3. UM BEIJO

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Faz muito tempo. Nos conhecemos de uma forma nada convencional. Dentro de um supermercado, num dia depois do trabalho exaustivo. Você? Me lembro bem, disfarçava enquanto fingia verificar o preço de alguns enlatados. Minha visão já havia lhe captado os passos e se perdido nos seus 1,80 de altura, distribuídos em um belo corpo. Provavelmente um daqueles caras que se perdem em uma academia por horas a fio, claro que não estou enganado - Isso apenas confirmei depois - Mas foi assim, nos conhecemos num supermercado num fim de tarde há sete anos. Sim, tem sete anos, quase oito.

Quando pagava minhas compras no caixa; maças, laranjas e peras e - nenhum enlatado, diga-se de passagem - você chegou logo em seguida com suas verduras, batatas e bandejas de frango. Poderia ter ficado num simples 'oi', mas a verdade é que tinha que ser, não poderia ser de outra forma. No estacionamento, me sentindo desajeitado com seu olhar em minha nuca - e como ficamos desconsertados quando sabemos que estamos sendo observados, não é? - Você veio, ficou ao meu lado - na verdade nosso carro estava um ao lado do outro - e assim começamos a conversar enquanto ajeitávamos as compras no porta malas. Olhava seu sorriso branco perfeito, e o olhar, - esse olhar mesmo, sempre me fez cometer loucuras - descobrimos que morávamos no mesmo bairro, e praticamente, na mesma rua.

Trocamos telefone. Trocamos mensagens. Dividimos a cama. Puxa! E como fomos rápidos nisso. Me chamou para um jantar ­- com aquela lasanha que comprou no supermercado e que disse que foi você quem preparou e que fingi acreditar. Foi a melhor noite, melhor vinho e a melhor música tocando no aparelho de som - claro que me lembro do nome da cantora e até da música; Leona Lewis, Better in Time - fomos felizes durante os três anos que se seguiram. Amar? Sim... amei muito, foi real.

Estranho como tudo foi ficar assim. Você se foi, não antes de muitas lágrimas. Muitos pedidos para que recomeçássemos. Eu não quis - para ser sincero nunca soube se estava fazendo a coisa certa, hoje sei que não estava.

Quando olho sua nova vida - sim, eu me certifiquei que estava tudo bem com você, olhei suas redes sociais, pedi minha mãe que lhe ligasse e averiguasse - é, eu sei... Aos poucos vi que seguia. Seguia em frente. Nova casa, Novo trabalho e - eu vi as fotos - um novo amor para chamar de teu. Se foi difícil aceitar que não somos nem amigos? Claro que sim. Sentirei falta das risadas, do abraço quente - abraço que era capaz de converter qualquer briguinha em beijos. Me sinto feliz em ver sua felicidade, ter a certeza que sua vida não parou enquanto os cacos do seu coração ainda estavam espalhados, me faz seguir também. Uma parte de você está em mim e é inevitável dizer que não em ti também.

A saudade é como um beijo estalado - não dado.

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