A Conselheira - Sessão 2 - Parte 2

2 0 0
                                    


Acabou que fomos eu e Riko. Pegamos cochês diferentes. Falei que iria me atrasar alguns minutos, queria checar uma coisa. Parei primeiro no Buraco Grogue. Pedi uma bebida, quebrando muito rápido meus votos de deixar o alcool para trás, e comecei a conversar. Quis saber se a guarda da cidade havia estado na região. Ninguém havia visto, o que era normal. A guarda ia pouco para a área, a não ser alguns membros corruptos para causar confusão. Então Giordani não sabia, ou não se interessava, pelo armazém. Fiquei sabendo, contudo, que a névoa verde também havia feito sua aparição ali mais cedo. E, com ela, surgiam todo tipo de rumores.


Depois de sair do bar, fui para o armazém. Riko já estava lá, esperando. Não me pareceu muito seguro para ela, mas nada lhe aconteceu. Tentamos abrir a porta, não conseguimos resultado algum. Perdemos uns bons minutos tentando resolver a situação quando acabou que Deimos chegou, e logo em seguida, Liam. Estavamos tentando decidir o que fazer, eu já planejava entrar no lugar à força quando, em uma última tentativa de abrir a porta sem causar estardalhaço, percebi que o mecanismo estava sendo operado do outro lado.

Não lembro o que os outros fizeram, mas eu tentei me esconder ficando logo ao lado da porta, encostado na parede. De dentro do armazém saíram duas criaturas pequenas, pareciam halflings ou anões vestindo várias camadas de pano. Foram os filhos da puta que me enfeitiçaram, ou coisa assim. Mas isso veio depois.

Primeiro eles perceberam onde eu havia tentado me esconder, e um delesveio para cima de mim com uma faca longa e enferrujada. O bastardinho não me acertou de primeira, mas na segunda conseguiu me fazer um corte. Deimos se escondeu atrás de mim e tentou direcionar meus golpes. Mas ele não era nenhum treinador de rinhas de boxe ilegal, como eu já havia tido. Só fez eu errar meu soco.


E então a ajuda chegou. Eu não sabia que era ajuda na hora que a mulher saiu das sombras. Reparei na máscara, que cobria parte de seu rosto. Então notei que vestia roupas leves, calças, uma armadura de couro, corpete e um cinto decorado de adagas. Não tive tempo para me preparar para esse novo inimigo. E nem precisei, porque a Vespa, como eu reconheceria ela depois, acabou ajudando a atacar uma daquelas criaturas.

Lian e Riko estavam ligando com o outro bicho daquela dupla estranha. Falavam coisas em uma língua estranha e faziam umas danças engraçadas em meio à luta. Soou pelo menos um tiro enquanto eu e Vespa tentavamos derrubar aquele ser. Consegui um dos meus melhores socos, e pensei que seria o suficiente, mas a criaturinha era estranhamente durona. Até onde vi, Vespa não conseguiu ferir o inimigo, mas seu jogo de pés e suas fintas me deram a brecha para que eu conseguisse acertar outro golpe, dessa vez derrubando aquele ser.

E a coisa caiu no chão e se desfez, como se nunca houvesse tido nada dentro daqueles quilos de panos encardidos. Já passei por muito nessa cidade. Vi lados ruins e bons dos homens, das mulheres e da lei. Testemunhei a crueldade dos ricos, a arrogância dos nobres. Até tive algum contato com magia. Mas uma merda como aquela me fez precisar de mais um trago. Ficou pra depois, e eu nem consegui descobrir o que eram aqueles bichos.

O segundo baixote já estava em cima de Liam, que tentava mais um tiro. Ele já parecia ferido, mas eu preferi chegar com uma rasteira. Derrubando ele no chão, talvez pudéssemos tentar interrogá-lo ou coisa assim. Não que eu tivesse muitas esperanças.

