Capítulo 3

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Solaria acompanhou o príncipe pelos corredores até a sala de estudos. Não era essa a recepção que ela esperava ter quando chegasse, mas percebeu que algo estava errado: a sensação que ela teve quando adentrou aquele cômodo era o de uma iminente guerra. E aquela mulher... Era a mesma da festa! Sabia que ela me era familiar... Que grosseira! Eu não estou tão desarrumada assim... Estou?! Ela se desvencilhou da mão do príncipe.

- O quê? O que houve? Perdoe-me pela minha tia... Ela não é das pessoas mais educadas...

- Por favor, onde tem um espelho? - ela interrompeu Lunos.

- Um espelho?! Ali, princesa. - ele acompanhou com os olhos a jovem, que correu para seu reflexo.

- Minha nossa! Não é à toa que acharam que era uma mendiga! - as roupas de Solaria estavam sujas e amassadas, seu cabelo um ninho de emaranhados que ela sabia que a fariam chorar de dor quando penteados. E seus pés! Ah o que dizer daquilo tudo?! Sua mãe a mataria por aparecer daquele jeito perante um príncipe! Assim que ela chegara em casa, correu para os estábulos atrás de algum cavalo que a levasse até Everyon rapidamente. Nem pensou em trocar de roupa ou colocar algum sapato. Uma vez que Solaria colocava algo na cabeça, ela só ficaria tranquila novamente se fizesse a bendita coisa. - Olhe como estou! Como posso estar diante do príncipe desse jeito?!

E ele olhou. Mas ele não via nada disso: para Lunos, ela brilhava por inteiro, como uma chama. E daí que seus pés estavam sujos?! Ele não se importava com nada daquilo.

Ele caminhou lentamente até ela e se pôs a seu lado diante do espelho enquanto ela tentava, sem sucesso, tirar uns nós dos cabelos.

Por que o príncipe está com essa cara de bobo?!, ela pensou conforme olhava seu reflexo. Por algum motivo, o príncipe parecia ter um suave brilho emanando dele, algo que ela nunca vira em alguém. Os olhos azuis a olhavam com uma gentileza que ela jamais vira em ninguém.

- Princesa... Você está linda. Não precisa se preocupar.

Ela não sabia o que dizer. Mas por algum motivo, ela abriu um sorriso tão grande quanto o céu.

E ele não sabia por que, mas ele sempre se sentia feliz quando a via sorrindo.

- Venha, siga-me. - ele ofereceu sua mão, o que ela olhou e pegou.

***

A sala de estudos era toda amadeirada, e com estantes cheias de livros de uma ponta a outra da parede. Havia uma grande janela de vidro, com uma cortina pesada presa ao teto e amarrada num dos cantos, o que permitia a entrada da luz do dia lá fora, iluminando todo o ambiente.

- Por favor, entre, fique à vontade. - o príncipe caminhou até a primeira poltrona que viu e se jogou ali. Ele pareceu bem cansado.

- Espero não estar incomodando... Parecia que eu cheguei bem no meio de uma guerra...

- Pode-se dizer que era quase isso sim. - o príncipe riu fracamente.

- Posso ajudar em algo? - a moça perguntou com ar de preocupada. Ele a fitou por um tempo, com borboletas no estômago por vê-la preocupada com ele.

- Pode sim... Sente-se e me conte o que faz aqui. Talvez isso me distraia. - ele se ajeitou na cadeira conforme ela se sentava na poltrona no lado oposto a ele. Solaria puxou algumas rugas que se formaram no tecido amassado do vestido, tirou os nós da ponta do cabelo com os dedos. Por que você está tão nervosa?! Você só vai pedir-lhe desculpas, é o mínimo, já que ele tem sido tão gentil com você., ela pensava, mas um pensamento ficava batendo em sua mente como martelo: se ela dissesse o que queria e fosse embora, ele teria que voltar para aquela "zona de guerra", e pelo que ele aparentava, estava esgotado demais para isso. Ele precisa sair daqui.

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