Capítulo 1

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Quando somos crianças sempre sonhamos em ser adolescentes e, quando finalmente somos adolescentes, sonhamos em ser adultos. A questão é que sempre queremos ser mais do que somos. Sempre desejamos ser mais. E, talvez, isso não seja preciso.

A verdade é que eu não queria ser rainha

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A verdade é que eu não queria ser rainha.

Quero dizer, não tão de repente, não da forma como eu fui. Sabia que em algum momento assumiria o trono por ser a única filha dos reis, claro, e sempre desejei assumi-lo. Por muito tempo de minha vida, sonhei com o dia que usaria a Coroa.

Mas fora cedo demais. Repentino demais. Meus pais haviam me deixado quando eu tinha 17 anos e então fui obrigada a assumir o trono russo sozinha.

A maioridade no reino era com essa idade, então ninguém contestou nada relacionado a isso na ocasião. Aliás, provavelmente a maioridade no reino passou a ser 17 anos porque alguém ameaçou a monarquia em algum momento e tiveram que dar a um adolescente a responsabilidade de cuidar de um reino inteiro.

Tudo para a manutenção da dinastia Korona e do sangue dos Romanov. Grande sorte a minha.

Minha história de vida pode ser resumida por isso: assumi o trono da Rússia e tudo virou de cabeça para baixo. Nada mais fora igual depois disso.

Ninguém confiava que uma menina de 17 anos saberia governar um reino inteiro, sem nenhuma instrução prévia e específica.

Mas não se enganem com isso.

Era incrível que essa fosse a justificativa dos parlamentares, visto que eu estudei toda uma vida unicamente para assumir o trono. Foram horas dentro da biblioteca do castelo estudando a arte de governar e de guerrear. Anos.

Estudei história, filosofia, táticas de guerra, tudo. Era incrivelmente triste sentir-se descartada somente por não ter a idade considerada suficiente para eles quando eu tinha tanto conhecimento.

Ser mulher era ainda mais complicado. Muita coisa mudou ao longo dos anos — e as mulheres tiveram força para fazer essas mudanças — mas o trono ainda era um lugar quase que exclusivamente masculino na maioria dos países.

Havia a rainha do Reino Inglês, claro, mas a tradição inglesa passava pela linhagem feminina. A Rússia não era específica em relação a essa tradição, portanto, seria até mesmo aceitável que, se eu tivesse um irmão, ele assumisse o trono no meu lugar.

O fato é que assumir o trono era algo meramente simbólico. Manter a dinastia intacta era o que era essencial. Então, na verdade, tudo isso de não me querer sozinha cuidando do reino era um preconceito enorme, visto que homens já haviam assumido o trono quando tinham menos do que 17 no nosso reino para que não houvesse um rompimento da linhagem.

Era uma busca de interesses. Não vou negar que eu havia, primeiramente, aceitado o Parlamento como uma opção. Veja bem, minha vida estava uma bagunça e não sabia se aguentaria toda a pressão de governar.

A Coroa de Prata - DegustaçãoWhere stories live. Discover now