Capítulo 1 - A Explosão

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  Os passos de Alice ecoavam pelo corredor vazio. A garota tremia involuntariamente e sentia a ponta de seus dedos gelarem. Nervosismo não era a melhor definição para aquele momento: ela estava à beira de um colapso nervoso. Desamarrou a blusa de frio da cintura e vestiu-a ao sentir um frio repentino.

  — Na próxima vez que vier aqui, seu padrasto estará presente — advertira a sra. Mara — Portanto, não se envolva mais em confusões.

  Alice estava em aula quando a secretária Sara abriu a porta e informou que a diretora esperava-a em sua sala. Ouviram-se vários risinhos. Professor Marcel suspirou e Leo, melhor amigo de Alice, encarava-a preocupado. Seu olhar dizia "O quê você fez desta vez?".

  As dobras de seus dedos encontraram a porta da diretoria duas vezes. Nada. Toc toc. Silêncio. Alice girou a maçaneta e adentrou a sala, e logo sentou-se em uma das poltronas de couro falso, observando os ponteiros do relógio de parede, moldados como se garfos fossem. Nove e quinze. Já estivera naquele lugar tantas vezes que lembrava-se de cada detalhe, do retrato da família da diretora, em sua mesa, à quantidade de azulejos na parede. 134.

  A garota imaginou se o padrasto estaria na escola. Provavelmente não. Ele viajara para Ohio com sua equipe de enfermeiros para um congresso sobre a cura de uma doença que se espalhava pela Ásia. Algo relacionado à gases nocivos. Não voltaria para Belo Horizonte só para uma simples reunião com a diretora. Ele era cirurgião e já operara pessoas muito famosas, por isso, atarefado, quase nunca tinha tempo para Ally.

  Alice ficava em casa na maior parte do tempo, mas Leo a visitava regularmente. Sempre que podia, a mãe dele convidava-a para almoçar em sua casa. Além de melhores amigos, eram, coincidentemente, vizinhos. Alto e possuidor de olhos escuros, trazia os cabelos cor-de-mel cortados de um jeito pouco favorável à sua visão, mas poderia se passar facilmente por irmão mais velho da jovem Saint-Marie. As únicas diferenças notáveis eram a tonalidade dos olhos castanhos e que, dois anos e poucos meses mais velho, Leo era mais alto que a estudante. Estavam no primeiro ano do Ensino Médio, apesar de ele estar um ano atrasado e dizer que isso deve-se ao fato de que entrara na escola mais tarde, mas a amiga desconfiava que ele repetira de ano em algum momento.

  A maçaneta rangiu e a moça assustou-se. A sra. Mara entrou a passos firmes com seus sapatos de salto agulha vermelhos. Vestia um terninho azul escuro e uma saia da mesma cor. A garota tentou entender como aqueles saltos finos aguentavam todo o peso da diretora, ligeiramente desviando o olhar para seu rosto. Ela usava óculos cor-de-rosa com hastes finas e um batom nude. A respiração da aluna vacilou quando percebeu o canto esquerdo da boca daquela trêmulo, como se prendesse um sorriso.

  Um calafrio percorreu a espinha da garota ao ocorrer-lhe que a diretora divertia-se com a possível expulsão de Alice.

  — Seja lá o que você pensa que eu fiz, eu não fiz, eu juro — adiantou-se quando o silêncio tornou-se desagradável demais.

  — Você não fez nada — o quê era aquilo no rosto dela? Um sorriso? — Não desta vez.

  Alice relaxou os ombros apenas os suficiente para que a sra. Mara não se divertisse tanto à suas custas, forjando uma despreocupação quase desleixada, enquanto tamborilava os dedos no braço na poltrona. A mulher encarava-a fixamente, tentando decifrar qualquer emoção perceptível. Alice sustentou o olhar, fazendo o mesmo, sem deixar nenhum resquício de preocupação visível. Ela podia fazê-lo, afinal era seu último ano ali.

  — Então por que estou aqui? — perguntou, impaciente.

  Corpo e roupas azuis afetadas deram um leve impulso para trás, arrastando a cadeira de rodinhas e a senhora caminhou até o armário lateral, que tampava parte do pôster da escola.
Pegou uma chave no móvel e voltou para a cadeira preta, o som dos saltos ecoando pela sala. Sorriu novamente, o que foi especialmente estranho, e destrancou uma gaveta de sua mesa de escritório. Ela jogou uma pasta fina na direção de Ally sobre a mesa branca, emitindo um som semelhante ao de unhas deslizando em vidro, até parar frente à Alice, que demorou-se e abriu-a

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