Capítulo 1 - Descontrole - Aurion

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Aurion - Fazenda do Outeiro - 7422C

Era quase meia-noite, as luas iluminavam o mundo de tal forma que parecia dia. Feixes de luz atravessavam por entre as copas das árvores fazendo cintilar a poeira ainda suspensa no ar. Mephisto se erguia no céu estrelado, próximo ao centro, com seu brilho selvagem em um tom amarelado. Calista, sua irmã, logo o acompanharia com sua timidez pálida, em uma dança que ocorre a cada dez anos e que servia de base para centenas de histórias de amor sobre jovens casais. Dentro de três horas a convergência aconteceria.

Apesar de não ser o melhor momento para feitiços de ilusão, a ocasião é extremamente propicia para feitiços que manipulam as forças, já que estes requerem uma enorme quantidade de Mana. A cada década a terra era irradiada de tal forma que, se usado de maneira correta, um feitiço poderia ser potencializado em até dez vezes o normal. A ironia é que mesmo fenômeno que serve de berço para o romantismo cria o período perfeito para a guerra.

Eles cavalgavam calmamente pela noite, como se possuíssem todo o tempo do mundo. Aurion estava em seu corcel negro como a noite, tão grande quanto um demônio e igualmente feroz. Devian por sua vez, cavalgava em um garanhão cinzento não tão robusto e de aparência humilde, mas igualmente feroz. E por fim Asha, em sua égua marrom sem nenhuma mancha aparente, o mais próximo da cor do fogo que ela conseguiu encontrar.

Há meses viajando e há duas semanas sem se alimentar, Aurion estava impaciente, a fome se tornava insuportável. Não era uma sensação comum de fome, era algo que ia além. Não é de alimento físico que ele precisava, mas sim de alimento espiritual. Assim como um vampiro necessita de se alimentar da força vital de suas vítimas, Aurion necessitava se alimentar da sua força mágica, de seu depósito natural de magia, diretamente de suas almas. Aurion era um viciado em Mana.

Consumir a energia de animais atenuava sua ansiedade, no entanto cada vez mais seu corpo ansiava por consumir humanos. Sua habilidade lhe concedia um dom formidável, o deixando em um patamar único de poder. Cada vez que se alimentava Aurion se tornava mais forte, mesmo que temporariamente.

Durante a história das eras, poucos foram os homens capazes de extrair energia de tal forma, e mesmo destes, raros eram aqueles que se afundavam tanto ao ponto de se tornarem viciados. Para chegar a tal, seria necessário se alimentar de centenas de almas. Todo poder possui um preço, e Aurion bem o sabia.

No início ele achava desagradável, observar a vida se esvaindo em suas mãos. Mas há muito ele deixou de se importar com tais trivialidades. Pelo contrário, passou a apreciar a sensação de poder. A certeza da submissão de suas vítimas, os efeitos imediatos em seu corpo. Era inebriante!

Por anos ele vinha rastreando o Estigma, um artefato mágico que há séculos fora escondido daqueles que os Criadores consideravam como Indignos. As pessoas têm uma capacidade limitada para acumular a Mana dentro de si. Com treino é possível estender esse limite de duas a três vezes o natural. As lendas dizem que o Estigma quebrava essa barreira, o cristal de seu centro, concebido pelo próprio Caos, possuía a capacidade de guardar energia indefinidamente, alimentando e potencializando os feitiços do usuário em retorno! Achar o artefato era essencial para concretizar seus planos.

Ele e seus companheiros seguiram pistas em ruínas há muito perdidas, cada uma se mostrando tão infrutífera quanto a outra. A voz em sua mente o guiava aqui não, ela dizia. Em outras vezes falava, pistas aqui. Mas não desta vez, Aurion podia sentir a energia pulsado pelo ar, uma intuição que nunca o traiu, a certeza de que sua busca finalmente terminaria. Desta vez, a voz nada disse.

Ao se aproximar do pequeno vilarejo do Outeiro, a vontade de saborear cada alma que ali se encontrava oprimia seu peito, o sufocava. Ao fechar os olhos ele podia sentir o pulsar vindo dos moradores locais, a impressão que ele tinha era de que eles o chamavam, sussurrando em seus ouvidos, o atraindo da mesma forma que a magnetita atrai o ferro. No entanto, respirou fundo, balançou a cabeça num intuito de negação e começou a cantarolar numa tentativa de distrair a mente "Pequena criança não tenha medo...", ele sabe o estrago que pode causar, e também sabe a atenção desnecessária que iria atrair, muito estava em jogo para arriscar.

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⏰ Last updated: Jun 23, 2017 ⏰

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