Capítulo 2

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— PUTA QUE PARIU! — gritava William dando murros no volante às 16:55 daquela tarde de janeiro. Foram vários socos descontrolados que, às vezes, atingiam a buzina. O som de buzina repentina fazia com que Jéssica desse vários e finos gritos de susto.

Ele voltou a gritar com sua esposa porque estava dando aqueles gritinhos insuportáveis que odiava – e sabia muito bem disso! A choradeira voltou e logo as mesmas lamentações de desculpas outra vez.

Depois disso, meia hora mais tarde, Jéssica estava encolhida no banco ao lado do motorista olhando para frente em um silêncio que seu esposo odiava e sabia muito bem disso. Jéssica recordara que no início tudo parecia magnificamente ótimo. E como foram ótimos aqueles minutos antes de entrarem naquela estrada. Conversaram e riram muito juntos como sempre faziam. Sempre fora assim, desde quando ainda eram apenas colegas universitários e nada mais. Até cantaram juntos. Seria umas férias perfeitas não fosse aquela maldita estrada em que sabe lá Deus por que seu marido quis se meter nela. Não! Claro que sabia!

Todo aquele inferno só por um capricho dele de querer pegar um atalho. Porque se achava o marido mais esperto do planeta.

Porque queria mostrar o macho que nele haveria. Porque simplesmente era teimoso demais para ouvir sua esposa. Mas, pensando bem, o primeiro quilômetro rodado naquela estrada cheia de crateras como se estivessem rodando na própria superfície da Lua foi sem problemas.

E foi logo depois de completarem esse primeiro quilômetro que as coisas começaram a ficar um tanto quanto complicadas.

O primeiro sinal surgiu de dentro do próprio veículo. E simplesmente, ela quis morrer com este fato.

O rádio pifou.

Primeiro foram às estações que simplesmente sumiram. Uma após a outra. Jéssica achou esquisito. Que área era aquela em que todas as estações sumiam como fumaça?

Depois, um cheiro de queimado e... puf! Pifou!

William ficara "fulo" da vida com isso, pois o aparelho só tinha um mês de uso. Mas não se preocupou tanto com isso. Estava na garantia.

Bem, tudo certo, não?

Não!

Jéssica estressou com isso. E agora naquele lugar de lugar algum era de tirar qualquer santo de sua paz.

William, que não suportava mais aquele odiado silêncio sufocante dentro do carro, abriu a porta e saiu. Olhou para a esquerda e nada viu além da estrada de terra mergulhar naquela floresta. Virou os olhos para a direita e foi praticamente a mesma coisa, mas era por onde tinha entrado nessa enrascada. Pensou em voltar o caminho a pé, mas isso seria burrice e claro que sua esposa não iria de jeito nenhum. Então, o que ia fazer?

William voltou para dentro do carro e girou a chave na ignição. Jéssica que até aquele momento estava imóvel, olhando para frente totalmente muda, começou a rir.

William olhou para a esposa de sobrancelhas erguidas e, é claro, odiando-a por isso e ela sabia muito bem disso.

— Qual é a graça? — disse irritado.

Ela não respondeu, continuou rindo. Não podia parar, porque isso a fazia se sentir melhor.

— Que há de tão engraçado, hein? — e ele, inconscientemente, girou mais uma vez a chave.

E isso fez Jéssica rir ainda mais.

— Porra! — gritou dando um soco no volante de novo. — Você acha isso engraçado, é?

As risadas pararam e Jéssica olhou para ele de maneira tão fria que William sentiu certo receio, uma espécie de medo.

— Sabe qual é o seu problema? — disse ela num tom de voz baixa, mas penetrante como a flecha de um arqueiro que atravessa o coração de seu inimigo. — É não aceitar, admitir, uma única vez sequer que possa errar ou que não sabe de tudo! E que tudo tem que ser do modo e na hora como você — neste ponto ela apontou um dedo fino para ele — acha melhor!

William olhou para ela, espantado.

— Jéssica, ouça... — começou ele e então parou.

Estava incrédulo com o fato e realmente fora pego de surpresa.

— O que é? Agora você vai bancar o macho, não é?

Então, sentiu algo impelir do ponto mais profundo de suas entranhas. Algo que saiu dilacerando tudo que estava no seu caminho de forma muito selvagem. E essa forma explodiu num absoluto ódio por sua esposa. Naquele momento odioso sentiu vontade de realmente dar lhe um soco bem entre os olhos para ver se isso pelo menos iluminasse seus miolos e entendesse quem era quem. Não era machismo, mas respeito! Mas tudo bem, pensou, rangendo os dentes, contra a própria vontade, não faria e nem dizer nada porque ele não era esse tipo de homem que resolvia seus problemas e até os dos outros nos punhos. Tentaria ser o mais cauteloso possível. Mas isso, naquele momento, já estava parecendo algo realmente impossível. E ele estava dando um duro danado para ser cauteloso e sabia que a esposa também o estava fazendo. Estavam exaustos e irritados. A viagem havia — e estava! — sendo árdua com muitos problemas. Quilômetros antes de chegarem ao primeiro posto de gasolina depois de percorrerem vinte e tantos quilômetros, um pneu furou. E aí veio a dureza de trocar esse maldito pneu. Foram horas perdidas de uma manhã muito quente trocando pneu e William odiando por tudo isso. As mãos ficam sujas. E mesmo que consiga uma limpeza espetacular com um trapo, o cheiro permanece. Sem mencionar a sua própria transpiração. E só pensar naquela troca infernal fazia sua mente arder de ódio.

É, ficaria quieto. E assim não revidou; apenas limitou-se a olhar para aquelas árvores lá fora.

PERDIDOS - Livro 1 e Livro 2Onde as histórias ganham vida. Descobre agora