Capítulo 33

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MATILDE

«Yo quiero que tus ojos me miren
Y que tus labios me besen
Para que nunca me olvides
Dime qué te parece »


Com todo o cuidado tentava inserir todos os essenciais nas mochilas de ambas as meninas que descansavam sobre a minha cama. Joana estava entusiasmada porque ia passar a noite com os tios, já Madalena iria ficar com eles apenas um par de horas até a irmos buscar.

– Ti-ti – a loira abanava os seus braços, assim que dei por terminada a tarefa de arrumar as suas roupas na sua mochila. Ela saltou na cama, gatinhado até mim.

– Sim, filha. Vais dormir com os tios – ri com a sua animação, sendo que ela levantou os seus braços até mim. Peguei nela ao colo, e nesse momento Filipe aparece no nosso quarto com uma camisa e calças formais. Senti calores anormais tomar conta, tanto das minhas bochechas, como de todo o corpo, ao observá-lo. Não havia forma de não me apaixonar por ele todos os dias.

– Já está tudo pronto – ele pegou na bebé Madalena com o seu jeito delicado, ajeitando a mala ao seu ombro. – Matilde? – acorda-me para a realidade, pois eu estava completamente derretida por aquele momento. – Amor...? –

– O quê? Desculpa – sorri embaraça e retirei o meu olhar de si para observar Joana no meu colo. Ele nada mais disse, beijando a minha testa, nariz e terminou nos meus lábios. Posso dizer que voltara a distrair-me, a sentir-me uma adolescente a viver o seu primeiro amor, completamente encantada. Ele deixara-nos, e os sons repetidos de Joana tornaram a minha atenção, de novo, no mundo real, e não no que se passava na minha mente.

– O Duarte vai sair com uns amigos que fez na praia da Caparica. – o moreno avisa-me, pegando nas chaves de casa enquanto eu procurava pela minha mala, algures, na sala. – Deve estar cá pela altura em que chegamos – cheguei perto do meu irmão mais novo, e ao beijar a sua bochecha, ainda tive tempo de lhe dar um pequeno sermão sobre não querer problemas para o seu lado.

– Vai divertir-te, mana – ele empurra-nos para fora de casa, deixando cair-se em gargalhadas. "É só um jantar!" gritei, deitando a língua de fora, como em criança.

Ao som de ritmos latinos, Filipe conduzia sobre o tejo que iria ser a nossa vista da noite de hoje para cumprir um ano de namoro. Alguém que pare o tempo?

Será la magia que tienen tus ojos y esos truquitos para enamorar. Tú me seduces a tu antojo y de tu hechizo no puedo escapa. – murmurava o moreno, surpreendendo-me com o seu espanhol.

Escápate conmigo esta noche, bebé – respondi, recebendo um sorriso da sua parte.

Quando déramos conta, estávamos frente a frente ao prédio de Catarina e Francisco. Tal como saíramos de casa, seguimos o caminho até ao andar dos tios das nossas meninas. Ao tocar à campainha não fomos de imediato atendidos, mas insistimos. O pôr do sol quase a acontecer.

– Olá olá! – oiço uma Catarina ofegante, colocando ainda alguns cabelos no sítio. Não quisemos embaraçá-los, e entregámos-lhe as duas crianças e os bens essenciais. Francisco não dera a cara, pelo que gritou "Bom jantar!" daquele que parecia ser o seu quarto.

No momento em que saímos do prédio caímos em gargalhadas que duraram minutos e minutos até conseguirmos concentrar-nos para comentar ao que assistimos.

– Nós avisámos que viríamos a estas horas – digo, ainda com um sorriso de gozo no rosto.

– É, para a próxima temos de chegar um bocado mais tarde. – e assim passámos os cinco minutos até encaramos a paisagem do rio Tejo e da ponte 25 de Abril. – Isto é demasiado incrível... – ele rodeou os seus braços na minha cintura, à beira do curso de água que terminava o seu trajeto no oceano atlântico.

(desa)sossegoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora