CAPÍTULO 8 O TERMINAL DAS ALMAS PENADAS

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Não percebi quando o anel giratório surgira em meu dedo, mas lá estava ele. A peixeira havia sumido. Ao perguntá pra Iara, o por que de Alisson pagá pela peixeira com fumo, ela respondeu que criaturas da floresta trocavam favores e outras coisas por fumo, pois este era a sua moeda. Achei aquilo bem incomum. Iara também disse que aquele fumo era produzido pelos beneloins da terra e só tinham valor comercial pra anhangas, sacis e espíritos da floresta, pois não serviam pra nada em outras raças.

Já eram cinco horas. Alisson nos deixô em uma parada de ônibus e pediu pra Iara me levá ao próximo destino. Disse que possuía outra missão para resolver. Fiquei pensando em todas as vezes em que tia Nast saíra correndo do banheiro para estas supostas missões, e como estes monstros achariam ela idiota se a vissem assim, e como eu era idiota de acreditar que ela realmente trabalhava em uma empresa de vendas, e como Iara era idiota por num ter me contado antes sobre o Manto. Mas até você teria acreditado se seu único familiar tivesse dito, e teria perdoado sua única amiga se ela guardasse um grande segredo que você num podia sabê.

– Ele gosta de matar coisas – falei sobre Alisson. – É para mim não achar isso estranho?

– É natural que não ache estranho – disse Iara. – E em breve será você. Afinal, como beneloins, tudo que somos depende daquilo que destruímos. Pois essas coisas tentarão nos destruir. É um jogo de sobrevivência... Olha o nosso ônibus ai.

– Não seria melhor, "tudo que somos depende daquilo que protegemos".

– Destruímos coisas para proteger coisas – rebateu ela, e embora eu num concordasse, não soube lançar mais argumentos.

– Pegaremos um ônibus? – perguntei mudando de assunto.

– Sim – respondeu ela. – Como você acha que iríamos continuar a viajem?

– Tipo, sei lá – respondi. – Você invocava um pássaro gigante que poderia nos levar voando, ou abria uma fenda dimensional que daria bem no final do objetivo, ou entraríamos por uma parede mágica que levaria a uma plataforma mágica, onde teria um trem mágico que nos levaria para...

– Sonha menos Alice – interrompeu ela. – Isso não é um livro de fantasia, Davi.

– Hum... Então nada de pássaros gigantes, nem trens mágicos?

– Não.

– Que mundo triste esse dos beneloins.

O ônibus havia chegado.

– Pra onde vamos? – perguntei.

– Para Abdriell, a nossa "sociedade alternativa" – respondeu Iara. – É o local mais seguro do nosso mundo. Aliás, acho que é o único canto seguro para um beneloim.

Entramos no veiculo, que nos levaria ao Terminal de Parangaba, de onde pegaríamos outro ônibus. Na primeira parada subiu um camelô, que foi falando:

– Primeiramente boa tarde meus amados. BOA TARDE MEUS AMADOS? – como se acordados do transe da monotonia do dia a dia, boa parte respondeu "Boa tarde". – Deus abençoe. Ei pessoal é isso ai, desculpe ta chegano assim duma vez, me chamo Valdeci. Vendo o que estou dando aqui pra vocês por uma quantia simbólica de um real – ele foi tirando as pastilhas da sua caixa de madeira e entregando para os outros passageiros. – Tem pastilha, tem amendoim meus amados. Se vocês sentirem no coração de ajudar, um real o chocolate, um real o amendoim, um real o chiclete e um real a pastilha. É pra alimentar minha família. Então eu vou passar ai pra quem quiser incentivar o meu trabalho – ele foi voltando e recolhendo todas as partilhas de quem num ia comprar, pegando e agradecendo em nome de Deus o dinheiro de quem comprava. Iara comprou uma pastilha. Terminando de vender, o homem deu sinal e desceu para esperar o próximo ônibus e vender mais de seu suor.

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⏰ Last updated: Sep 29, 2017 ⏰

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O CHAMADO DO CARCARÁWhere stories live. Discover now