Prólogo

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Já sentiu a brisa do vento batendo em seu rosto, não muito gelada, em um dia quente. Essa é a sensação de paz que eu procuro sentir a muito tempo. Minha alma está liberta de tudo que antes pesava em minha consciência, mas não por que me arrependo de meus pecados. Mesmo que com o pouco de tempo que passei tendo todo esse ódio, eu simplesmente não aprendi nada.

Estou deitado na grama molhada do Parque Armistício com os olhos fechados. O sol está tão quente que o seu calor está queimando meu rosto. É o sol do meio dia com toda a certeza já que está bem no centro do meu rosto. Minha barba está branca e grande, já que eu não a faço a um bom tempo. Estou vestido de roupas sociais dos pés à cabeça e estão completamente imundas. Antes eram cinza, mas agora está quase no preto.

Então escuto passos pesados se aproximando de mim. Eles vêm na minha direção. Eu me inclino para o lado direito apoiando-me sobre o meu braço direito que estava com um corte horrível, mas já havia parado de sangrar. E então o vejo se aproximar de mim com um sorriso confuso. Como se pedisse permissão para aproximar. Suas roupas estão tão sujas quanto as minhas e ele tem um ferimento de faca na perna. Chegou até próximo de mim mancando. Ele não parece muito feliz e muito menos satisfeito.

Mas é o que acontece quando se busca vingança.

~

Meus olhos doem muito como se tivesse há muito tempo fechados. Sinto a remela impedindo que eles se abram. Então para se retirar a barreira que me impede de enxergar, eu passo os dedos secos e áridos nos meus olhos e tenho excelentes resultados. Consigo enxergar.

Quando começo a observar a minha volta eu percebo que não estou reconhecendo o lugar. Estou dentro de um apartamento que visualmente está muito acabado. Cama, porta, janela e uma cômoda. Não tem nada mais aqui dentro do quarto fora isso, mas ainda não reconheço o lugar. Eu não me recordo de como cheguei aqui ou o porquê nenhuma dessas peças ou papeis de parede eram familiares para mim. Tento me lembrar de alguma coisa da noite passada, mas sinto uma dor muito forte na minha cabeça. Não parece enxaqueca e nem mesmo resultado de um fim de balada malsucedida.

Com meus dedos passo a mão em meu coro cabeludo procurando qualquer machucado ou galo que poderia ser resultado de algum objeto que tenha caído sobre a minha cabeça. Talvez um vaso tenha caído na minha cabeça enquanto eu dormia, por isso olho no chão dos dois lados da cama e tudo que vejo é uma pantufa rosa. Não um par, apenas uma pantufa. Ela é peluda do lado de fora e esse detalhe me faz lembrar pequenos ratinhos asquerosos. Eu não gostava muito de ratos e pensar que se parecia com um me incomodava um pouco. Admito que eu fiquei encarando ela por tempo suficiente para ver se não sairia andando por aí como um rato de verdade.

Com essa excitação toda de ratos e perda de memória acabei me esquecendo de comentar o melhor dos detalhes, minha camiseta está cheia de sangue. E ele não é meu. Para uma camiseta branca comum, ela já estava começando a ficar rosa nas laterais onde não havia sangue e um vermelho bem forte no meio. Era bem vivo.

Isso me preocupa muito por que eu não me lembro de nada. Onde eu estou ou por que estou aqui com uma camisa que mais parece à menstruação do Godzilla é ainda uma dúvida bem cruel para mim. Eu sabia que estava encrencado de alguma forma, já que não é todo dia que você se vê em uma situação como essa. Você não acorda e fala para seus amigos:

"Ei! Minha camiseta está com sangue. Menstruei pelo umbigo".

Todo esse sangue me deixa angustiado e toda essa situação martela em minha cabeça como um juiz, mas de longe não é o que mais me assusta. De onde é que veio o sangue? Eu não sei e estou com medo da resposta.

10 minutosWhere stories live. Discover now