CAPÍTULO 7 A MATA DAS UNHAS CRAVADAS

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Atrás do balcão da loja havia uma porta. Entramos e para a minha raiva, ali estava mais uma escada, do tipo feita de ferro e em espiral, só que esta levava para baixo. Fomos descendo e descendo. Ali no escuro podia-se ver o final, uma luz no fim do túnel. Atravessamos. Ainda na escada, minha visão foi ofuscada pela luz da... Sol? Sol num lugar subterrâneo?

– Esta, Davi, é a Mata das Unhas Cravadas – disse Alisson.

– Porque se chama assim?

– Você vai descobrir.

Uma floresta de cajueiros debaixo do Centro de Fortaleza! Troncos marrons com folhas verdes pra todos os lados, com seus cajus em vermelho e amarelo com castanhas enormes. O som era preenchido pelo cantar de periquitos australianos. Os pássaros eram semelhantes a mini papagaios, devido a seus bicos curvos, que era fortes o suficientes para partir sementes, mas que ali, se alimentavam dos cajus. Eram de quatro tipos, verdes com cabeças amarelas, azuis com cabeças brancas, brancos e amarelos.

Passamos pela floresta de cajueiros, abrindo caminho por entre os galhos que cresciam em direção ao chão, formando obstáculos. Preferi não perguntar como ali, no subterrâneo, podia haver um céu azul de nuvens branquíssimas. Não existe explicação para magia. Mas existia uma duvida que me inquietava.

– Eu estava pensando... O que aquele barbudo queria dizer com os meus olhos? – esta pergunta era sobre mim e sinceramente, naquele momento fazia mais sentido do que perguntar sobre o que qui eram Karaibebés e como havia um céu debaixo da terra.

– Os olhos de um beneloim são as janelas da alma dele – respondeu Alisson.

– Já ouvi isto em algum lugar – falei.

– Sim – disse Iara. – Os humanos possuem um ditado popular sobre isto ou algo assim. Mas quando se fala de beneloins, este ditado funciona de maneira física e literal. Não para todos os beneloins, claro, mas aparentemente funciona em você.

– E o que os meus significam? – perguntei. – Cêis sabem?

– Eu não – respondeu Iara.

– Eu tenho algumas teorias, mas não há como ter certeza – respondeu Alisson.

– Você pode me dizer? – perguntei.

– Acho que este é o tipo de coisa que você tem que descobrir sozinho, Davi – disse Alisson.

– Eu posso lhe ajudar a descobrir o significado deles – disse Iara. Eu já num tava com raiva dela. Raiva de amigo dura pouco.

– Obrigado, Farol.

Chegamos em uma parte da mata onde os cajueiros formavam uma roda em volta de um único tronco groso. As outras árvores pareciam respeitar aquela. O tronco num era alto, mas muito groso, possuindo uma porta e janelas. Ao lado da porta, estava a estatua de um menino montado em um caititu gigante. A criança possuía uma juba de cabelos cobrindo os olhos, com dois chifres saindo desta. Na mão direita, uma lança. A escultura era bem feita, porem, defeituosa, pois seus pés foram feitos direcionados para trás. Que tipo de escultor cometeria um erro assim? Bem, mas considerando que na Praça dos Leões, as estatuas das leoas é que tinham testículos, os pés virados eram um erro pequeno.

Alisson abriu a porta e entramos. O local cheirava a lama. As paredes dali eram talhadas para serem estantes que por sua vez eram lotadas de livros grossos e de aparência antiga que cheiravam a velhice. O teto era composto pelos galhos e folhas da árvore/casa, que se fechavam em direção do centro. Se caísse uma chuva, todos os livros seriam destruídos. Uma única escada vertical esculpida na parede da árvore levava para o andar de cima e para outro mais abaixo. Havia poções amarradas nos galhos e em alguns pontos os raios de sol passavam fazendo as garrafas brilharem. Algumas poções brilhavam multicoloridas e estas eram as luzes responsáveis pela pouca iluminação da casa. E em uma mesa, num pude deixá de perceber uma garrafa tampada com rolha, onde um pequeno rodamoinho girava...

O CHAMADO DO CARCARÁOnde histórias criam vida. Descubra agora