Coincidências ou não?

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Olá,

Segue um capítulo do livro do nosso bipolar Max. <3

Que eu faço tudo errado sempre
Sempre -Só Hoje, Jota Quest

Ele estava de costa de modo que não conseguia visualizar bem o rosto da Cora. A conversa era baixa, mas conseguia sentir a tensão que se infiltrava no corpo do Max, suas mãos pendiam soltas ao seu redor, tinha a cabeça levemente inclinada. Parecia absorto no que a Cora falava.

Tudo em mim implorava para ir embora, mas meus pés custaram a me obedecer.

- Só não quero que isto continue assim. - Minha irmã afastou-se um pouco, seu rosto estava vermelho e molhado de lágrimas. Nunca vi a Cora naquele estado vulnerável na vida. Seu rosto estava toldado de uma angústia pesada. Jamais pensei testemunhar um momento daquele. Will costumava dizer que tornamo-nos veneráveis diante apenas daqueles que nos conhece suficientemente bem para acatar a nossa dor como sua. Tenho a certeza que era isto que Cora estava a fazer. Max a segurou pelo braço antes dela se afastar ainda mais. Antes de presenciar a cena que faria meu coração quebrar mais uma vez, arrastei meus pés para longe deles.

Tinha a total consciência que aquilo que existiu entre Max e Cora ainda voejava ao redor deles. O relacionamento deles havia sido duradouro, e por mais que fosse duro admitir, sabia que Max tinha um dia amado e se importado o bastante com a Cora. Nunca soube de fato o motivo do término, sabia apenas que havia sido ela que dera um ponto final na relação.

Um sentimento inútil apertava-se dentro de mim ameaçando estourar para fora através de lágrimas. Andei mais de pressa por entre os corredores que me levariam ao banheiro. Saul e Cléo viam na minha direção de mãos dadas, ela sorria com algo que ele lhe confidenciou. Não queria ser parada, peguei o celular do bolso e comecei a digitar qualquer coisa aleatoriamente.

- Esqueci de perguntar, como está o seu joelho? - Saul não deu a mínima para a possível atenção que dava ao celular. Cléo levantou ambas as sobrancelhas quando levantei o rosto para encará-los.

- Acho que melhorou com a partida de futebol. - Balancei o joelho para conferir se alguma coisa acontecia. Não senti nada. - Estou completamente curada. Um milagre. - Tentei sorrir.

- Ainda aconselho você procurar um ortopedista. Apenas para ter a certeza que está tudo bem mesmo. Vou marcar com o doutor Vasco uma consulta para ti. Amanhã confirmo contigo.

- Não precisa, Saul.

- Precisa. - Cléo continuava me observando como se tentasse descobrir o que estava escondendo dela.

- Então, obrigada. - Apontei para o rosto suado. - Vou indo, sua mãe já deve estar esperando impacientemente por nós.

Sabia que se continuasse ali, a Cleonice faria perguntas até contar tudo que acabara de ver.

Subi os degraus de dois em dois, a batida dos meus pés descalços na madeira retumbava no silêncio da casa.

Olhei para o cumprido corredor decorado com vários tipos de molduras em madeira, entrei na primeira curva à direita. Fechei a porta atrás de mim, suspirei ao conferir minha fisionomia na parede em espelho do banheiro. Pedaços de grama se prenderam em volta do emaranhado de fios na minha cabeça, tentei pentear a confusão amarrando tudo com um barbante que encontrei sobre o balcão de perfumes.

Sentei em frente ao espelho e me encarei por vários segundos. Precisava reorganizar minhas ideias, minha vida. Era uma mulher adulta e amadurecida de trinta e cinco anos, não uma adolescente que descobriu o amor recentemente. Pensei no Max e naquilo que ele foi em minha vida. Talvez acabei criando um sentimento ilusório pelo fato dele ter sido em grande parte da minha vida meu herói. Alguém que esteve presente nos momentos difíceis. Ele me defendeu, me apoiou, incentivou. Deixei então que o sentimento crescesse dentro de mim de tal maneira que não conseguia enxergar outra pessoa para além dele. Aquilo não podia ser amor. Tinha atado meu coração em algo que não era real. Precisava urgentemente reparar aquilo.

No caminho do coração - Quarto livro da série Envolvidos no Amor. #Bessa4Onde as histórias ganham vida. Descobre agora