Capítulo 5

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Capítulo 5

Alyssa

Presenciar o encantamento da Isa, ao abrir os presentes que eu havia trazido era um presente para mim. A infância era a melhor fase da vida, repleta de inocência e fantasia.

— Lindo, dinda. Vou mostrar a vovó. — ela se aproxima de mim, dá um abraço gostoso e sai tentando correr, arrastando o pula-pula que era maior do que ela.

— Isa, como fala para agradecer pelos presentes? — Isa para no meio do caminho, vira-se e voltando para mim e para a Duda abre um enorme sorriso, ela nem precisava agradecer, aquele sorriso valia muito mais do que um obrigado.

— Brigada, dinda! — E sai da varanda saltitando como uma coelhinha. Uma bola de pelos, meio amarronzados, segue-a parecendo pedir sua atenção. É impossível não rir com a imagem.

— Ainda não consigo acreditar que ela se enfiou em um buraco no muro da escola para salvar a Lika. — Quando a Duda tinha me falado sobre a proeza da filha eu não sabia se sorria, ou se ficava em pânico.

— Imagina como eu fiquei quando vi metade do corpo dela na calçada e a outra metade no jardim da escola? Acho que envelheci uns vinte anos. — Começamos a rir.

Cheguei cedo à casa da Duda, não eram nem três da tarde. Queria aproveitar o máximo possível para matar a saudade. Vovó Clara e tia Liliana iriam vir mais tarde e como hoje era domingo e Duda falou que convidou todo o clã Bianucci para o jantar de boas vindas, eles viriam no final do dia.

Gaspar não estava em casa, de novo, dessa vez ele tinha saído para comprar um ingrediente que tinha faltado para a sobremesa, Duda disse que ele não iria demorar muito. Laura estava adiantando algumas coisas na cozinha, que ele havia pedido e nós duas estávamos na varanda colocando o papo em dia. Assim que cheguei e vi a Isa, abracei-a, apertei e cobri de beijos, enquanto ela ria sem parar, dei os presentes que havia trazido e agora eu e Duda estávamos novamente sozinhas. Ela parecia bem melhor do que estava no dia anterior.

— Parece bem melhor do que ontem. — Comento depois de termos passado um tempo apenas admirando a vista da cidade.

— E estou. Chamo de dias bons e dias ruins. Quando faço a quimio eu tenho uns dois ou três dias ruins com enjoos, vômitos, tonturas, um mal estar horrível que parece não acabar nunca. Alguns dias que não faço quimio, também tenho esses sintomas, dores no estômago, enjoos, mau humor, enfim. Nos dias bons como hoje, não sinto tantas dores ou quase nem um dos outros sintomas — ela fecha os olhos, respira o ar fresco da manhã e sorri um sorriso que não tinha visto no dia anterior. — Nestes dias me sinto quase normal, sou muito grata por eles.

— Isso é muito bom. — Duda abre os olhos, direciona sua atenção para mim, sorri e depois volta a olhar a vista da cidade novamente. Ela sempre parecia transmitir uma paz, serenidade, acredito que essa seja a palavra certa. — Vai ganhar essa luta, eu tenho certeza disso — seguro sua mão que repousava sobre seu colo. Sinto seu leve aperto sobre a minha.

— O que pretende fazer? Agora que está de volta. — Pergunta mudando o rumo da conversa e se voltando para mim.

— Não sei, pensei em tentar uma vaga na orquestra do estado. Lembra-se do Cássio? Ele era orientador e coordenador do curso de Música da UFSC. — Ela assente — Então, agora ele é diretor artístico da Orquestra Sinfônica de Santa Catarina, a central é aqui em Blumenau. Consegui o número dele com uma antiga colega da faculdade, que agora toca na orquestra. Talvez consiga um teste ou prova. Tudo é possível, vou tentar. Também estava pensando em retomar minhas aulas na ONG. Sinto saudade das crianças. — Sorrio ao lembrar-me delas.

Perdas e Ganhos (DEGUSTAÇÃO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora