Notas Sobre Ele [ Evak ]

☆ third call ☆

Na terceira ligação eu estava... preocupado. Isak estava triste.

"Meus pais estão bravos comigo" ele disse parecendo cabisbaixo e eu suspirei, fazendo uma careta de dor em seguida.

Ele não riu.

Que pecado.

"Quer fugir para o meu sofá?" brinquei e ele soltou uma risadinha baixa que me fez sorrir fraco "O que houve, pequeno?"

Pequeno.

Que diabos...? Por que eu o chamaria assim? Eu nem sei o tamanho dele!

"Pequeno?" ele perguntou de maneira divertida e eu ri, sentindo minhas bochechas queimarem e arregalando os olhos.

Você está corando por isso, Even? Por favor.

"Bom, eu realmente acho que é um apelido fofo e é melhor que bebê ou qualquer outro... Mas é extremamente brega também! Eu vou parar, desculpe."

As palavras saíram atropeladas por minha boca e Isak riu em seguida de maneira alta do meu jeito afobado. Sua risada me fez sorrir e acalmar, automaticamente ficando melhor que antes, como se minha preocupação continuasse ali, mas em um nível menor.

"Não, não pare" ele murmurou em seguida e soltou uma risadinha. "Eu gostei, pode me chamar assim."

Minha sobrancelha se arqueou e eu fiz uma careta. "Sério?"

O garoto do outro lado da chamada riu outra vez e fez um som em concordância que me fez sorrir.

"Eu vou ter que mudar de escola..." Isak resmungou, logo em seguida ouvi um barulho que deveria ser ele se jogando na cama. "Isso é uma merda"

"Seus pais estão bravos com isso? Por que vai ter que se mudar?"

"Yeah, estão" ele riu de maneira um pouco sem graça e eu suspirei. "As pessoas são más."

Isak não disse muito mais que isso sobre sua mudança de escola no meio do ano letivo.

Eu não questionei também, eu nunca questionava.

Eu não sei o por quê de eu nunca questionar.

"Eu sei..." fiz uma careta e eu de leve, Isak sempre era bom com as palavras, para me fazer sentir bem, mas eu não sabia o que dizer. "Você não deveria se... chatear com isso."

Fiz outra careta.

Qual é, esse era o seu melhor, Even?

"Não estou chateado, está tudo bem" Isak murmurou fazendo aquela sua voz divertida de sempre e eu neguei com a cabeça, mesmo que ele não pudesse me ver.

"Não está, querido." pela primeira vez, minha voz soou doce e eu respirei mais uma vez tentando me acalmar para que eu não falasse nada de errado. "Eu não sei, apenas sinto, okay? E de maneira impressionante, não quero te ver para baixo. O que você disse sobre a vida ser um show de horrores? Se divirta, pequeno!"

Isak gargalhou com a menção de suas palavras e eu quase me senti um pouco melhor com isso. Quase orgulhoso.

"Show de horrores não são bons para as aberrações."

Meus olhos se arregalaram com as suas palavras e eu não soube o que dizer, muito menos entendi o que ele queria dizer com aquilo. Seu tom ainda era divertido, mas eu conseguia sentir sua mágoa.

"O que...? O que tá acontecendo, Isak?" perguntei de maneira assustada e Isak riu ainda mais da minha preocupação.

"If you like coffee hot... Let me be your coffee pot..." sua voz começou a cantarolar em meu ouvido, parecia feita de veludo, rouca, linda. Eu não soube como reagir, por mais que soubesse que ele só queria que déssemos por encerrado aquele assunto. Havia algo em Isak Valtersen que não era lindo? "Eu amo essa música."

Eu suspirei. Algo está acontecendo e eu não sei porque quero parar.

Por que só me meto em encrencas?

"Me conte quando quiser..." eu sussurrei com a voz falhando, parecia que aquelas simples palavras arranhavam minha garganta para poder sair.

"I just wanna be your... I wanna be yours..." Isak riu voltando a cantar e eu ri também, por mais que de maneira fraca. Minha cabeça estava um nó e eu não sabia o que dizer naquele momento. "Está tudo bem comigo, boo. Não se preocupe."

Eu não queria mesmo me preocupar, Isak.

Mas me preocupo.

Já fazem cinco meses que eu o conheço, ele só trouxe bagunça, mas tudo bem. Eu posso conviver com a bagunça.

Mas não posso conviver com seus gemidos de dor em meu ouvido.

Mas o que eu posso fazer?

Nada.

"BOO!" Isak gritou animado de repente e eu pulei assustado no sofá, rindo em seguida de sua repentina animação. "Está passando As vantagens de ser invisível na TV, eu amo esse filme! Seria realmente legal ser invisível, né?"

"Você invisível?" eu ri e neguei com a cabeça. "Com certeza não."

"Oras! Por que?!" ele exclamou parecendo indignado e eu ri outra vez.

"Você é lindo, babe. Não se esqueça disso, não importa o que as pessoas digam. Não acredite nelas se for diferente disso: você é lindo. Se fosse invisível, o mundo perderia a oportunidade de ver o quão lindo você é."

"Idiota!" ele sussurrou e eu ru baixinho. "Você me fez corar! Você é tão confuso..."

"Claro que sou, quer dizer, não!" me atrapalhei em minha resposta e a risada gostosa de Isak ecoou por meus ouvidos outra vez. "Por que sou confuso?"

"Uma hora é todo sério, às vezes é um babaca e então você me elogia. Por que me elogia?"

"Porque é a verdade, babe.." sussurrei mal me dando conta do apelido. "E você precisa ouvir."

"Eu não te elogio tanto!" Isak parecia nervoso com minha resposta, aquilo só tornava tudo ainda mais divertido.

"É porque eu sei que sou gosto e maravilhoso."

"BABACA!"

A risada do garoto outra vez me contagiou e eu não tive forças para conter o meu próprio riso, que saiu alto pela minha boca.

Porém, ainda assim, eu não me esqueci de tudo que está acontecendo. Eu não sei o que é, mas sei que afeta Isak e sua felicidade, e isso não me agrada nem um pouco.

O que estou fazendo?

O que ele está fazendo comigo?

Um, dois, três...

Eu não me importo.

Eu não...?