One Dance

Observei o salão enquanto sentia a inquietação de minha mãe sentanda no seu trono, ao lado do meu. Era esse o momento que todos estavam esperando. Eu finalmente escolheria uma esposa. 

"Ela tem que ser nobre, e quanto mais rica for a sua família, melhor." instruíra meu pai, mais cedo.

Varri o baile com meus olhos, procurava as garotas com mais jóias mas todas pareciam superficiais demais. Sem conseguir evitar, lancei meus pais um olhar de súplica.

"Você não precisa escolher, filho. É só nos avisar e nós apontamos a nobre perfeita para você!" minha mãe disse. Senti uma ponta de esperança em sua voz, eles não acreditavam que eu fosse conseguir escolher alguém "digno".

Eu estava prestes a concordar quando vi uma garota linda entrando no salão. Seu vestido era bem mais simples do que os das outras e ela quase não usava acessórios. Ouvi meus pais reclamando baixinho ao meu lado depois de ver quem era o alvo da minha atenção. Eu não conseguia tirar meus olhos dela, com aqueles cabelos castanho-avermelhados e olhos verde-claros.

"Ela não! Você não pode se casar com a filha de um plebeu qualquer! Você é o príncipe desse país e precisa de um casamento com benefícios." começou minha mãe.

"Não se preocupe, mãe. Não vou casar com ela..." hesitei antes de continuar "podem escolher a pretendente. Eu caso com quem vocês quiserem, só quero uma dança com ela... Qual o nome dela?"

"Não te interessa. Quer uma dança com ela? Ótimo! Convide-a para dançar, mas não se envolva. Vocês nunca se verão novamente." sibilou meu pai.

Olhei para eles e me levantei, descendo as escadas de onde o trono estava. Quando perceberam meu movimento todos pararam de dançar e se viraram para me observar. Ela também se virou para me encarar. Assim que percebeu que eu estava indo na sua direção seus olhos se arregalaram e ela começou a balançar a cabeça, em sinal de negação.

Cheguei até ela e ri ao observar sua reação assustada. Fiz uma reverência e estendi a minha mão, que ela pegou, depois de um momento de hesitação.

Levei-a até o meio do salão e olhei para a banda, em um pedido silencioso para que recomessassem a música. Começamos a dançar e eu me diverti com as expressões perplexas nos rostos dos nobres e principalmente das garotas, que se sentiam rejeitadas.

"Você não pode casar comigo!" exclamou a garota, me surpreendendo.

Por um segundo apenas olhei para ela, guardando em minha memória o som da sua voz. Seu semblante mudou de aflito para confuso quando eu comecei a rir.

"Eu sei... Meus pais deixaram bem claro. Não tenho nem permissão para perguntar o seu nome." a verdade é que eu estava ficando triste com tudo aquilo. A única garota que tinha chamado a minha atenção era ela, e eu teria que me casar com outra.

"Então por que..." ela não terminou a pergunta, não era necessário.

"Eu só precisava dessa dança... Antes que a minha vida acabe. Eu não tenho controle sobre a situação, nem sobre nada na minha vida, para ser honesto."

Ela sorriu para mim, solidária. Acho que nenhum de nós realmente sabia muito o que falar... só estavamos torcendo para a música não acabar tão cedo. Para que não fossemos obrigados à voltar para a nossa triste realidade.

Ouvimos, com tristeza, as últimas notas da música ecoando no salão enquanto todos estavam em silêncio. Quando paramos de dançar, fiz uma reverência, como mandava a etiqueta, mas não parecia o suficiente para uma despedida definitiva. Então me inclinei na sua direção, de uma maneira altamente inapropriada, e lhe dei um beijo na bochecha, pelo qual eu seria punido  por meus pais, com certeza. Ela sorriu para mim, apertando minha mão uma última vez.

"Nunca vou esquecer dessa dança" murmurou para que só eu ouvisse.

Observei-a se afastando e assim que a vi saindo pela porta me virei em direção ao meu destino e minha futura esposa, sorrindo mesmo com toda a melancolia que pesava em meu coração por saber que nunca mais a veria.

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