12-06-2017

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Nunca dei bola para o dia dos namorados. 

É apenas uma data comercial, para vender flores, ursinhos e bombons. Nunca dei bola para os cartõezinhos que recebia nesse dia. 12 de junho é um dia como qualquer outro, não há o que se comemorar. Sempre fui a favor desse discurso. Não que eu não fosse romântica ou que dizia isso apenas para superar o fato de estar sozinha. Sempre me achei a mulher mais romântica do mundo e desde os meus 14 anos que não passava um dia dos namorados solteira. Ainda assim, achava essa data superficial demais até mesmo para pensar em um jantar à luz de velas. 

Mas neste ano, neste primeiro ano desde muito tempo, solteira, eu me sinto diferente. Parece que esse dia tem um peso maior sobre mim. Talvez seja o fato de eu já ter passado dos trinta e ouvir sempre que ser solteira depois dessa idade é a definição do fracasso, talvez seja porque eu nunca estive solteira nesse dia, talvez seja porque talvez eu bem que gostaria de ganhar alguns bombons. 

Seja como for, estou me sentindo estranha. Mais estranha do que estava me sentindo. Eu já estava começando a me acostumar com essa palavra - SOLTEIRA -, mas hoje ela não me parece mais um elogio. Parece até uma ofensa. 

Sei que eu disse não estar procurando um relacionamento. Mas talvez eu esteja. Nunca estive tanto tempo sozinha. Às vezes sinto falta do Pedro. Sinto falta dos seus beijos de bom dia, sinto falto da sua voz cantando no chuveiro, sinto saudade do cheiro dele espalhado pela casa. 

Ele me ligou durante o final de semana todo, mas eu não atendi. Não atendi ninguém, para ser bem sincera. Nem o Carlos - que resolveu ligar - nem minha família e nem mesmo a Diana. Dei o final de semana de folga pra mim. Folga das pessoas, dos sorrisos fingidos, das desculpas. Queria ficar sozinha. Eu, eu e eu. 

O que foi bem produtivo, pois elaborei alguns currículos e hoje mesmo enviei alguns por e-mail. Também aproveitei para dar uma geral na casa, trocar as roupas de cama, arrumar a geladeira, limpar o guarda roupa e separar algumas coisas para doar. É incrível como a gente guarda tralhas sem nem perceber. É como se ao longo dos anos fossemos recolhendo tudo o que vemos pelo caminho, sem parar para pensar se queremos mesmo aquelas coisas ou não. Nos dão e nós aceitamos. Nos oferecem e nós recolhemos. 

É, talvez o que eu esteja sentindo hoje, só seja falta do que me ocupou por tanto tempo. Mas talvez eu não precise preencher com as mesmas coisas. Talvez eu possa buscar outras coisas para preencher todo esse vazio. Ou talvez, eu possa simplesmente deixar esse vazio aí. 

Toda a bagunça do mundoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora