O sangue chama

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A pousada ficava no meio da rua principal. A vila em si era composta por um amontoado razoável, algo entre 80 e 90 casas em volta da rua central e uma rede de vielas e ruas menores que se interligavam a ela. As casas, feitas de tijolo de barro e madeira, tinham apenas um andar em sua maioria, devido a simplicidade do povo que lá vivia. Elas eram menores do que a maioria das casas que Klaus estava acostumado a ver. A pousada era um dos maiores edifícios da vila, como era previsível. Possuía três andares, com amplas janelas no último. A placa da pousada balançava ruidosamente ao vento que soprava na rua principal.

- Vamos gente - Mia disse - está um frio maldito aqui.

O grupo entrou na sala, hesitando brevemente quando a onda de calor do fogo e de mais de quarenta pessoas atingiram os quatro. Não demorou muito para que uma ajudante abrisse caminho entre os clientes até a mesa onde o quarteto havia se sentado. Após anotar os pedidos a moça deslizou em direção a cozinha para buscar a comida. Ao mesmo tempo uma ou duas pessoas perceberam a chegada de desconhecidos; não havia estrangeiros em uma vila como aquela.

Stern usava um traje normal de rastreamento dos Caçadores e carregava seu arco, não havia nada de significativo nisso em uma região em que todos pareciam esperar problemas, estava com o rosto coberto pelo capuz, para que não notassem que ele era um Celeste. Klaus vestia uma jaqueta de couro simples sobre a calça justa e as botas, com a espada e a faca no cinto ao redor da cintura. Mia, discreta como sempre, vestia uma malha de aço e calças de couro, calçando, como os amigos, botas de caminhada. Mariele usava o mesmo conjunto, mas com uma camisa de renda por cima da malha. Os quatro tinham decidido se vestir assim para que não chamassem atenção e pudessem reunir informações antes de se apresentarem para o prefeito no dia seguinte, como mandava o código de ação dos Guardiões.

Três homens estavam sentados na mesa ao lado. Pela aparência, pensou Klaus, eram provavelmente comerciantes. Ele podia vê-los enquanto Stern, de costas para eles, estava mais perto e em melhor posição para escutar o que diziam, mas isso não fazia muita diferença para o Celeste.

- Um desastre, foi o que ouvi falar - dizia um homem com uma quantidade razoável de farinha na frente de sua camisa, provavelmente o padeiro local. - A fazenda dos Benson foi dizimada, ao que parece. Oito mortos e o resto espalhado só a lua sabe onde, tentando não acabar como os outros. Meu genro esteve lá apenas uma onzena atrás. Se tivesse esperado a tempestade passar, talvez não conseguisse escapar.

- O que vocês acham dessa idéia do prefeito de chamar Guardiões para cá? - perguntou outro homem. Era um punhado de anos mais novo que o suposto padeiro. Possivelmente um mercador ou coisa semelhante.

- Provavelmente é a decisão mais acertada, são guerreiros experientes em sua maioria e não cobram por seus serviços, nada além de um acordo comercial por serviço. Melhor do que chamar os Expurgadores. -São os "cavaleiros" da Fé, uma nova religião quesurgiu nas ilhas ao oeste. A primeira expressão religiosa a surgir em mais demil anos, desde que os Antigos impuseram o decreto das Fés Inomináveis

Os dois companheiros se apressaram para concordar

- Charlatões religiosos, isso é o mais certo. Dizem que podem manter a Ilha em segurança. É engraçado como pessoas religiosas falam que a coisa que inventaram vai proteger eles... até que vem um bestial e lhes arranca a cabeça. - disse o terceiro que ainda não tinha falado. Ao dizer essas palavras, ele olhou para cima e, pela primeira vez, notou os quatro Guardiões. Murmurou uma advertência cautelosa para os outros, em seguida inclinaram-se sobre a mesa e continuaram a conversa em voz baixa, inaudível no ambiente cheio de ruído que era a taverna.

Mia ergueu as sobrancelhas para Mariele, que sacudiu os ombros de leve. Não conseguiriam mais nada de útil daquele lugar. Quando a garçonete veio recolher os pratos e perguntar se queriam algo mais, Stern recusou com um gesto de cabeça e deixou um punhado de moedas na mesa para pagar a refeição. Era hora de ir embora.

Depois da EscuridãoWhere stories live. Discover now