Triene me esperava a duas ruas do castelo em seus trajes verde-escuro. Ela tem longos cabelos cacheados e vermelhos, que parecia com os da ilustração de um ser antigo em que as pessoas pareciam acreditar. Se chamava sereia, era metade mulher e metade peixe. Mas eram apenas histórias, segundo os antigos líderes da Ordem.

É claro que eu não poderia falar aquilo para ninguém, pois a história do mundo só era lecionada aos membros das realezas dos reinos. Se descobrissem que contei aquele simples fato a Triene, seríamos mandadas à prisão da Ilha de Crucia e nunca mais sairíamos de lá.

– Você demorou. – Triene reclamou.

– Desculpa, Tri. Você sabe que só posso sair quando Marixa desliga todas as lâmpadas. Vamos!

As pessoas não se chocavam pelo modo como nos vestimos, pois cada um ali fazia algo para chamar atenção para si mesmo. Por isso caminhamos até um ponto de motoristas e um deles nos levou até o Delirium sem termos problema algum.

– Têm certeza que é aqui, senhoras? – o motorista perguntou.

– Sim. Obrigada. – paguei-o e descemos.

A pergunta do motorista era válida. A rua onde o bar ficava era silenciosa e poucas pessoas caminhavam em direção a ele. Se não fosse pela pequena lâmpada verde acessa sobre a estreita porta de madeira escura, ninguém saberia que ali é o bar mais movimentado de Terycen.

Caminhamos até a porta, tocamos a campainha e de imediato alguém a abriu. Era um homem bem peludo e com uma grande circunferência abdominal, sob seu nariz havia um cheio bigode acinzentado e uma cicatriz marcava sua testa. Ele usava uma máscara negra e simples, e nos cumprimentou com uma voz grave.

– Sejam bem-vindas.

Apenas assentimos e caminhamos até o fim do corredor onde havia uma escada iluminada por inúmeras lâmpadas esverdeadas que mostravam o caminho até o subsolo. Ali já éramos capazes de sentir o cheiro de bebida, charutos e suor característico do Delirium. Mas apenas quando abrimos a porta fomos atingidas pela música alta que tocava.

– Está bem cheio hoje. – Triene gritou quando esbarrou com um casal que se agarrava fervorosamente.

– Sim! – respondi não muito feliz com aquilo.

Parecia que a cada vez que íamos ao Delirium mais pessoas estavam lá. E isso é perigoso para mim desde que eu não poderia ser reconhecida de forma alguma.

– Vamos conseguir umas bebidas, Tri! – puxei minha amiga pela multidão até chegarmos ao bar.

Estava bem difícil pedir alguma coisa visto que aquela era a parte mais disputada do lugar, obviamente. Mas depois de alguns minutos pegamos nossos drinques e fomos para a pista de dança.

Nossa rotina ali não era a mais interessante, ouso dizer. Nós dançávamos, bebíamos, dançávamos mais e bebíamos mais até irmos embora. As outras pessoas conversavam, interagiam entre si, mas nós não podíamos fazer aquilo. Sempre foi assim.

Até aquela noite.

Eu o senti mais do que o vi, para ser sincera. Ele usava preto dos pés à cabeça, como eu, e bebia o conteúdo de seu copo sem tirar os olhos de mim. Sentado no mesmo lugar, senti-o me observar por horas e até cheguei a pensar que havia me reconhecido, mas era impossível com a máscara e a capa. Ignorei seu olhar a noite inteira, até que quase na hora em que íamos embora ele desapareceu. Pensei que ele mesmo já tinha partido.

A OrdemOnde as histórias ganham vida. Descobre agora