"Boa noite, Noah"

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1 de Janeiro, Segunda-feira, 18:27.

- Me deixe aqui, preciso resolver algumas coisas. - Anunciou calmamente Beca, apontando na direção do parque. A temperatura ainda se manifestava bruscamente, arrancando como resultado o suspiro gelado e a indisposição de todos que ali viviam. Kayla fez uma manobra com o carro, de modo que parasse no calçadão do lotado parque. Algumas crianças se balançavam nos brinquedos, permitindo o vento assoprar seus cabelos para longe. Conhecia suas expressões, eram de livre preocupações; vidas ganhas de bandeja onde a refeição era a exuberante felicidade e afeto. Mesmo reconhecendo o que nunca teve o prazer de expressar, se contentava em ver o que, tão pequenas, não se davam conta.

Beca abriu a porta com um movimento apressado, acenando logo que se pôs a correr em meio às árvores. Voltou a percorrer o trajeto até sua casa, e chegando lá notou o carro de sua mãe, estacionado familiarmente em frente a casa.

- Querida, você chegou cedo! Que surpresa. - Exclamou sua mãe da sala, ainda fora de alcance visual. Estranhou a súbita atitude, mas seus pensamentos foram interrompidos quando um vulto apareceu detrás de si, envolvendo sua cintura com as mãos.

- Estava esperando por você. - Com um pulo, Kayla se distanciou da familiar voz vinda de surpresa, e seu olhar se intensificou quando reconheceu Noah parado à sua frente. Em dúvida e com os olhos retorcidos de raiva, se afastou a passos pesados em direção a sala, preparando as palavras que seriam metralhadas.

- O que ele está fazendo aqui? Ao menos sabe quem ele é? - Gritou ao se colocar entre sua mãe e a TV, interrompendo sua atenção nos jornais da tarde. Sua mãe em resposta, ergueu o olhar para ela em repreensão.

- Não sei de onde surgiu esses seus modos, mas saiba que não aplicará no nosso convidado. - Se virou e adotou uma leve expressão no rosto. - Noah, meu querido, venha conhecer minha filha. - Falou, com a voz se voltando ao doce que sempre usava com os anfitriões. Noah que à pouco as observava encostado no batente da porta, se aproximou a passos lentos e descontraídos, com as mãos ao bolso. Kayla repreendeu uma risada quando notou o leve tom de corado sobre suas orelhas. Noah Westenin tímido?

- Já tive a honra de conhecer sua filha, Sra. Lorenson. - Falou Noah, enquanto acenava levemente com a cabeça - Kayla.

- Me chame de Susan, por favor. Sem formalidades. - Retrucou com uma risada. Kayla revirou os olhos, um gesto que Noah repetiu com um sorriso e os olhos desafiadores. Não havia falado nada até agora, perplexa demais com o fato de Noah Westenin, o alvo feminino, se encontrar em sua casa e criando um vínculo quase casual com sua mãe.

Ah, não, não, não!

- O que está fazendo aqui? - Repetiu a pergunta que fizera anteriormente, quebrando o angustiante silêncio instalado na sala. Ignorou o olhar de reprovação de sua mãe, continuando a encarar os olhos negros de Noah.

- Sua mãe me acolheu, já que acabei de me mudar para a casa ao lado e sou novo na vizinhança. Acredite, também foi uma surpresa para mim. - Falou, mantendo o tom casual - Não sabia que iria parar ao lado da minha parceira de espanhol.

- Oh, vocês formam parceria em espanhol? - Exclamou sua mãe, surpresa e ao mesmo tempo interessada. Mas acabou sendo ignorada em meio aos olhares fulminantes que cada um disparava.

- Então está mudando ao nosso lado? - Havia soado mais como uma afirmação para si mesma, incapaz de sair do transe para encarar a realidade.

- Minha família decidiu mudar para um lugar mais... - Uma pausa, e um sorriso discreto se formou em seus lábios -... reservado.

- Entendo. - Disse ainda com os olhos arregalados, e a mente em confusão. Seu rosto deveria estar queimando, pois sabia que seu interior estava a pouco segundos de expor chamas.

A Garota da Pele ClaraWhere stories live. Discover now