misturavam e ficavam todos iguais pra mim.

"Beccaaaaaaaaaa" ouvi a gralha dizer - Vou chamar assim até descobrir quem é o ser ferido no meio da rua. - e franzi o cenho confusa.

Que porra de dor de cabeça!

- Esse não é o...? - Alice começou a perguntar.

"Meu amoooooooooooorrrrrrr" ouvi a voz novamente, mas dessa vez arregalei os olhos ao descobrir, finalmente, quem era a gralha cantora.

- Isso só pode ser brincadeira - sussurrei me levantando às pressas da cama e tropeçando no Floquinho, que ganiu irritado e saiu do meu caminho. Provavelmente pra dormir em outro lugar.

Eu até pararia pra brincar com ele e pedir desculpas por acordar o pobre cão no meio da noite, mas agora tinha outras prioridades. Do tipo, comprovar pra mim mesma que aquilo não estava acontecendo.

Aquilo não estava acontecendo, não era possível!

Durante o caminho até a sacada do quarto, bati o dedinho do pé, junte isso a chegada do refrão da música naquela voz horrenda e temos uma Rebecca com um humor não muito bom ao abrir a porta dupla, e confirmar minhas suspeitas.

- Beccaaaa, meu amor! - Lorenzo abriu os braços, mas pra ser sincera aquilo realmente foi a última coisa que prestei atenção, graças a dois pequenos detalhes.

Número um: Ele estava bêbado... muito bêbado.

E número dois: Ele estava nu. Sim, você leu certo. O idiota estava com os balangos de fora. E não, não irei descrever isso pra você, sua tarada!

- O que você está fazendo?- perguntei irritada, me pendurando na sacada pra ver se não tinha alguma vizinha pervertida, olhando os documentos dele. Não que eu me importasse, não tenho nada a ver com isso!

Surpreendentemente não tinha ninguém ali pra ver aquilo, a não ser os amigos do idiota, que estavam se dobrando de rir, em volta dele.

- Uma serenata - respondeu cantando e eu me encolhi com o tom agudo. Jesus, ele cantava muito mal, tadinho.

- Não podia fazer isso vestido? - Nem tinha percebido Alice se aproximando. - Não que eu esteja reclamando. – Ela se virou pra mim, rindo baixinho. - Tô chorando aqui, só não digo por onde.

E a safada se dizia minha amiga...

- Não! - Lorenzo deu um passo cambaleante pra frente, irritado. - Vou provar pra minha deusa, que o que disseram é mentira! - continuou apontando um dedo pra Alice, antes de se virar pra mim. - Não acredite nos boatos, Becca. - falou em um tom mais ameno, quase suplicante. - Eu tenho um pau espetacular, olha só! - acrescentou balançando os quadris, enquanto os amigos riam ainda mais, dessa vez acompanhados por Alice. Senti minhas bochechas arderem e não pude evitar olhar o "amigo " dele. Era realmente impressionante. - E ele é todo seu, amor.

- Lorenzo, vai pra casa. - Os amigos dele continuavam rindo, enquanto ele continuava a se balançar pra lá e pra cá.

- Mas eu ainda não cantei... – Lorenzo parecia decepcionado e revirei os olhos, sem acrescentar que só acordei porque ele estava cantando. Já Alice saiu da sacada, sussurrando um "o mundo precisa ver isso.".

- Não precisa... - garanti, me encolhendo quando ele começou a cantar. Do início. Jesus, Maria e José! Aquilo era muito horrível. - É sério, não precisa... - continuei em um tom de súplica, infelizmente ele não me deu ouvidos.

- Quando eu digo que deixei de te amar...- cantou levantando os braços e olhando pra mim. - É porque eu te amoooooooooo. Quando eu digo que não quero mais você. - continuou, apontando um dedo na minha direção. - É porque eu te queroooooooo.

- Meu Deus... - Tentei ficar horrorizada, mas a grande verdade é que tudo aquilo era meio fofo.

Meu coração ainda batia acelerado e uma parte bem irritante de mim, queria ir lá embaixo e fazer ele parar de dançar, antes que rachasse a cabeça no asfalto. Tudo bem, o som era pior quando se estava acordada, mas nunca disse que meu juízo era perfeito. Uma grande prova é que eu me apaixonei por ele, El Idiota.

- É que eu sou louco por você!! – cantou mais alto e balancei a cabeça, recobrando o bom senso. Saí da sacada a passos largos, e atravessei a droga do meu apartamento todo, procurando por um balde.

Filho da puta! Isso que ele é! Como se atreve a bagunçar minha determinação em ficar longe dele?! Enchi o balde que achei debaixo da pia, com água, e voltei pra sacada, xingando baixinho quando bati o dedinho do pé em algum lugar, de novo.

- E tenho medo de pensar em te perdeeeeerrrrr! - continuou assim que me viu, mas antes que fosse pro próximo verso, joguei a água fria na sua cabeça.

- Se não sair da frente da minha sacada em dois segundos, vou chamar a polícia! - exclamei irritada, não me importando mais com o barulho que os vizinhos estavam ouvindo. Era impossível ficar dormindo, ouvindo Lorenzo cantar!

- Beccaaaaaa. - começou a dizer, mas joguei o balde na sua direção também, infelizmente, minha mira continuava a mesma bosta de sempre.

- Becca o cacete! - Levantei o dedo do meio, antes de entrar no meu quarto. Talvez tudo isso seja muito repentino e você não esteja entendendo muito bem o que está acontecendo. Por isso acho, que nada mais justo eu explicar toda essa confusão que me meti, desde que conheci o El Idiota, a algumas semanas atrás.

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