Capítulo [1]

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- Emma

  Estou a sensivelmente seis passos da porta de casa. Os gritos já se ouvem com nitidez, provocando um ardor intenso na zona do meu coração e uma breve alteração da minha respiração. Eu não quero entrar. Não de todo, mas se eu não entrar ele virá atrás de mim. E será pior.

  Puxo a chave de casa do interior da mochila e avanço até à mesma. Os gritos aumentam a cada passo, fazendo o medo consumir-me.

  Eu só pedia para ser normal, e poder viver uma vida normal, mas eu não podia, porque tinha-o a ele. Rodo a chave, e a minha respiração encontra-se ofegante.

  Assim que a porta se encontra aberta tenho logo uma prévia visualização do que eu já calculava que se estaria a passar. O meu pai, encontrava-se diante da minha mãe enquanto a feria, tanto física como psicologicamente.

  "PARE! EU JÁ ESTOU AQUI"- corro de encontro à minha mãe, com o intuito de que o próximo pontapé que se avizinhasse, se dirigi-se a mim.

  "Oh olha, só quem chegou"- disse com a sua voz rouca com um travo a álcool e uma pequena porção de ironia.

  "Bata-me a mim, deixa-a a ela!"- a minha mãe cuspia sangue enquanto chorava compulsivamente.

  "Como queiras, vadia!" - dito isto, socos e pontapés enchiam o meu corpo.

   Enquanto era pontapeada palavras de ódio e repulsa eram dirigidas a mim enquanto eu me perguntava que mal fiz eu para merecer tanto ódio por parte do meu próprio pai.

  A minha mãe tentava interferir, mas a certo momento as palavras tornaram-se incertas e comecei a ver tudo turvo. E foi aí que me apaguei.

3 horas mais tarde

   Beijos eram depositados por toda a minha face, enquanto pequenas gotas escorriam pela mesma. Abri lentamente os olhos, podendo constatar que as lágrimas quentes que me percorriam as bochechas pertenciam à doce mulher agarrada a mim.

"Mãe..." - sussurrei ainda sem forças para formar uma frase inteira.

"Shhhh, descansa meu amor. Ele já se foi."

  O seu estado deixava-me melancólica. Ela não tinha forças, estava desprotegida, impotente, débil, imóvel, mas principalmente vazia. Assim como eu.

  A única coisa que nos preenche são hematomas e tristeza.

  A cada dia que passa, a sua alma é sugada por um homem sem escrúpulos, e eu daria tudo para recuperar a alma que o meu pai roubou da minha mãe.

demons + harryWhere stories live. Discover now