Nono

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- Mari, o que você está fazendo aqui? – O Bê pergunta baixinho saindo de seu apartamento e deixando a porta entre aberta atrás de si. – Desculpa, Mari, mas hoje eu realmente não posso estudar, sei que você precisa e tudo mais, só que...

- Calma, Bê – digo já me sentindo ofendida por ele pensar que eu realmente vim até aqui para estudar depois de ter lido as suas mensagens. – Eu também não sou tão pirada por estudar assim. Fiquei preocupada com você, poxa.

Ele me olha nervoso e espia por cima do ombro a sala de sua casa, cruzo meus braços ficando realmente chateada por ele achar que eu simplesmente não me importo com o que acontece com ele, como se eu apenas pensasse em estudar e estudar e meus amigos não significassem nada.

- Desculpa – suas bochechas coram de constrangimento quando fala e ele abaixa os olhos, dá para ver que ao redor daqueles mini-oceanos há manchas escuras, o que me deixa ainda mais preocupada. – Eu não posso receber visitas, na verdade. Minha mãe está dormindo e com o sono muito leve, qualquer barulho ela acorda.

- Tudo bem. – Respiro fundo imaginando o que fazer agora. Na hora que li suas mensagens eu nem sequer pensei em nada, apenas joguei o celular para dentro da mochila e corri para aqui, mas agora que cheguei percebo que eu não tinha bem um plano. Isso foi uma coisa totalmente sem noção, Beatrice ia ficar orgulhosa. – Você pode me dizer o que aconteceu com ela? Fiquei preocupada.

- Tudo bem, espera um minuto aqui fora, ok? – Apenas aceno com a cabeça enquanto ele entra no apartamento e fecha a porta, não demora muito e ele aparece de volta. – Entra, ela está dormindo mais pesado, só não faz barulho, tá bem?

Eu aceno com a cabeça e entro na sala, está tudo levemente bagunçado, algo que nunca vi em todos esses anos de amizade com o Bernardo. Geralmente na sua casa as coisas estão sempre no lugar, até mesmo em seu quarto. Tiro meu tênis, torcendo para que meu pé não tenha suado tanto quanto minha testa, e deixo ao lado da porta junto com a mochila.

- Minha mãe estava saindo hoje de manhã para ir ao centro da cidade comprar mais tecidos para uma encomenda que ela recebeu – ele começa a contar baixinho e eu tenho que me inclinar levemente para frente para poder ouvir sua voz. – Só que quando ela estava no ponto de ônibus um carro desgovernado subiu na calçada e acabou atropelando ela.

- Meu Deus – falo mais alto do que eu deveria e ele me olha com um tom repreensivo. – Como ela está, Bê?

- Ela quebrou a perna esquerda e passou a manhã inteira no hospital, chegamos tem pouco menos de uma hora – ele diz olhando rapidamente o relógio de pulso.

Seu rosto está contraído de preocupação e eu sinto um impulso muito grande de lhe dar um abraço, o que me contenho para não fazer. Se fosse há alguns meses eu nem teria hesitado em lançar meus braços ao redor do seu pescoço, mas alguns meses atrás esse simples gesto não faria com que meu coração acelerasse loucamente. Alguns meses atrás uma simples expressão de afeto não me faria ficar louca. Então apenas me contenho e pego sua mão, apertando-a de leve, o que já é suficiente para fazer com que uma corrente elétrica percorra o meu corpo.

- E agora, Bê? – Pergunto receosa de sua resposta. Sei que a situação deles é complicada e um acidente assim pode fazer tudo ficar ainda pior.

- Não sei, com a perna assim ela não pode costurar – ele diz dando de ombros e esfregando o rosto com sua outra mão. – Eu vou tentar pegar um trabalho de meio período no clube, é o jeito.

Penso em argumentar com ele, afinal se tiver que pegar um trabalho de meio período só terá tempo de estudar de manhã na escola e estamos em ano de vestibular. Eu sei o quanto ele quer passar para  faculdade, mesmo não tendo certeza do curso ainda. Porém, também sei que para ele a situação é muito mais difícil do que para mim seria. E com certeza a sua mãe nesse momento é mais importante.

Como conquistar seu coraçãoWhere stories live. Discover now