Capítulo 35

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FILIPE

Era percetível a metros de distância o nervosismo e a ansiedade colocada naquela que era a funcionalidade "atualizar" do computador. Já não me recordava o que era passar por esta fase da procura de um futuro como estudante. Não me arrependia, em nada, na decisão que tomara à umas semanas atrás quando quis dar o tal rumo à minha vida, mas sabia que ia ser difícil.

Duarte batia com o pé repetidas vezes na madeira, ansioso pela chegada dos resultados. Quando finalmente algo apareceu no fundo branco, ele saltou, assustando Mafalda que pulou do sofá e se arrepiou. Pablo permaneceu sossegado no meu colo, vendo os movimentos de ida e volta na sala.

– Vais acabar por criar um padrão no meu chão, Duarte – Matilde aparecia na sala, com o seu vestido de seda, sinal que estava pronta para dormir. Nestes dias, era crucial que ela descansasse.

– Não consigo ver... – ele olhou nervoso para ambos, e a sua irmã veio para junto de mim, trazendo a gata consigo.

– Esperaste semanas para este momento, Duarte – ela mesma abriu as páginas e eu confesso ter desviado o meu olhar do ecrã, com receio da desilusão. – Filipe – ela chama, e eu engoli em seco. – Amor, olha para mim – ela puxou o meu queixo na sua direção, e, sem qualquer hipótese de reação, ela colide os nossos lábios, tornando o beijo longo. – Parabéns – o quê?

– Filipe Miguel, tu entraste! – Duarte reage feliz, e vem abraçar-me, mesmo que com a morena no nosso meio.

– Faltas tu... – Matilde, determinada, abriu em seguida a página do irmão mais novo, mas logo a sua expressão anunciava os infelizes resultados. – Mano... Desculpa – olha com compaixão para o moreno que ficaram sem reação, e ele mesmo se sentou, imparcial, olhando para a tela. – Sei que querias muito Criminologia, nunca desistas na segunda e terceiras fases – a sua frase fora interrompida por um "Sim!" de felicidade, atirando-se para os braços da irmã confusa.

– Entrei em Ciências Forenses e Análises, no Egas Moniz – anunciou a sua segunda opção de candidatura, quando ambos pensávamos que fora apenas para preencher a candidatura, ele mostrava-se realizado por ter entrado. – Vou estudar perto de casa – revela, com um sorriso contagioso.

– Mas nós pensámos que tu... –

– Eu não iria entrar na Universidade do Porto de qualquer das maneiras. Fico bem aqui, e as ideologias são idênticas, só que mais prático – detalha, pegando em seguida no telemóvel. – Vou ligar aos pais –

– Devia fazer o mesmo...Provavelmente? – ainda não estava em mim. As rotinas iriam repetir-se por mais três anos, será que eu aguentaria?

Matilde pegara no meu telemóvel, e ela mesma ligou para a minha mãe, dada a minha dúvida insistente. Marta atendera a chamada e ao ouvir a voz da minha namorada fez centenas de perguntas, preocupada, sobre estar tudo bem connosco ou com as meninas, pois estranhara uma chamada àquelas horas. Ela explicou-lhe então que eu me havia candidatado, e em alta-voz ouvimos o seu grito para chamar o meu pai que dormia, e os dois congratularam-me, mostrando-se surpreendidos pela minha escolha, por ter mantido em segredo, mas felizes por ter resultado tão bem.

– Não custou nada – a sua cabeça encosta-se ao meu ombro, e eu rodeio os meus braços na sua cintura, apreciando o silêncio. – A Madalena adormeceu agora, e a Joana precisou de uma história para o fazer – beijei a sua nuca, sentindo o seu cansaço, e a minha culpa porque não a ajudei com as tarefas.

(desa)sossegoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora