Alice vivia com o padrasto em um bairro na zona sul de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais, até que, em seu aniversário de dezesseis anos, foi forçada à fugir. Eventos aparentemente inexplicáveis acontecerão no que parecia ser uma cidade tranqui...
Alice estremeceu. Ela sorriu. Nunca vira sra. Mara sorrir antes. Muito menos tantas vezes. Aquilo estava deixando Alice assustada.
— Não se preocupe, querida — continuou — Suas notas estão excelentes. Chamei-a aqui a fim de parabenizá-la. Vejo que Leonardo está te ajudando bastante.
— Hm... obrigada, sra. Mara — forçou seus lábios a esboçarem o sorriso mais natural possível — E sim, ele está.
Mara levantou-se e dirigiu-se à porta, abrindo-a.
— Bem, é só isso. Já pode ir.
Alice saiu da sala, suspirando aliviada enquando retornava à classe. No corredor, a voz de raspar de pedras chamou Alice.
— Quase me esqueci. Parabéns adiantado. E mande lembranças à seu padrasto — disse, alto o suficiente para que a ouvisse.
O aniversário de Alice seria só no dia seguinte. Questionou-se desde quando a diretora conhecia Arthur. Abriu a porta. A luz estava apagada. A garota fez um apelo silencioso para que a aula não tivesse acabado e tateou a parede até encontrar o interruptor. Ao acender a luz, todo seu corpo paralisou, em choque.
— SURPRESA!!! — desatou à rir, tamanha a vergonha.
Fizera questão de não contar a data e mesmo assim recebera uma festa. Os colegas cercaram-na em um abraço rápido e alguns amigos mais próximos presentearam-na. Seus olhos castanho-claros percorreram a sala até encontrar Leo, para em seguida abraçá-lo, sorrindo.
— Sei que foi armação sua.
O amigo retribuiu o abraço com força, suspendendo-a no ar.
— Quem? Eu? — riu e beijou-lhe a bochecha — Feliz aniversário, Ally.
Desvencilharam-se e ela cruzou os braços, erguendo uma sobrancelha.
— Você sabe que é só amanhã.
Ele sorriu.
— Amanhã é sábado. Não tem aula. Alice revirou os olhos e cruzou a sala até encontrar suas amigas.
— É, amiga. Acho que o Tiago está a fim de você — Keith sussurrou.
— Gente, nós nem conversamos direito. Não inventem.
— Ele está te observando desde a hora que você entrou aqui — disse Jéssica, sorrindo.
Alice fitou o rapaz que, ao perceber que era observado, sorriu. Desviou o olhar, corada.
— É a sua chance, Ally. Imagine seu primeiro beijo ser com o Tiago? Olhe para ele, aquele cabelo loiro... e os olhos azuis? Seus filhos vão ser lindos! — Gabriela dizia, gesticulando.
Alice sentiu o rosto queimar.
— Você é tão exagerada, Gabi... - Jéssica repreendeu-a — Deixa a Ally em paz.
Ela ouviu passos em sua direção. Tiago. Keith e Gabriela arregalaram os olhos, seguindo-o com o olhar. Ele cumprimentou alguns amigos perto das garotas e beijou Samanta, uma garota repetente.
— Acho que ele já tem namorada — comentou Keith.
Quinze minutos antes do fim das aulas, apesar de o barulho de trinta adolescentes conversando ao mesmo tempo tornar inaudível tudo ao redor, um grito sufocado ecoou pela escola. Um garoto desligou o som e todos se entreolharam, aflitos.
Outro grito.
— Fujam! — era a voz da diretora no alto-falante.
Uma onda de fumaça azul clara invadiu a sala e os amigos de Alice produziam sons apavorantes, berrando enquanto pressionavam os dedos nos ouvidos, que expeliam sangue. Seus olhos se fechavam e eles desmaiavam, como se tivessem adormecido em pé. A moça observava tudo, em choque. Um som agudo e estridente como o contínuo raspar de garfo sobre porcelana invadiu seus ouvidos, fazendo-a gritar.
Uma mão sacudiu-a e puxou-a pelo pulso através da escola, forçando-a a correr. Alice olhou de relance para trás e só enxergou neblina azul, mais escura e atraentemente hedionda a cada segundo, até transformar-se em um azul enegrecido.
— Vamos, Ally! Mais rápido! — gritou.
Alice reconheceu vagamente a voz. Corria o máximo que podia e já estava quase sem fôlego. Um conversível preto parou pouco mais de dez metros à sua frente, cantando pneus, e ela foi puxada para dentro, há poucos instantes da névoa. O carro acelereou, e Alice foi de encontro ao banco do passageiro. Fez menção de levar as mãos aos ouvidos, mas foi interrompida por mãos ágeis e firmes.
— Não, Ally. Vai piorar a dor — a voz repetiu. Leo.
Alice olhava fixamente para a névoa, que ficava para trás.
— Quase não conseguimos. Vocês estão bem? — ouviu o chofer falar.
Deliciosamente sedutora, havia algo na estranha fumaça que impedia Alice de desviar o olhar. A garota ouviu o mesmo som estridente e levou os dedos aos ouvidos, gritando ainda mais pela dor dos ferimentos internos causados pela névoa. Leo puxou as mãos da amiga, colocando-as para trás das costas dela e amarrou-as com a corrente reforçada de seu colar.
— Deve servir — olhou-a tristemente. — Me desculpe, Ally, mas a névoa tóxica fez um grande estrago em seus ouvidos. Não quero que as feridas ulcerem. A dor seria insuportável.
— Névoa... dor insu...portável... — Alice balbuciou, entre lágrimas.
Leo trouxe-a para perto de si e envolveu-a em um meio abraço, acariciando os longos cabelos cor-de-mel e, eventualmente, secando-lhe as lágrimas.
— Se tivesse demorado mais alguns instantes... — sua voz falhou, e ele desviou o olhar.
O motorista remexeu-se no banco, desconfortável.
— Vocês tiveram sorte.
Aquela voz era familiar à Alice, mas ela não conseguia se lembrar. Tudo doía. Em meio ao calor e sal, sua visão turvou-se e desmaiou.
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