Capítulo 30

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4 meses depois

Matilde

Estou neste momento no limite dos nove meses e a qualquer momento o bebé pode nascer. Durante estes quatro meses ainda não consegui cair em mim de que nunca mais vou ver o André. Na minha cabeça ele vai entrar por aquela porta a qualquer momento e vai abraçar-me como só ele sabia. Na minha cabeça ele vai voltar e eu vou poder sentir os lábios dele nos meus e vou poder voltar a ver o sorriso que me fazia feliz, mesmo nos dias mais cinzentos. O pior é que desde que o amor da minha vida se perdeu algures no Oceano Atlântico todos os dias são cinzentos e não tenho o sorriso dele para me fazer sorrir. Nestes últimos quatro meses o meu sorriso desapareceu totalmente e apenas o meu filho me leva a conseguir ter algum pensamento positivo para o futuro. Desde que o André desapareceu deste mundo o meu maior apoio tem sido o Afonso que tem sido mais do um padrinho para este bebé. Não podia ter um melhor amigo e um melhor cunhado. Ele insiste que eu devia tirar o anel de noivado porque cada vez que olho para o dedo me vou abaixo e me lembro de tudo o que perdi, mas na verdade eu não o quero tirar porque me lembra de tudo o que tive um dia.

-Matilde, queres comer alguma coisa?- pergunta Afonso vindo da cozinha.

-Não, Fonsinho. Estou um bocado mal disposta e com algumas dores. Amanhã temos que ir ao hospital.

-Não vais amanhã não senhora, vais é agora- vem até mim ajudando-me a levantar.

-Não é preciso, eu aguento- insisto.

-Não tens necessidade disso. Vais agora. Sabes bem que se o André aqui estivesse era o que ele te diria para fazer- pede usando o mesmo argumento que usa diariamente para me motivar a fazer pequenas coisas como dar um passeio ou simplesmente comer.

-Eu sei- sinto os meus olhos a arderem- Vamos, então- digo por fim e vamos até ao carro. Vamos a meio do caminho quando começo a sentir uma dor que suponho ser uma contração e sinto as minhas pernas ficarem molhadas, dando indicação de que me rebentaram as águas e que ele vem a caminho- De pressa Afonso, ele vai nascer- grito.

-Estamos quase a chegar, aguenta, guerreira- diz tentando acalmar-me e em menos de 10 minutos chegamos ao hospital, onde um segurança me transporta numa cadeira de rodas pois já não consigo caminhar com as dores.

Afonso

Entramos no hospital a correr e levam a Matilde para o que eu suponho ser a sala de partos. Não consigo suportar vê-la a sofrer para trazer ao mundo o único pedaço que aqui ficou do André.

-Quer assistir ao parto, papá?- pergunta uma enfermeira.

-Padrinho- respondo de repente cabisbaixo- O pai vê de lá de cima, tenho a certeza.

Quando dou por mim estou com uma bata e proteções a taparem todas as partes do meu corpo e tenho a mão de Matilde a agarrar a minha. Sei que ela tem de ser forte agora, por ela e pelo bebé. Ela ainda não me disse o nome dele.

-Vamos lá, guerreira. Tu consegues- incentivo-a a aguentar mais um pouco pois a médica disse-lhe para ainda não fazer força.

-Eu quero o André, Afonso. Eu quero o André de volta- chora quando se apercebe que este seria o dia mais feliz da vida do meu irmão, mas que infelizmente a sua vida foi tirada antes de ele sentir a maior felicidade que alguma vez poderia vir a sentir.

-Ele está a olhar por nós- aperto-lhe mais a mão.

-Já pode fazer força, Matilde- indica a médica e Matilde exerce toda a força que consegue arranjar no seu frágil corpo. Sei que neste momento ela queria que fosse o meu irmão a agarrar-lhe a mão e a dar-lhe a certeza de que tudo iria correr bem. Também eu queria o meu irmão de volta e este é provavelmente o dia mais agridoce que pude viver nos meus 22 anos de vida. Saber que de dentro da minha irmã emprestada vai sair a maior vitória da sua vida mas que teve a sua maior derrota ao perder o André está-me a destruir emocionalmente. O meu coração está partido e não há nada que o possa concertar. Ver o sofrimento que a Matilde teve quando lhe contei que o André se tinha perdido para sempre fez-me sofrer em dobro. Sofrer porque perdi o meu irmão para a morte e sofrer porque parti o coração da minha melhor em pedacinhos que só o tempo e o sorriso do meu afilhado vão poder concertar. A Matilde faz força mais um par de vezes e finalmente ouve-se um choro aguardado à nove meses. Um choro que traz a vida, tal como um choro a levou. Talvez ele chore porque nunca vai conhecer o pai, ou talvez chore porque ainda tem uma mãe que o ama tanto como amou o seu pai. Ou talvez saiba que tem a responsabilidade de emendar o coração da mãe, sem saber que o seu também vai ser partido. Pela primeira vez nos últimos quatro meses vejo um sorriso verdadeiramente genuíno formar-se nos lábios de Matilde assim que o bebé é posto no seu colo e consigo ver várias lágrimas serem libertadas pela morena e cairem no meu afilhado que leva a mão à cara da mãe, tentando emendá-la sem ter a noção do que a partiu.

-Ele é lindo, Afonso- diz emocionada- É tão parecido com o pai- diz levando a minha mão à do pequeno ser humano que acabou de encher de alegria este quarto e o nosso coração.

-Pois é- verto também lágrimas ao perceber que ele é a cara de André- Que nome é que o nosso pequeno herói vai ter?- pergunto enquanto ele agarra o meu dedo.

-André. O nome do nosso herói é André- diz por fim dando-lhe um beijo na testa e olhando para mim, buscando, talvez, aprovação.

-Vais ser o nosso herói, meu pequeno- digo depositando um leve beijo na cabeça do pequeno André e um na testa de Matilde. Eu sei que ele vai ser uma luz nas nossas vidas, tal como André sempre foi.

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Olá. Então? O que acharam deste capítulo? O pequeno André vai ser uma luz no caminho deles? By the way, faltam dois capítulos para o fim. Espero que estejam a gostar e obrigada por todas as leituras e comentários, significam muito para mim. Muito obrigada.

Memories- André Silva (2ª temporada de Oops...I love you)Where stories live. Discover now