Capítulo 1

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A floresta era bem mais assustadora perto da noite. A cada passo que dava, podia sentir que estava começando a ficar perdida em meio aquelas enormes árvores. Já era quase noite, e cada vez mais não conseguia enxergar o que estava na minha frente. Mas precisava continuar correndo. Sabia que era culpa minha ele estar atrás de mim, então teria que me manter firme, enquanto tentava fazer com que ele me perdesse de vista.

Podia ouvir seus passos logo atrás de mim. Sabia que ele estava se aproximando, e se me alcançasse, estava totalmente ferrada. O ar gelado entrava pelos meus pulmões e já estava começando a ficar com dificuldades para respirar. Minhas pernas já estavam cansadas, mas sabia que não poderia parar, e não poderia deixar ele me pegar. Não novamente. Droga, por que fui tentar me esconder dentro da floresta? Deveria ter pensado melhor! Talvez se tivesse voltado para a comunidade, eu conseguiria despistá-lo. Mas agora já era tarde, e precisava pensar em outro plano rapidamente. 

Continuei correndo entre as árvores, o mais rápido que podia, quando por descuido, olhei para trás e acabei tropeçando e caindo na neve. Rapidamente me levantei, e continuei correndo. Uma vez, enquanto treinava, Amy havia me dito que quando um inimigo corre atrás de você, a última coisa a ser feita é olhar para trás. Eu deveria ter seguido esse conselho, porque agora aquele tombo havia dado a ele uma chance a mais de me pegar, e já estava ficando sem tempo. Conseguia escutar sua respiração ofegante chegando cada vez mais perto, e quando suas mãos encostaram em mim, senti um leve arrepio, seguido de um frio na barriga. Eu perdi. Ele havia conseguido me pegar.

— Não tem mais para onde correr! — disse ele, com um sorriso no rosto. — Sabe muito bem o que isso significa.

— Não, por favor! — respondi suplicando. — Qualquer coisa menos isso! Não vou aguentar passar por tudo novamente!

— Acabou Joy... você perdeu. — respondeu ele, me derrubando na neve, enquanto me fazia cócegas.

— Droga Noah! — falei, me contorcendo de tanto rir. — Pare, por favor!

Era a terceira vez naquela semana que ele conseguia me alcançar. Não importava o quanto tentava correr, no final eu sempre perdia. Ele era mais velho e mais alto que eu, mas ainda sim conseguia correr por muito tempo sem se cansar. Quando dei a ideia para a brincadeira, achei que pelo menos conseguiria ser mais rápida que ele. Noah dizia que corria mais porque era garoto, e que as garotas são mais lentas, mas eu não acreditava nisso. No fundo sabia que um dia iria ser mais rápida que ele, e precisava apenas continuar treinando mais.

Com o passar do tempo, ficar trancafiados dentro daquela comunidade estava ficando tão chato, que resolvemos dar algumas "escapadas" uma vez ou outra, sem que a Governadora soubesse. Como no início da noite havia troca de turno dos guardas, aproveitamos e conseguimos sair sem sermos vistos. Antes que pudessem sentir nossa falta, estaríamos em nossos dormitórios, como se nada tivesse acontecido.

É claro que a parte mais difícil disso tudo foi convencer Noah de vir comigo. Depois de ouvir seu discurso todo preocupado de como aquilo seria perigoso, e que se seu pai soubesse o mataria, acabei conseguindo convencê-lo apenas com um sorriso. Era estranho, mas sempre que sorria, aquele garoto ficava sem ter qualquer tipo de reação, e no fim, sempre concordava comigo automaticamente. Não sei como aquilo funcionava, mas que estava dando certo estava.

Depois de retirarmos a neve de nossas roupas, caminhamos até o topo de um morro perto de onde estávamos. Ás vezes, quando ainda tínhamos tempo, ficávamos observando o que restou da cidade dali de cima. Era um dos passatempos que havíamos criado durantes esses anos. Ficávamos ali, imaginando como tudo era antes, e inventando histórias sobre as pessoas que viviam naquele lugar, antes do apocalipse chegar e tudo ficar congelado.

A Promessa - Sobrevivendo Abaixo de Zero - Livro IIOnde histórias criam vida. Descubra agora