Capítulo 2

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No dia seguinte Lunos acordou logo cedo. Não era hábito seu estar de pé logo de manhã, quando grande parte da casa ainda adormecia, mas algo dentro dele parecia não conseguir ficar deitado na cama por muito mais tempo. Então ele perambulou sem rumo pelo seu castelo, tão cheio de detalhes que muitas vezes ele tinha que parar para absorver as informações que a casa lhe dava.

- Filho, que faz aqui? - uma voz surgiu detrás do jovem. Era seu pai que vinha em sua direção. Já trajando suas vestes diurnas, o rei acabara de sair de uma reunião com seus conselheiros, que sempre gostaram de trabalhar com os primeiros raios de luz. - Não é meio cedo para estar já de pé?

- Ah, estou apenas olhando os desenhos do castelo. Nunca tinha reparado como o teto é tão cheio de arabescos. - disse o rapaz, olhando para cima.

- Lunos, está tudo bem? - o rei perguntou depois de um tempo.

- Ora por que pergunta? Estou ótimo!

- Porque você está com um sorriso bobo na cara. - e o regente riu - Se não lhe conhecesse diria que está com sorriso de apaixonado.

O jovem parou imediatamente suas observações. Com certeza o pai delirava. Enquanto o rei se afastava, Lunos correu para o espelho mais próximo. Ele tinha um sorriso bobo na cara! Mas óbvio que não era de apaixonado, ninguém fica assim de um dia pro outro. Ainda mais sem motivo algum.

- Ah, filho! Teremos visitas hoje.

- E quem seria? - ele murmurou para a careta do seu reflexo.

- Sua tia e sua prima vêm almoçar conosco.

- Minha tia?! Papai, sabe que ela não é bem-vinda aqui.

- Eu sei, mas ela veio conversar comigo ontem e...

- Ontem?! - o jovem foi até seu pai. - Ela esteve na festa?!

- Lunos, apenas me obedeça e se comporte perante ela, está bem?! - de repente, o pai pareceu muito mais velho do que ele realmente era. E o sofrimento em seus olhos era tanto que o príncipe não pode dizer não.

Já em Auryon, o castelo estava a todo vapor: toda a criadagem já estava de pé, bem como a realeza. Solaria já estava acordada fazia tempo, e passeava pelo jardim real que o palácio possuía. Ela adorava o toque das flores nas mãos, bem como a sensação da grama à seus pés.

Por serem reinos vizinhos, Auryon e Everyon eram relativamente próximos: o que os separavam era uma grande área de florestas, com clareiras dentro e delicadas criaturas, mas cuja aparência era tão sombria, à primeira vista, que as pessoas tinham medo de entrar ou passar por perto. Comerciantes e viajantes muitas vezes preferiam rotas mais longas e cansativas para se chegar de um reino a outro, do que realmente ter que cruzá-la.

Mas Solaria, curiosa como sempre fora, apesar dos avisos de ambos os pais para permanecer longe daquele lugar, entrava mesmo assim. Ela encontrava uma paz ali que não era possível ter em lugar algum. Dentro da floresta havia um riacho, com água cristalina e fresca, onde adorava colocar os pés.

Apesar de lá ser seu lugar de repouso predileto, hoje parecia que nem os cantos dos passarinhos, nem o frescor daquela água apaziguavam a inquietude da jovem. Ela dormira mal durante a noite, incapaz de acalmar sua mente em polvorosa. A festa não tinha sido tão ruim, ela concluiu, ainda mais porque o príncipe se desculpou pelo que fizera. Mas ela também não fora santa, e sabia disso dentro dela. Solaria não devia ter sido tão intrometida e entrado no quarto do príncipe, primeiro de tudo. Eu tenho que me desculpar com ele... Será que já estão acordados por lá? Não custa nada fazer uma visita. Sim! Farei isso imediatamente, eu lhe devo desculpas. A jovem ergueu-se da beira do rio e correu de volta para o castelo. Certeza que o rapaz dos estábulos já estava de pé, e ela precisava de seu cavalo para ir até Everyon.

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