10 minutos

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Boa tarde, Roberto.

Estou com um problema. Parece que uma mulher está fazendo de tudo para destruir a minha vida e eu preciso que você a retire do jogo, ela e suas peças. Será que você poderia fazer esse favor? Depois de tudo que eu tenho feito por você espero sua imensa contribuição. Ela está no apartamento Omeha, quarto 312.

Espero que entenda que além deles ainda tem mais uma pessoa vinda do Norte. Ouvi rumores que está atravessando o deserto apenas para me encontrar. Caso seja muito incômodo eu gostaria desta pessoa viva. Preciso cuidar dela com as minhas próprias mãos.

Do seu amigo, J.

~

De dentro das minhas pupilas eu consigo tirar os próximos 10 minutos. Vejo um policial, janelas com furos, machucado no braço e muito sangue. Tudo isso é óbvio que já aconteceu, mas foi muito rápido para que eu consiga pensar e vivenciar novamente. O que fica gravado na pupila ficou, mas não armazenou em meu banco de memórias.

Tudo isso foi sem sentido para mim, mas vamos voltar um pouco no tempo. O cadáver está me dando uma chance de fugir. Dez minutos, faz três desde que acordei e só sei disso por que tenho um relógio no pulso e incrivelmente eu tinha reparado no relógio assim que tinha olhado pela janela dando de relance um olhar nas horas. O tempo vai mais devagar quando queremos que ele se adiante ou quando estamos ansiosos de mais por qualquer motivo.

Ou estou ficando louco e imaginando tudo isso quando na verdade estou na cama para receber a injeção letal por que eu matei o papa com aqueles frangos molengas de filmes pornôs, o que é um completo absurdo, ou tudo isso é real e tem algum sentido que no momento é completamente inexistente e inalcançável para que eu possa entender.

Não que eu tenha problemas para procurar uma resposta, que na verdade seria uma coisa muito boa, mas são perguntas demais e nenhuma informação. Isso me enlouquece. 7 minutos.

— Informação é a palavra do dia. — Digo rindo em desespero.

Pego um pedaço de papel que está em cima da pia no canto próximo ao corredor e retiro o caco de vidro da minha meia. Eu limpo, mas não parece resolver muita coisa então eu pego o tênis e o calço.

Um celular com toda a certeza seria uma salvação neste segundo. Então procuro um no meu bolso mesmo sabendo que as chances eram baixas. A casa está praticamente vazia e graças a Deus, sem ratos. É claro que eu não entro no banheiro para descobrir isso, mas quando volto para o quarto eu verifico na cômoda que também está vazia, nada mesmo em nenhuma das seis gavetas.

Logo em seguida olho embaixo da cama ond encontro um celular daqueles antigos que abre e fecham. Ele está bem perto do pé da cama como se tivesse caído do meu bolso quando me levantei. O modelo exato do celular era um da Motorola RAZR V3 e mesmo sendo antigo servia.

— Rato! — Fico desesperado ao pensar que pisei em algo peludo que felizmente foi a pantufa rosa.

Abro o celular e entro nos contatos, que está vazio. Nada que me diga de onde vim ou por que estou aqui, mas como tudo neste lugar não tem nenhuma informação. Será que era pré-pago para que a polícia não encontrasse quem estava por trás de tudo isso?

Penso em ligar para polícia, mas me lembro de que o cadáver ligou antes. Quem sabe o que ele não contou para eles. Tenho medo disso. Era inútil ter um celular e não poder ligar para o socorro ou para a minha mãe e poder chorar para ela.

Coloco o celular no bolso da frente da calça e volto para a sala. Eu observo o lugar e vejo uma cadeira de madeira então me sento com o maior cuidado já que essa cadeira parece aquelas de filmes antigos de comédia e ao primeiro sinal sua bunda beija o chão com a maior intensidade. Eu não queria que meus glúteos tivessem um encontro com o que eles chamam de sólido neste lugar.

10 minutosWhere stories live. Discover now