— Boa tentativa, mas prefiro ficar aqui! – respondi seca.

— Aideen, não pode ficar neste quarto para sempre, minha irmã! – ela fez uma pausa. – Sabe que posso ajudá-la a sair deste lugar, não é mesmo?

Como se eu tivesse escolha! Pensei.

— Sair para quê? Para onde? – perguntei me virando. — Sabe que não sei caçar e tenho muito pouca habilidade com a espada. Morreria antes mesmo de chegar ao próximo povoado.

— Morrerá se continuar solitária neste quarto. – ela devolveu.

Eu ri sem vontade.

— Uma grande ironia! – resmunguei. – Não sei o que seria mais prazeroso: morrer aqui, sendo humilhada por nossa mãe, acusada de ser uma inútil ou lá fora, sozinha.

Dei de ombros suspirando.

— Se bem que não há tanta diferença entre ambas opções.

Annabel balançou a cabeça de um lado para o outro. Ela só tinha permissão de ficar em meu quarto durante as refeições, por isso, eu aproveitava ao máximo sua companhia. Ela era minha irmã do meio. Era doce e gentil. Embora tivesse aparência delicada, era muito destemida e adorava aventuras. Sabia de todas as passagens escondidas de Inverness e vivia fugindo. Nossa mãe nunca conseguira descobrir sobre suas fugas, mas duvidava que ela a punisse de alguma forma. Annabel sempre fora a preferida de nossa mãe. Tinha os cabelos, cor de prata e os olhos azuis, cor de safira. Ela não se parecia com nenhuma de nós, já que eu e Aila éramos ruivas como nosso pai. Nossa mãe dizia que Annabel era parecida com nossa avó materna, mas eu nunca tive contato com ela para ter certeza.

Annabel respirou fundo antes de alisar seu vestido, cor de marfim e sentar-se em uma das cadeiras. Fui caminhando até ela e me sentei na cadeira seguinte. Ela começou a se servir das torradas, que já estavam com a geleia, enquanto bebericava o chá de amoras, o nosso preferido.

— Sem facas? – perguntei franzindo a testa.

— Sim. – ela suspirou olhando para meus pulsos. – Creio que sabemos bem a razão.

Revirei os olhos ficando em silêncio. Há alguns dias, quando Annabel trouxe meu café, peguei a faca que ela trouxera e tentei cortar os pulsos. Tinha brigado com nossa mãe e tentei acertá-la com a faca. Tinha acertado seu ombro e ela saiu do quarto em desespero. A faca cravou na parede e eu a peguei na esperança de acabar com minha vida. Annabel ficou muito nervosa quando me viu sentada na cadeira com o sangue escorrendo pelos pulsos. Uma das aldeãs veio e fechou o ferimento que não era tão profundo quanto eu imaginava.

— Penso que você deveria fugir! – ela insistiu na conversa.

— Aonde quer chegar com isso, Annabel? – perguntei com a voz irritada. – Você nunca me fez essa proposta antes. Por que decidiu insistir nesta ideia justo agora?

Annabel respirou profundamente recostando na cadeira.

— Mamãe arranjou meu casamento com um dos lordes. – ela disparou.

— Estava demorando que ela voltasse com essa ideia. – resmunguei batendo os punhos na mesa. – É, por isso, que está tão preocupada comigo?

— Sim. – ela respondeu com tristeza. – Não quero deixá-la aqui sozinha. Você não sobreviverá.

— Sobrevivi até agora, não é mesmo? Posso sobreviver por muito mais tempo. – disse. – Aproveite sua libertação daquela megera desalmada.

— Oh! Aideen! Você tem apenas dezessete anos, mas fala como se tivesse muito mais.

— É por isso que sei que sobreviverei muito mais tempo, embora não queira que minha vida se prolongue ainda mais.

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