O vale

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Ѭ

Certa de que não estou em minha casa e muito menos em meu quarto, abro os olhos e vejo um teto escuro.

Não sei o que aconteceu, mas sinto um pano quente em minha testa. Além disto, tenho uma visão de minhas mãos cheias de algo.

Ao levantar minha cabeça constato que são folhas.

Um cheiro natural toma conta do ambiente.

Meu Deus, isto aqui não é um hospital. Muito menos um lugar conhecido.

Apavoro-me com a ideia vazia de não saber o que está se passando comigo mesma.

-Hei. Psiu... Você não pode se mexer muito. Tem que deixar a Xarikva fazer efeito.

O que?

Uma moça de olhos castanhos materializou a minha frente. Ela tinha os cabelos lisos e compridos tingidos de preto. Sua face estava desenhada por símbolos estranhos.

- Xa... Xa...

- Xarikva. É uma planta medicinal. Nós a usamos para tratar resfriados.

-Eu... Eu... Onde estou? Quem é você?

- Hazis.

Tirei o pano de minha testa e o coloquei sob minha perna direita. No mesmo instante as folhas que estavam dispostas em minhas mãos desprenderam-se e voaram para o chão.

Olhei ao redor. Nada daquilo fazia sentido.

O pequeno cômodo era escuro, mas luzes naturais dentro de jarros transparentes iluminavam perfeitamente o ambiente.

Havia várias camas baixas dispostas ao redor daquela sala. Tinham também cortinas brancas e uma porta ao fundo.

-Olha, você precisa tomar um banho bem quente. Eu te empresto algumas roupas.

-Mas... Espera.

Não adiantou. A garota saiu me deixando sozinha e totalmente perdida.

Alguns segundos depois ela veio com uma tolha preta e algumas roupas.

-Vai se lavar antes que fique doente. O lavabo fica por ali–apontou para um vão protegido por cortinas coloridas, me deixando novamente só.

Obedeci a sua sugestão e carreguei o que tinha em mãos até lá.

Eu não sabia o que era o lugar onde estava. Porém, tinha certeza de que não era muito convencional.

O banheiro –ou lavabo- como a garota havia nomeado, era enorme. O que mais chamou a minha atenção fora a decoração e a maneira como alguns artigos estavam dispostos.

As paredes eram cercadas por folhas verdes de alguma planta que desconheço o nome. Um cheiro natural delicioso permeava o ambiente. Havia um amplo espelho contornado nos cantos por algumas flores.

A banheira branca era toda desenhada por uma tinta preta, havendo desenhos triangulares e com traços finos e delineados.

Retirei minhas roupas e nem precisei de esforço nenhum para colocar água na banheira, pois já havia. E o melhor: estava morninha.

Relaxei e deixei que meu corpo fosse invadido por uma sensação de descanso maravilhosa.

Aquele banho permitiu a renovação de todas as minhas energias.

Tentei ordenar o meu cérebro a se lembrar de como vim para neste lugar.

No entanto, nenhuma ideia me invadia.

A única coisa que me lembrava era de sensações: a sensação de estar caindo. Depois, uma batida forte com o meu corpo. E por último... Vozes... Vozes que eu desconhecia.

Deixei de lado os pensamentos que me assombravam.

Terminei o meu banho e me estiquei para pegar a toalha.

Depois de seca, peguei as roupas que Hazis me dera. E bem... Mais uma surpresa!

Não era uma vestimenta convencional. Parecia um vestido, só que muito incomum. Era um tecido estampado. Novamente, figuras e desenhos desconexos.

Por que tudo neste lugar era tão estranho e diferente?

A vestimenta tinha mangas compridas e tapava os meus pés.

Bem, eu estava de pés descalços. Quando visse Hazis novamente pediria um calçado a ela.

Ao me observar no espelho, percebi o quanto deveria estar cansada. Meus olhos cansados acompanhavam o contorno das minhas olheiras sob minha pele branca.

Encontrei um pente em uma mesa de apoio e de frente para o espelho iniciei a escovação dos meus cabelos. Agora eles estavam melhores e cheirando a baunilha.

O tom natural dos meus cabelos era loiro escuro e com toda aquela luz artificial estava ainda mais clarinho. Eles caiam até a linha média do sutiã em pequenas ondulações.

De banho tomado e vestida... Agora era o momento de tentar descobrir onde estava e, principalmente, quem estava ao meu redor.