Nightmare

Two

Olhei para a fachada do enorme prédio uma última vez antes de sair do carro. Eu não sabia, mas as coisas iriam piorar depois que eu botasse meus pés naquele inferno capitalista que vendia a ilusão da felicidade.

Não podia acreditar no que estava acontecendo. Era tão surreal, ontem mesmo tudo parecia estar bem, mas isso parece tão distante agora, nossas risadas enquanto eu me alinhava em seu peito, seu sorriso tão sincero e seu jeito fofo, todo preocupado comigo. Quando isso havia mudado, quando Ethan tinha deixado de me amar?

Passei a mão no rosto, tentando limpar qualquer resquício de lágrima e elegantemente segui em direção do prédio, de cabeça erguida, porque se Ethan acha que vou me rebaixar ao seu nível, está muito enganado.

- Posso ajudar em algo? - olhei para a recepcionista simpática que se dirigia a mim.

- Ahm, sim. Eu preciso ver Natalie White - disse com uma voz neutra.

- A senhorita tem hora marcada? - perguntou batendo a ponta de um lápis na mesa distraidamente. Isso geralmente é uma coisa que não me deixa irritada, mas hoje não era um dia normal. Meu noivo não me traía geralmente com sua chefe, ou sim? Não sei, talvez eu seja geralmente muito desatenta para descobrir... Geralmente burra.

- Não, mas é algo importante.

- Oh, sinto em não poder te ajudar - lamentou com uma expressão triste muito convincente.

Ethan era bem convincente.

- Por favor! - pedi juntando as duas mãos em forma de súplica. - Olha, eu juro não demorar, só preciso entregar uma coisa a ela.

A garota, de no máximo 25 anos, coçou a cabeça claramente indecisa.

- Bem, eu posso te deixar passar, mas realmente não sei onde a Sra. White se encontra e nem se está ocupada, está ocorrendo uma reunião muito importante para fechar negócio com uns chineses, não, japoneses, acho que é isso, e bem, a Sra. White que os recepcionou, não sei se ela está em reunião no momento. Você poderia falar com a secretária dela, mas não garanto nada e... - começou a divagar de forma fofa.

- Eu posso... - cortei sua tagarelice e ela pereceu envergonhada ao perceber o que estava fazendo. - Só entrar? - a garota assentiu. - Okay, obrigada.

Fui até o elevador, mas antes de fazer qualquer coisa me virei confusa.

- Você sabe em que andar ela se encontra?

- Não no momento, mas a presidência é no último andar.

Óbvio, sempre é. Quando as pessoas dizem que querem subir na vida elas se referem a isso, quanto mais alto o andar melhor é o cargo e maior é a chance de converter sua vida a uma sem escrúpulos e valores.

Não me leve a sério no momento, eu apenas não estou bem.

Enquanto esperava o elevador me levar ao andar desejado repassava tudo o que tinha que dizer, não queria parecer a noivinha chifruda, queria sair por cima nessa história, se Ethan achou mesmo que me faria de idiota ele está muito enganado. Eu posso ter sido otária até agora, mas só até agora.

Respirei fundo quando as portas se abriram e caminhei pelo corredor tentando parecer o mais calma possível. O lugar era maravilhoso, esbanjava classe e elegância, será que era isso que Ethan queria todo o tempo? Uma mulher rica, que vivia em festas da alta sociedade, ao invés de passar os finais de semana afundada em um sofá fazendo maratonas de séries e se acabando em um balde de frango frito?

Eu sou patética.

Encontrei uma sala de espera muito aconchegante e exageradamente grande para no máximo cinco escritórios.