-Quantas balas você acha que são necessárias pra fazê-lo calar a boca? – eu me virei para a imediata, e esta tinha uma expressão de desagrado.

-Capitã, está na hora de você superar os seus problemas! Desça lá!

-E se eu não quiser superá-los?

-Você não entende? Talvez essa seja sua única chance! – ela estava gritando e chamando a atenção de toda a tripulação no convés.

-Beatrice, é melhor discutirmos isso na minha cabine. – eu a fulminei com os olhos e desci as escadas, com ela em meus calcanhares. Assim que entramos no cômodo, fechei a porta. – Ficou maluca?! Eu sou a capitã do navio e não posso ser desobedecida ou retrucada! Você pode ser minha amiga de longa data, mas o respeito é bom e mantêm você – eu apontei para ela – dentro desse navio.

Houve um silêncio.

-Perdoe-me. – ela disse finalmente – Eu esqueci minha posição no navio. Não se repetirá.

Silêncio novamente.

-Mas Jacqueline! Você não pode ficar fugindo de cada homem que você vê pela frente! Você vai acabar sozinha!

Estreitei os olhos.

-O que quer dizer? Eu não fujo de ninguém, ainda mais de homens! E qual é o problema de ficar sozinha?! Estou muito bem assim!

Beatrice revirou os olhos.

-Por favor, Jacqueline! Fala um homem de quem você não foge.

-Tudo bem. Apollo nunca me deixou.

-Quem é Apollo?!

Eu ri.

-Meu papagaio! – apontei para o pássaro majestoso no poleiro ao lado da escrivaninha, suas penas um vermelho vivo. Ele respondeu com um "Capitã" um tanto tosco e gargalhei mais alto ainda. – Ele é macho sabia?

-Jacqueline Blackwater!

-O quê? – eu falei enquanto limpava uma lágrima do riso.

-Você sabe muito bem o que eu quero dizer! Já faz anos, não está na hora de você deixar o passado pra trás e viver o presente?!

-O passado nunca nos deixa pra trás, ele sempre fará parte de nós. – eu retorqui, meu humor mudando num piscar de olhos – Não importa o quanto você mude por fora, vai ser sempre a mesma por dentro.

Beatrice suspirou.

-Então talvez esteja na hora de você ser a mesma por fora e por dentro. – ela deu um sorriso fraco – Você pode se surpreender. – Ela se virou para sair, mas quando estava na porta parou novamente. – Você com certeza não é mais a mesma menina aventureira.

-Ela cresceu, Beatrice. Aceite isso.

Ela saiu me deixando sozinha com meus pensamentos. Apesar da raiva, sabia que Beatrice estava certa, como sempre. Ela era minha voz da razão desde que éramos pequenas, ou pelo menos desde que eu me lembro. E tinha ele.

Eu vou te amar pra sempre Jacqueline.

Eu sacudi minha cabeça como para espantar a lembrança e as empurrei para o canto mais afastado da minha mente, numa pequena caixa, e as tranquei ali dentro. Eu tinha coisas maiores com que me preocupar no momento. Por exemplo, o fato de haver um homem trancado numa cela nalgum canto do meu navio não era um fato muito reconfortante. Eu precisava me livrar dele. Fui interrompida com uma batida na porta que me fez saltar da cadeira.

-O que é agora?! – eu gritei para a entrada. A porta abriu revelando uma mulher. – Sim? Não está vendo que eu estou ocupada? – gesticulei para minha escrivaninha, onde estavam dispostos os mapas adquiridos na nossa última pilhagem.

BlackwaterWhere stories live. Discover now