Capítulo 3 - Decisão

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Vou deixar a vida me levar pra onde ela quiser. Seguir a direção de uma  estrela qualquer. É, não quero hora pra voltar, não. ♫ (Vou deixar, Skank)

ALICE

— O que, Maria Claudia Bittencourt? — pergunto aos berros.

Não sou de gritar, mas nossa... Estou quase entrando em pânico. Eu sei o quanto Claudinha odeia que digam o nome dela completo, pois não gosta de ser estereotipada como um membro da família mais tradicional da zona sul do Rio de Janeiro, e faço de propósito. Espero uma explosão de raiva por parte da minha amiga, porém, não vem. Preciso respirar, me acalmar e perguntar de novo para ver se entendi bem. Ela está na defensiva, o que não é comum, e baixa o tom de voz.

— Calma, Alice. É só uma ideia. Pode parecer ridícula agora, mas te fará bem. Tu sabe que eu curto você pra caralho, apesar de sermos tão diferentes. Pare de romantizar as coisas, isso não existe!

— E você acha que a melhor forma de deixar de acreditar no amor é, simplesmente, transar com um garoto de programa? — berro novamente.

É tão absurda essa proposta dela que me tira totalmente do sério. Até parece, eu nunca faria isso. Apesar de tudo, ainda acredito no amor e no meu "felizes para sempre". Tem que ter alguém neste mundo feito para mim. Eu sei!

— Não é qualquer garoto de programa, Alice. Eu o conheço.

— Meu Deus, Claudinha. É sério isso? Devo estar num pesadelo horrível, dormindo desde quarta-feira, e o ápice é agora. Você quer que eu tenha minha primeira vez com um dos seus garotos? —questiono com os olhos marejados.

— Cala a boca, Alice! Não é nada disso. Eu nunca tive nada com o Murilo, ele é o melhor amigo do Max.

Max. Há tempos não falamos esse nome, está na lista dos assuntos proibidos. Desde que conheço Claudinha ela é essa garota destemida, sem papas na língua e envolvimento sério com ninguém. Mas não foi sempre assim.

No dia em que entrei na faculdade, estava me sentindo um peixe fora d'água. Vinda de uma cidadezinha de pouco mais de 10 mil habitantes, no interior de São Paulo, para uma das cidades mais procuradas do país. Nos primeiros dias fiquei na minha e tentei canalizar meu tempo nos estudos, conversando apenas com poucas pessoas da sala e praticamente não saindo da república.

Eu não queria morar em uma república devido à fama horrorosa desses espaços compartilhados. Entretanto, sem dinheiro para alugar algo sozinha foi a única opção. Por sorte, divido apenas com duas meninas. Uma fica mais na casa do namorado do que lá, e a outra está no último ano, atolada com o TCC. Minha mãe tinha até pesadelos comigo bêbada, ou até mesmo me drogando e ficando com qualquer um. Como se não me conhecesse, sou igualzinha a ela. Uma eterna romântica certinha.

Tanto quanto quero me apaixonar perdidamente por alguém, quero alcançar o sucesso profissional. Distrações fora desse padrão não são bem-vindas. Graças a Deus, foco é algo constante na minha vida. Sou metódica e muito organizada, prezando por saber todos os meus passos e aonde eles vão me levar. Essa determinação toda no começo foi mais importante do que poderia imaginar, pois mesmo tendo acabado de ingressar na faculdade de Administração em uma federal, consegui estágio numa excelente empresa de tecnologia.

O dia em que fui entregar minha papelada de estágio na secretaria, no terceiro mês frequentando a UFRJ, foi quando a conheci. Uma loira baixinha de olhos azuis, linda e estilosa. Não que aquele fosse meu estilo, longe disso, mas não podia negar que as roupas escandalosas e coloridas dela tinham seu charme. Esbarrei com Claudinha perto da reitoria, de onde saiu pisando duro e xingando alto para todo mundo ouvir.

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