Capítulo 4

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CERCA DE DUAS horas mais tarde, Jéssica e William foram despertados por um baque. Will foi o primeiro há ouvir o barulho.

— O que foi isso, William? — Jéssica tinha os olhos tão esbugalhados que parecia que explodiriam das órbitas.

— Não sei... — falou hesitante seu marido, mais para si do que para sua esposa.

— Will? O que...

— Chiiii!

Jéssica aquietou-se, olhando em volta um tanto inquieta. E naquele mesmo instante começou a tremer nervosamente. William estava imóvel, num silêncio profundo, depositando todos os sentidos em sua audição.

Então ouviu ruídos lá fora. Houve um estalo e Will de orelhas em pé achou que fosse algum galho sendo partido por algum animal, pelo vento ou... pisado. Pisado? Sim, havia ruídos e pareciam...

Alguma coisa estava se movendo.

Jéssica, já mergulhada em um medo que rastejava lentamente para um terror feroz, também ouviu e encolheu-se o máximo que seu corpinho permitia naquele banco.

— Pode ser um... — começou, mas William — impaciente e detestando o medo dela e sabia muito bem disso — colocou o dedo na boca.

— Quieta, droga! — mandou ele e ficou prestando atenção.

... Urso!, completou a mente dela.

Alguma coisa estava se aproximando. Alguma coisa estava se aproximando, mas... por todas as direções?

William, através do vidro, espiou para fora. Ficou olhando por um instante hipnotizado aquela escuridão verde num sinistro e agourento silêncio.

TAP!

Afastou-se com um salto e soltou um grito espantado. Jéssica na sequência era uma histérica sirene. William era como uma rocha, duro de assombro e incredulidade.

Era... era... uma mão!, sua mente balbuciou. Era uma mão humana ou parecia ser uma! E bateu... bateu bem diante de meus olhos! Era uma mão! Uma mão!

— Will! William! — Jéssica não falava, mas gritava. — O que foi...!

TAP!

E esse foi no vidro onde a esposa de William estava colada. Ela deu um sonoro berro, deu um pulo e se agarrou no marido, apavorada agora.

TAP! TAP!

No vidro da frente e no capô.

E para o horror de William a conclusão veio numa sequência de TAPs! As marcas que ficavam nos vidros eram vermelhas e eram de mãos, mas como? Não havia ninguém lá fora. Então, desesperadamente acendeu os faróis e piscas do veículo. Ele sentiu os pulmões murchar como se o ar ali dentro tivesse acabado. Ninguém!

TAP! TAP! TAP!

Agora era em todo o carro.

Jéssica gritava.

E William que desta vez não a detestou por isso — e sabia muito bem disso! — começou a gritar também.

— Por favor, faça isso parar, Will! — ela soluçava com as mãos no rosto.

Os socos e tapas na lataria do carro continuavam. Will mudo de horror, tinha os olhos esbugalhados e olhava para todas as direções.

O carro estava sendo atingido por socos e tapas num ritmo crescente. Uma chuvarada de tapas e socos.

Os Tavares ficaram, o medo eletrificando e queimando suas carnes, escutando o troar ininterrupto de tapas e socos lá fora. Em toda lataria do veículo.

Quando os primeiros sinais do dia surgiram tudo estava terminado e minutos antes Jéssica em seu descontrole acabara perdendo a consciência. Porém, William, num estado de choque mesmo sem qualquer voz gritava e só parou quando o último TAP! soou na parte de trás da lataria do porta-malas. E tinha acabado para o coração chocado de Will.

PERDIDOS - Livro 1 e Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora