08 de Setembro, 2018

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     Amanheceu e nós continuamos, a pé. Minha irmã só tem doze anos, mas eu fui obrigado a dar uma arma para ela. "Só em caso de urgência" eu disse.

     Nós caminhamos bastante, até quase escurecer. Evitamos as avenidas principais, que sempre tinham mais infectados. Passamos por fora das estradas e por um bosque. Minha irmã riu pela primeira vez desde que nosso irmão se foi quando entrou no bosque. Já era de tarde e havia alguns vaga-lumes. Foi a primeira vez que eu ri também. Por um instante, por um pequeno instante, parecia que estava tudo bem.

     Ao sair do bosque, uma esperança surgiu. Tinha uma placa na estrada principal, mas havia um papel pregado nela: "temos abrigo e comida. Junte-se a nós", logo embaixo havia o endereço, que era de uma universidade. Eu apaguei as esperanças e o sorriso do meu rosto logo que parei para pensar, mas minha irmã continuou sorrindo depois de ler a placa.

     — Wendell, a gente vai viver. E comer também — disse-me minha irmã.

     — Nós não vamos lá — eu disse. A expressão de felicidade dela mudou totalmente. — É uma armadilha para pegar armas e suprimentos de sobreviventes.

     — Mas...

     — Letícia, nós não vamos.

     — E se eles só quiserem ajudar?

     — E se não quiserem? Como a gente faz?

     — Se não formos, nós morremos. Se formos, podemos morrer, mas há a possibilidade de não morrermos.

     Eu olhei para ela com um olhar que significava "não", ela emburrou a cara e saiu andando rápido na minha frente.

     — Letícia, me espere — ela me ignorou e continuou caminhando. Me desesperei quando ouvi um ruído de um infectado bem atrás de mim.

      Ele veio pra cima de mim e eu não consegui reagir. Ele rosnava como um cachorro e babava mais que uma criança. Queria comer minha cara, dava pra ver no olhar. Mas tudo isso parou quando ele tomou um tiro bem na têmpora. Foi o primeiro infectado que minha irmã matou. Na verdade, a primeira coisa que ela matou.

     Foi difícil pra ela. Ela caminhava olhando para o chão para ver se não ia pisar em nenhuma formiga.

     Achamos uma casa na beira da estrada, antes de chegar na outra cidade. Dei uma olhada nos cômodos e não havia nada de mais.

      Expliquei minha irmã que aquele cara não era mais uma pessoa, agradeci por ela ter salvado minha vida.

     Amanhã nós iremos para o tal lugar com abrigo e comida, achei um mapa no quarto. Talvez ela tenha razão, talvez existam pessoas boas. 

O Outono é o FimWhere stories live. Discover now