Ele entra no pub com o casaco pendurado no braço. Eram oito horas, a noite já havia caído e ainda fazia calor.
O estabelecimento parecia algo saído de um western, salpicados pelo espaço amplo havia simples conjuntos de mesas redondas rodeadas de bancos e cadeiras. Da entrada ao balcão descansava um tapete encarnado de tecido rasca, mas bem tratado, estilo passerelle, onde passariam os casais e grupos de amigos antes de escolherem os sítios onde se sentariam. O chão era de madeira castanha e de brilho velho que condizia com a mobília dispersa. No centro estava o grande balcão com uns bancos solitários alinhados e fixos no chão, senta-se num deles, esperando que alguém o viesse atender.
. Não pairava no ar mas estava gravado nas paredes, dos todos os anos de fumadores que passaram por ali, – charuto de filtro de baunilha.
«Se calhar vim muito cedo, este sítio está completamente vazio.» - pensou, olhando em redor.
Uma luz palpitante capta a sua atenção no canto da sala. Inclina-se para trás para ver melhor. No canto repousava uma mesa acompanhada de um só banco contra a parede e a lâmpada por cima piscava, incessantemente.
A baixa luminosidade néon do bar confortava-o, misturada com a fraca luz dourada das lâmpadas normais, no entanto aquela luz irrequieta deixava-o nervoso.
Alguém surge da cozinha, trazendo copos tilintantes num grande tabuleiro – o bartender. Um senhor de idade muito aprumado, com franja encaracolada e curta dividida para os lados e um cuidado bigode grosso e pontiagudo. Apesar da aparência idosa e porte não muito grande, o ancião tinha uma estatura alta e elegante, pelo que envergava uma camisa branca enrolada pelos cotovelos e um tratado colete escuro.
Pousa os copos e pergunta sério:
- Boa noite cavalheiro, vai desejar algo?
- Boa noite. Uma cerveja .
Serve-lhe uma cerveja.
- Noite calma, não? – pergunta o bartender, fazendo conversa.
- Aqui parece que sim, mas de caminho para cá, passei por um acidente de carro...
O senhor olha para ele quando ia agarrar um copo para abrilhantar, demonstrando um pouco de surpresa.
- Que má sorte. – comenta sério.
- É verdade. – Dá mais um trago refrescante.
Nas prateleiras do topo, por detrás do balcão, algo azul e pequeno capta a sua atenção. Uma borboleta azul néon e num grande frasco de vidro; a seu lado outras tantas em frascos diferentes. Recorda-se que lera sobre elas nessa tarde, no jornal.
- Ah que engraçado... este é aquele pub conhecido pelas borboletas...
- «O Mariposa». É verdade. Estas são as «Papillons Affligés» ou então em português as «Borboletas de Luto».
- É isso mesmo!
- São muito raras. Costumam encontrar-se em cima das campas dos mortos ou perto de coisas mortas. aqueles que morreram sozinhos.
- Que animal tão estranho! – diz o outro.
- E belo! – Acrescenta o senhor.
A luz do canto era uma presença constante no extremo do seu campo de visão, e já o incomodava.
-O senhor não se importa?... – pergunta apontando para lá.
-Esteja à vontade. – Esboçou um pequeno sorriso, enquanto prosseguia a abrilhantar os copos.
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O Mariposa
Mystery / ThrillerUm ninguém em particular, entra num bar peculiar. Este bar vende um produto único no mundo e uma história sentada, num sombrio banco de canto. Capa tem direitos de autor.