Capítulo 30

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A música que tocava no rádio era relaxante. Mas tenho que admitir, queria conversar porque o tédio predominava. Mas estava com aquele problema: Que assunto? Aah vai assim mesmo.

- Hum... - Olhei para a janela. - Como vai a vida?

- Ocupada, fora de controle. Mas e a sua?

- Está mais ou menos, sabe? Meus pais e o Garry em uma cama de hospital... Isso é perturbador. Mas vida que segue. - Olhei para o chão e dei uma risadinha tensa.

Até ali foi o único assunto, que se encerrou mesmo sendo curto. Apoiei meu braço na janela e encostei a cabeça. Olhei a estrada e as pessoas. As vezes eu queria ser apenas alguém comum por aqui. Ou mesmo, nem ter parado nesse planeta.

*Suspiro*

- Dayana, você não se lembra como e por que veio parar aqui?

- Nunca tentei me lembrar ou procurar saber. Mas minha memória é tão ruim, que nem sequer lembro os rostos dos meus pais biológicos.

Parecera que quando coloquei meus pés aqui, tudo que era de lá ficou lá. Nem sabia como lembrei o nome do meu planeta natal.

- Quer tentar?

- Mas Ruan, temos que ir para o aeroporto!

- Eu sei, não vou parar o carro. Você só vai falando que prestarei atenção.

Não custa nada.

Fechei os olhos e os apertei. Tentei pensar no planeta Rischelf, alguma coisa, alguma lembrança. Minha cabeça estava começando a doer levemente, por enquanto. Quanto mais eu tentava me aprofundar nas memórias, mais apertava meus olhos e a dor piorava.

- Eu não consigo. - Disse ainda com os olhos fechados.

- Dayana, vê se te ajuda. Quando eu dizer a palavra "nome", diga os dois primeiros nomes que vierem em sua mente.

Fiz o que ele mandou. Esperei ele dizer para me arriscar. Quando disse, me aprofundei mais, parecendo que iria ficar presa na minha mente novamente. Mas realmente veio dois nomes, dois nomes exóticos.

- Filvilan, Zamalion.

- Como?

- Filvilan, Zamalion. - Repeti. - Foram os dois nomes que vieram em minha cabeça.

- Agora, pense nesses dois nomes.

Fiz o que ele mandou. Esses nomes não eram estranhos, parecera já conhecê-los. Minha cabeça estava ficando leve, parecendo que estava com sono e o pescoço não aguentava. Mas algo eu estava lembrando. Uma voz máscula chamando o nome Filvilan repetidamente.

A nave estava praticamente doida, os funcionários corriam de um lado para o outro e voltavam com armas. Papai estava procurando a mamãe comigo no colo, ele a chamava várias e várias vezes, mas mamãe não respondia. De repente, a nave se mexeu fazendo papai e eu cair no chão. O painel de controle geral começou a piscar e uma luz vermelha iluminou tudo. Muitas pessoas na porta de saída armadas, parecendo esperar algo horrível entrar. Até que por um momento, eu e papai nos levantamos, e ele me pegou no colo novamente. Saiu correndo para direções aleatórias, parecendo ainda procurar a mamãe. No meio daquele barulho todo, uma voz fina e bonita se destacou. Era baixa, mas conseguimos ouvir. Era a voz de mamãe? Sim, era. Ela veio até nós e passou a mão em meu rosto, abrindo aquele sorriso que eu adorava ver todos os dias. Mamãe balançou a cabeça para papai, e os dois comigo no colo, correram para uma sala. Ficamos em cima de algo, e um funcionário fez aquilo nos teletransportar para algum lugar. Foi uma viagem curta, em um piscar de olhos. Senti o beijo de papai e mamãe, e parecia ser um beijo de despedida pra sempre. Me deixaram em um gramado e desapareceram. Jamais soube o que estava havendo naquela nave naquele dia. Mas alguns minutos depois, vi várias estrelinhas aparecendo no céu junto com um facho de luz enorme. Eu sentia que sair de Rischelf para explorar outros planetas não era bom. Mas percebi que não ter falado foi uma tragédia.

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