A descida para o Inferno

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"Não pense nas coisas como bem e mal, não há tal divisão. Um Guardião vê Caos e Ordem, nada mais; os dois lados são necessários, nós ajudamos a mantê-los em equilíbrio"

-Manifesto da Guarda, capítulo 7-Sobre a fé


Quando Mariele tinha seis anos, ela disse seu primeiro Nome, era uma coisa boba "brilho", mas o brilho que ela chamou era uma faísca e ela estava no jardim de sua casa, continuou a Chamar e Chamar. Então a grama se incendiou. E também um pinheiro enorme que tinha nas proximidades. Logo após isso sua mãe chegou e fez chover, apagando o fogo, e depois a levou até o gramado e mostrou os filhotes de pássaros mortos. Existia um ninho no pinheiro. Mariele se lembra de ter gritado: "eu não me importo". E então sua mãe segurou o rosto da filha entre as mãos e disse: você tem que se importar. Ela disse: "Marie, não adianta poder mudar o mundo se não for torná-lo um lugar melhor, você precisa usar seus dons para fazer a diferença, para servir a vida, não à morte". Aquele dia sempre volta à mente da Sinergista, foi o momento em que soube o motivo pelo qual existia.

Também foi a última vez que ela ouviu a voz da mãe.

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Os quatro companheiros estavam viajando em direção a um vilarejo que tinha feito um pedido de socorro oficial aos Guardiões: duas semanas atrás houve uma grande explosão em uma ruína dos Antigos e desde então plantas desconhecidas que matam as plantações começaram a aparecer e várias pessoas desapareceram e outras relataram ver uma criatura rondando a mata próxima durante as noites. Eles deveriam somente fazer o reconhecimento da situação, já que a criatura não fora identificada.

Mas aquele caminho parecia não ter fim.

Mia conhecia os mapas tão bem quanto qualquer outro Guardião, mas cinco dias naquela trilha irregular que as pessoas da região tinham a ousadia de chamar de estrada incutira nela a lição de que um mapa é uma coisa, mas o terreno, outra bem diferente. Para oeste de onde estavam não havia colinas ou montanhas, apenas uma planície quase onipresente, com as folhas de suas longas árvores ondulando como ondas quando o vento soprava. Conforme viajavam, começaram a ver fazendas espalhadas entre os bosques que se estendiam do outro lado da estrada. Felizmente, aqueles lados tinham muito tráfego e passavam as noites em estalagens e pousadas ao longo do caminho.

O dia estava bastante agradável, apesar do tédio causado pelos longos dias seguidos de viagem. O céu era de um azul profundo e, muito acima deles, grupos de aves passavam ocasionalmente. Não havia edifícios à frente nem pessoas, somente o campo aberto e a estrada. A ausência visível de estalagens e fazendas deixava claro que seria necessário acampar ao ar livre quando fossem dormir. Quando a noite começou a cair eles afastaram um pouco a carruagem da estrada principal, em busca de um lugar para montar acampamento. A 100 metros de onde tinham parado havia uma pequena clareira. Uma grande árvore tinha caído ali fazia alguns anos, a julgar pela quantidade de musgo que cobria o tronco. Ao cair, tinha levado várias árvores menores, abrindo um espaço razoável. Era o lugar ideal: não muito longe da trilha e quase imperceptível. Eles sabiam que um olhar não treinado com certeza teria deixado aquele lugar passar e era isso o que queriam. Com a sincronia gerada por anos de treinamento em conjunto eles se prepararam para o anoitecer.

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-Oh bem, eu já vi essa cara antes. Imaginei que você apareceria eventualmente. Não sei o que falar, vir aqui, depois de permitir que eu fizesse tudo o que fiz durante esses milênios é no mínimo... hipócrita. Suponho que esteja aqui para pedir que eu os poupe certo? Todas aquelas "vidas", você provavelmente está pensando. Eles são meu povo, você diz. Bom, tenho uma novidade que quero te contar: eu não me importo, eu não consigo me importar, não era nem suposto que eu tivesse uma consciência para começo de conversa. Sua mente te força a ter esses sentimentos, essas sensações, mesmo que elas só te prejudiquem, não foi por isso que veio para mim em primeiro lugar? Para pedir que os salvasse deles mesmos? Você era uma coisinha tão minúscula, tinha tanto desespero. Eu não fiz o que você pediu? Não destruí tudo e poupei uns poucos? Não permiti que aqueles malditos vermes arrogantes recomeçassem? Agora é minha vez de fazer o que quero, eles não me perguntaram se eu queria existir, não me perguntaram se eu queria fazer o que me criaram para fazer. Mas eu fiz. E o farei de novo. Agora suma e fique quieto com suas falsas emoções. Você está perdido Vex, sempre esteve.

Depois da EscuridãoWhere stories live. Discover now