Capítulo 4

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— Natasha, eu podia ter te ajudado financeiramente. Você podia ter ficado com a casa. — Dante me olha magoado, alguns dias depois, sentado ao lado de Angelina. Estamos em nossa cafeteria favorita no centro da cidade por conta de um encontro marcado por mim. Contemplo uma mãe passar pela porta de vidro, empurrando um carrinho de bebê.

— Já está decidido, meu irmão. Eu mal consigo passar por aquela rua. — Tomo um gole do meu café.

— Querida... — Angelina se inclina para a frente, a expressão levemente contorcida. — Tudo ainda é muito recente.

— Nem tanto, já se passaram cinco meses, quase seis... — Dante se pronuncia, com um vinco no meio da testa. — O que parece é que ela não quer melhorar.

— Dante! – Minha amiga chama a sua atenção.

Ergo uma mão.

— Deixa ele, Angelina. Meu irmão está ressentido comigo porque não lhe dei atenção nos últimos meses e tomei essa decisão sem perguntar sua opinião. Mas é justamente isso que quero mudar. E aqui, não consigo. Por isso vendi a casa e vou fazer uma viagem. Preciso desse tempo longe.

— Vai gastar todo o dinheiro que recebeu em uma viagem? — A voz dele sai esganiçada. Alguns clientes à nossa volta espiam a nossa conversa. Coro.

— Vou. — Mantenho-me firme.

— Mas...

— O dinheiro é dela, Dante. — Angelina o repreende mais uma vez, abrindo um saquinho de açúcar e adoçando o chá de camomila do marido, estrategicamente pedido por mim. — Se Natasha acha melhor fazer isso, que faça.

— Eu só acho uma imprudência. — Ele balança a cabeça, inconformado, e se joga de costas na cadeira.

— Imprudência ou não, é o que decidi fazer. Já até acertei a venda com os amigos da Luiza na semana passada.

— E para onde pretende ir? — Minha cunhada quer saber, girando o líquido com a colherzinha de plástico.

— Israel.

A expressão dela se abre como uma flor desabrochado em câmera rápida.

— Que máximo! Acho que vai fazer muito bem a você, acender a sua fé, que anda meio murchinha.

— Também pensei nisso — confesso, com um sorriso desanimado. — Sempre quis conhecer Israel. Viajei a vida toda para ajudar os outros, sem escolher o destino. É claro que aproveitei e me diverti nas viagens o quanto deu, mas dessa vez estou fazendo isso exclusivamente por mim.

Ambos se entreolham.

— Bom... — Meu irmão gêmeo toma um gole do chá. — Já que está decidida, o que podemos fazer por você? Disse que tinha um pedido importante... — Ele apoia o queixo nas mãos.

Cutuco minha bolsa e coloco um chaveiro sobre a mesa, ao lado do prato com migalhas de muffins. Ambos ficam examinando-o por algum tempo.

— Preciso que se desfaçam de tudo que tem dentro da casa — declaro.

Os olhos de Angelina se arregalaram.

— O quê?

— Doem tudo — confirmo, procurando ser forte. Só Deus sabe o quanto essa decisão está sendo difícil para mim. Minha amiga não se conforma.

— Você não deve fazer isso. São as suas coisas, coisas do Thiago, do bebê...

— Por isso mesmo não quero mais nada — falo e miro as migalhinhas da mesa que estou jogando no chão, como às poeiras da minha vida.

— Natasha — Dante respira fundo, parando o movimento da minha mão. — Não seja tão radical. Isso tudo vai passar e você vai querer algumas recordações deles.

— Não, não vou. Já bastam as redes sociais. Essa droga de Facebook — aponto o celular sobre a mesa — vive me mandando fotos de recordações. Tomo um tiro no peito a cada vez que recebo uma.

Será que eles não entendem o quanto essas lembranças me fazem sofrer?

— Tudo bem. — Angelina assume a conversa e manda um olhar significativo para o marido. Se bem conheço a minha amiga, ela está tramando alguma coisa. — Quando passará as chaves aos novos donos?

— Semana que vem.

— Deixa que eu cuido disso. — Ela pega o meu chaveiro e o guarda. — Quando pretende partir?

— Amanhã.

Ela para com a bolsa na mão e me olha, como se enfeitiçada por uma bruxa.

— Como assim? Seus pais já estão sabendo?

— Sim, contei assim que comprei a passagem no último sábado.

— E o que eles acharam?

— Meu pai acha que será bom para mim, minha mãe quer me internar num manicômio.

Dante dá uma risadinha.

— Eu imaginei.

— Obrigada por fazerem isso. — Reúno as mãos deles nas minhas. — Sério, mesmo. Por mim, eu mandava o caminhão de lixo passar lá e levar tudo. Mas prefiro que vá para doação.

— Imagina! — Angelina toca meu rosto. — Você sabe que pode sempre contar com a gente. Já contou para a Ana? Acho que ela deve saber, já que é sua líder espiritual.

Líder da qual eu morria de saudades, diga-se de passagem. Fico triste de ela ter tido que partir em viagem após o primeiro mês do meu luto. Ana havia sido uma peça fundamental para eu não enlouquecer quando tudo aconteceu. Devo muito às suas orações e apoio.

— Mandei um e-mail para ela. Ana e Rico estão na Bahia. Sabe como ela é, não para em lugar nenhum.

— É. — Angelina sorri. — Eu vi algumas fotos deles no Instagram. Parece que estão ajudando a construir uma escola em uma comunidade carente. E você, já fez o roteiro da viagem?

Cruzo os braços sobre o peito.

— Imprimi um na internet. Mas, na verdade, estou pensando em deixar as coisas acontecerem naturalmente.

— E quanto tempo pretende ficar por lá? — os dois perguntam juntos.

Abro um sorriso curto. Dante suspira e me olha fundo nos olhos.

— Você não comprou a passagem de volta, não é?

Levanto um dedo para pedir a conta enquanto meu irmão revira os olhos de um jeito dramático. Ele me conhece bem demais.

***

Capítulo que vem, bora pra Israel!!! Já conhece Tel Aviv? Não? Então dá uma espiadinha...

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Nem tão tarde assimWhere stories live. Discover now