Foi aí que o miserável, mesmo deitado, tentou um pouco daquela dancinha estranha, e então pegou no meu pé. Logo senti uma onda de alguma coisa ruim, e quase tropecei. Antes que pudessemos fazer alguma coisa, Vespa atirou uma de suas adagas na coisa, fazendo ela desaparecer como a outra. Eu não tinha muitas esperanças de que conseguiriamos arrancar alguma informação, de qualquer forma.

Estavamos todos ali, de pé, e eu tropeçando sozinho. Sem nada nos colocando em uma luta sem sentido, as atenções se voltaram para a recém-chegada. Todos estávamos muito desconfiados, apesar da ajuda na luta ter mitigado boa parte de meu mau humor quanto a situação toda. Riko e Liam logo quiseram o que ela estava fazendo ali. A resposta foi faceira e um tanto quanto cínica: ajudando, oras.

Não foi a toa que o pistoleiro se irritou.

A jovem mulher explicou que havia ficado sabendo de nossa situação. E estava disposta a ajudar a resolver o caso, por acreditar que nós não éramos os culpados. Nos presenteou com um pouco de informação. Disse que havia visto e ouvido nossa conversa com Giordani, ás escondidas, e que ficara até mais tarde, para ver o capitão usando algum dispositivo mágico que criava uma imagem ilusória da conselheira, morta, com as roupas de quando a encontramos. Ele parecia analisar o cadáver para ver o que poderia descobrir. Mas aparentemente, não conseguiu muita coisa.

Os outros não se convenceram muito, mas eu nem estava prestando tanta atenção no caso. Forçava meus olhos e a memória, até que enfim percebi o que estava me incomodando, e reconheci a figura como senda A Vespa. Personalidade meio obscura, que nos últimos meses vinha causado problemas para as máfias locais. Quase a inimiga número 1 de alguns criminosos das docas e de outras regiões próximas. A identidade era secreta, mas eu simpatizava com quem quer que estivesse por trás da máscara. Não achava que estaria tentando nos prejudicar. Até agora acredito na vontade dela de ajudar. Parece coisa que esses mascarados vigilantes fariam, caso vissem gente em nossa situação. Não que eu não esteja com os dois olhos bem abertos. Ou melhor, não que eu não vá ficar com os dois olhos bem abertos quando eu conseguir enfim dormir após essa noite de merda. Mas estou disposto a confiar. Tenho certeza que ela teria conseguido abrir a porta. Deve ter habilidades que nos serão úteis.

Não sei o que eu esperava encontrar no armazém. Talvez sinais de que alguém havia retornado lá, ou algo que nós haviamos deixado passar. Não foi o caso. Mas havia uma mudança. Uma que eu não esperava, e que não precisava. Os papeis que apinhavam o chão do lugar agora estava todos queimados. Eu, e nem nenhum dos outros, fazia ideia do que tinha acontecido ou do porque eles serem importantes. Fui tropeçando junto com os outros em direção ao porão do lugar, onde encontramos a caixa. Tentamos descobrir como teria sido ela depositada lá, mas nenhuma ideia nos surgiu. Não havia passagem secreta, não havia sinal de nada. Saímos do armazém sem descobrir nada que pudesse salvar nossas peles.

A conversa foi breve e desanimada. Iriamos nos encontrar aqui no escritório, depois do almoço. Todos se separaram. Passei o endereço antes de irem. Fui andando para o distrito dos estrangeiros, tropeçando pelo caminho e chutando lixo da rua. Mais algum tempo, e cheguei aqui no escritório, passando pela porta sem tranca sem nem olhar se estava sendos seguido.

E assim finalmente termino os registros desse dia maldito.

Não tenho nenhuma esperança que o próximo será melhor.

You've reached the end of published parts.

⏰ Last updated: Jun 02, 2017 ⏰

Add this story to your Library to get notified about new parts!

Morte no Império de NanquimWhere stories live. Discover now