DOIS

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O centro de Florianópolis estava lotado e eu tive que me esquivar várias vezes; o Sol da manhã começando a me fazer transpirar. Eu não faria com que esse meu desagrado descomunal em relação ao verão estragasse a minha manhã, principalmente o primeiro dia no novo emprego maravilhoso. Caminhei pela calçada enquanto pensava. Meu novo emprego era apenas a algumas quadras do antigo, então resolvi andar, sabendo que não precisava me apressar. O Thiago me dissera que poderia chegar a qualquer hora e começar a aprender aos poucos, sem pressa, mas me dispus chegar cedo, me sentir útil e viva novamente. Afinal, agora eu deixaria de ser uma empregada comum, não apenas mais uma das funcionárias do Marcelo. Eu administraria a empresa de advocacia recém-formada do meu namorado, quase noivo, posso dizer? Ai, sonhar, mais um sonho impossível...

Arrumei os óculos escuros no rosto (ok, eu odeio óculos escuros porque sou um pouco míope, a ponto de enxergar um rosto meio embaçado, e fala sério, esses óculos apenas atrapalham... Vou fazer o quê? É charmoso e graças a Deus por enquanto não sou obrigada a usar óculos de grau... Pelo menos não até ficar velhinha... Ok, esse parênteses está ficando grande demais). Passei as mãos no cabelo antes de entrar, uma gota de suor escorrendo pelas costas (não vamos entrar em detalhes). O prédio era novo, de oito andares, e o Thiago me explicara que usaria apenas dois deles enquanto ainda estava começando. Contou que era bem possível que algum sócio desistisse ou eles acabassem se mudando para outro lugar. Ele finalmente conseguira financiar seu sonho, ter seu próprio negócio de advocacia, portanto, tinha que começar por baixo, sem pressa, sem afobação. Sua família pararia de menosprezá-lo e tratá-lo como inferior por ser um cara de trinta de dois anos que ainda não casara, não tivera filhos e, bom, me namorava. Eu não me dava muito bem com meu sogro e sogra — porque, provavelmente, a gordinha aqui, que cursou Administração, não era a nora perfeita... Sabe o que mais? Dane-se. Eu seria feliz, eles querendo ou não. Acho que estava na hora de me impor. Talvez devesse começar a fazer isso, o que já teria me ajudado em muitas ocasiões. No entanto, não adiantava chorar pelo que passou, certo?

Abri a porta, senti o ar-condicionado beijar minha pele e cumprimentei uma funcionária de cabelos cacheados pretos e olhos verdes que estava em uma mesa ao canto. Li seu crachá e sorri, tentando me mostrar o mais profissional possível. Thiago não conseguira me levar até ali e apresentar o local antes, estava ocupado há mais de duas semanas resolvendo tudo e eu ainda precisava cumprir o horário na Contabilidade & Cia. Pedira demissão com um baita sorriso no rosto e ainda assim tive de ficar mais alguns dias e mal recebi a rescisão. O Marcelo só faltou dar pulinhos, o porco nojento.

— Bom dia, Fernanda. Meu nome é Daniella Fagundes, e...

— Bom dia, Srta. Fagundes. Pode subir, o doutor Pacheco me avisou que você chegaria hoje. — A voz dela era musical e seu sorriso animado. A garota parecia legal e não me olhou com nojo, pelo menos no primeiro momento. Talvez ela soubesse ser discreta, fingir que a pele sobrando do meu braço não a incomodava. Devia ser bem treinada, pensei enquanto caminhava para o elevador. Será que ela trabalhava para ele ou era funcionária de todo o prédio? Notei um segurança ali perto e acenei para ele, recebendo um meio sorriso.

Eu sabia que Thiago estaria no quinto andar, junto de seus sócios. O quarto andar também era deles, mas ele explicara que os sócios ficariam no andar de cima. Era estranho pensar como tudo ali funcionava. Dois andares inteiros para eles? Eu acho que devo ter entendido errado, afinal, a nossa comunicação não era o nosso forte nos últimos tempos.

Sei que devia esperá-lo, mas o que podemos fazer com a ansiedade? Afogá-la em um balde de água fria? Hmm, está tão quente, uma água gelada cairia bem... Pisquei, saindo do devaneio. Sentia-me muito contente por ele estar conseguindo realizar seu sonho e correndo finalmente atrás da felicidade — um tipo dela ao menos. Ele merecia e sei o quanto aguardava por isso. Olhei ao redor e duas mulheres de terno apareceram, andando rápido com seus saltos altos, e entraram no elevador na minha frente. Eu as segui, notando que elas evitaram me olhar, como se estivessem sozinhas ali. Pensei em dar bom dia, mas percebi que não valia a pena.

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⏰ Last updated: May 17, 2021 ⏰

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As GRANDES Aventuras de Daniella [degustação]Where stories live. Discover now